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Ofertar ambientes multissensoriais, ricos em diversidade de experiência é uma das propostas do Colégio Positivo
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Empresas demandam mão de obra cada vez mais qualificada numa dinâmica de contratações urgentes. Trata-se de um movimento contrário à proposta de instituições experientes do setor da educação, de formar profissionais de maneira consistente, que possam se adaptar às transformações digitais, com base no conhecimento como alicerce para novos processos de aprendizagem. Essa dicotomia requer um necessário diálogo para alcançar o equilíbrio, em tempos pautados pelo metaverso, uma espécie de universo virtual 3D que, segundo alguns, será o futuro da internet.

A aprendizagem ao longo da vida já é tema pacificado. Todos que atuam na educação sabem que o processo de formação é contínuo e está sempre em marcha. Porém, esse caráter emergencial em que as organizações solicitam atualizações não pode direcionar a formação básica mais importante.

É comum vermos o setor público e o privado oferecerem cursos rápidos de tecnologias, como de linguagem Python, de inteligência artificial e de Internet das Coisas, entre outros, para jovens e adultos sem conhecimentos prévios e sem base para a construção de um plano de aprendizagem e formação para o mercado de trabalho.

Cabe incluir no debate o papel de todas as organizações que buscam preparar jovens e adultos como profissionais competentes e habilitados a executar funções e atividades de valor no ambiente corporativo.

O volume de treinamentos e capacitações tem, por vezes, ajudado a formar assertivamente algumas dezenas de treinados com boa base prévia e com desempenho profissional regular. Mas eles são a exceção. A maioria apresenta um resultado medíocre justamente pela falta de base e premissas do conhecimento lógico e matemático necessários.

Uma analogia que pode ser feita é comparar um estudante com um cidadão que sonha em se tornar atleta. Antes de começar a praticar qualquer modalidade esportiva, é preciso desenvolver um plano de atividades de reforço muscular. Para isso, é feito um diagnóstico da capacidade de carga de suas estruturas corporais, e só então o candidato é submetido à estratégia adequada, que visa promover melhorias físicas para transformá-lo no tempo certo em um profissional. Pular etapas do processo é se esforçar em vão e ainda pode prejudicar ao causar lesões, por exemplo.

Assim é a formação ágil sem base prévia, análoga também à realidade virtual promovida por ferramentas como óculos e criaturas que representam seus jogadores digitais. É um personagem fictício que tem características que o usuário não tem.

Nesse cenário, cabe incluir no debate o papel de todas as organizações que buscam preparar jovens e adultos como profissionais competentes e habilitados a executar funções e atividades de valor no ambiente corporativo. Isso porque atuar nessa “virtualidade” tira a responsabilidade dos atores. Além disso, esconde as suas reais dificuldades para aprender efetivamente. E não se trata aqui de uma ferramenta ou uma linguagem, mas sim de processo, uma estrutura de programação, uma lógica de operação.

Qual a diferença para os casos de quem deseja se tornar programador front end, back end ou mesmo operador de máquina de produção contínua? Sem conhecimento prévio tecnológico, dos recursos a serem aplicados, da base matemática e lógica de cada uma das atividades, os cidadãos não se transformarão em profissionais habilitados, capazes de pensar e inovar, mas apenas repetidores de regras já estabelecidas.

Assim, se a agilidade é essencial no mundo dos negócios na era da informação e do metaverso, o respeito às limitações para fortalecer um plano de estudo e de transformação de saber em atitudes para consolidação do aprendizado também é crucial.

É muito importante pensar num mundo real que seja efetivamente ocupado por profissionais competentes, que façam bom uso das ferramentas tecnológicas para transformar a realidade em prol da civilização. E não o contrário: a manipulação da realidade para transformar o olhar da sociedade para o bem das corporações, que se beneficiam com a falta de conhecimento real e aplicado.

Francisco Borges é mestre em Educação e consultor da Fundação FAT em Gestão e Políticas Públicas voltadas ao Ensino.

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