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Ver uma escola ganhar uma das categorias do Prêmio Bem Feito no Paraná chamou a atenção de muitas pessoas. A premiação abriu oportunidade para mostrar que a organização escola, salvas suas particularidades, também é uma empresa e precisa atingir objetivos, sobreviver, dar lucro e entregar valor para a sociedade; por isso, precisa de gestão empresarial. Escolas necessitam, na dose certa e nas áreas corretas, ser mais modernas, profissionalizadas e adequadas aos dias atuais. Precisam também de gestores competentes, visionários e capazes de estipular uma estratégia de mercado que vá além da proposta pedagógica.

Mas por que ainda é tão difícil tornar a escola uma empresa de referência em gestão? Primeiro, as escolas não são empresas comuns. A própria literatura específica de administração já as classifica como "organizações complexas" e alerta que não são todas as áreas que podem ser profissionalizadas e controladas. Segundo, sua principal área, a pedagógica, é formada por um grupo profissional altamente heterogêneo, crítico e sensível a mudanças, o que dificulta alinhamento e consenso entre as diretrizes pedagógicas e administrativas. Terceiro, o produto em questão nas escolas não é tangível, padronizável e de fácil mensuração. O conhecimento é algo complexo e de construção criativa, sem uma lógica pré-determinada.

Mas o que se busca é gestão que equalize essa complexidade da escola com os resultados que precisam ser revertidos à sociedade, e a questão é que mesmo o básico não tem sido feito. As escolas têm limitado sua prestação de serviços e sua gestão apenas à esfera pedagógica, negligenciado áreas-chave como segurança, comunicação, atendimento, limpeza, infraestrutura, manutenção, capacidade de resposta, redes sociais e parcerias, esquecendo que os pais escolhem uma escola pelo mix de seus benefícios e avaliam as instituições em vários aspectos, além do preço. Hoje, a gestão escolar de referência passa pela avaliação cautelosa e adequada de todos os processos, incluindo os pedagógicos, administrativos e de apoio, na medida em que suportam indicadores, já que alguma delas – a pedagógica, por exemplo – exige outras formas de avaliação mais específicas acerca do desempenho dos professores e do processo de ensino-aprendizagem.

A verdade é que as escolas, geridas essencialmente por professores, ainda têm focado apenas no ensino e esquecido desses outros fatores críticos de sucesso. Seus sistemas de gestão ainda são altamente burocráticos, redundantes, obsoletos e lentos, carregados de dados e não de informações estratégicas sobre a escola. A gestão da informação com pais, alunos e professores, advinda de uma linguagem pedagógica, ainda não é clara, pouco disseminada e pouco objetiva quanto a metas e resultados dos projetos pleiteados. A gestão empresarial deve ocorrer em tempo real para permitir que os gestores tomem medidas corretivas o mais rápido possível e a estratégia empresarial possa ser conhecida e praticada do zelador ao diretor, sob pena de fracasso gerencial da escola.

Portanto, antes de tudo, é preciso reconhecer que escolas são empresas de tipo e gestão especial e que modelos genéricos da administração não se adequam, pois sua realidade é muito mais complexa que a de uma linha de produção. É preciso administração estratégica que concilie aspectos pedagógicos com estruturas de apoio, formação continuada direcionada e inovações em todos os setores, com mudanças incrementais e não abruptas.

O fim disso tudo é uma gestão profissional e meritocrática, sem amadorismos. Assim, ganham alunos, professores, pais e sociedade. Em um ano no qual o lema do governo é "Brasil: Pátria Educadora", começar pela gestão das escolas seria um excelente primeiro passo.

Haroldo Andriguetto Junior, mestre em Administração pela PUCPR, é coordenador-geral da Escola O Pequeno Polegar, ganhadora do Prêmio Bem Feito no Paraná, categoria serviços.

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