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O tempo desperdiçado pelo presidente-reeleito – com a velha balda de empurrar as dificuldades com a barriga, na esperança de que as complicações se resolvam pelo cansaço – bate à porta as pancadas da aflição com o acúmulo de problemas e não mais que uma semana útil para montar o novo governo, antes da dispersão dos principais atores da comédia das barganhas e acertos para passar as festas do período natalino nas suas bases eleitorais e junto à família, que foge de Brasília como o tinhoso da cruz.

Na coceira das indefinições, o governador do Acre, Jorge Viana, petista dos mais enquadrados, amaciou o que pôde na cobrança da urgência. Alisa o pêlo no afago da desculpa: "É certo que o presidente queria uma transição tranqüila, mas o tempo é escasso". Faz a conta nos dedos: "Na prática, só há mais uma semana para acertar como começa esse segundo mandato, e como será a participação dos partidos".

A correria no ritmo de atleta de calçadão não promete grandes avanços.

A reunião do Conselho Político, com mais pompa do que agenda, comprime-se entre o infalível e longo improviso presidencial repisando as obviedades que sobraram da poda das promessas da campanha eleitoral, com o apelo à unidade do bloco governista e a reprise da disposição de agasalhar a todos debaixo das asas na distribuição dos 35 ministérios e secretarias, noves fora o seu lote pessoal.

Mais não se deve esperar. Pois, é de solar evidência que o presidente não pode abrir o debate sobre a partilha de ministérios e demais quitutes do tabuleiro do poder, para o plenário composto pelos presidentes de todos os partidos já cooptados para compor a sua base parlamentar. Seria briga na certa, com risco de pancadaria.

Apelos à unidade, ao congraçamento de aliados para a grande arrancada do bis do mandato que tampe os rombos dos fracassos do primeiro (que o presidente deu por encerrado um mês antes do calendário gregoriano), podem ajudar a montar a agenda para a dezena de dias úteis com acúmulo de tarefas inadiáveis: bater o martelo na oferta do quinhão de cada um, com a contrapartida da conformada aceitação do mimo e a entrega da lista tríplice dos partidos para cada escolha presidencial.

Qualquer dos muitos e previsíveis enguiços na partilha do bolo podem obrigar o presidente ao constrangimento de tomar posse, na solenidade em que entregará a faixa presidencial a ele mesmo, com alguns ministros do primeiro mandato: lenços guardando a vaga para os substitutos ainda não escolhidos.

Enquanto arrumava as pedras do tabuleiro sem começar a partida, Lula não prestou atenção aos sinais de advertência das cobranças e denúncias de erros do "maior governo da história deste país". Não apenas das sacudidelas da oposição, mas o pito dos aliados. A dinheirama dissipada na caça ao voto seja em obras de emergência ou na tapeação do tapa-buraco falta na montagem do Orçamento para o próximo ano. O sub-relator setorial de Infra-estrutura, deputado Pedro Novais (PMDB-MA), que caiu nos braços do governo, destacou R$ 8 bilhões para investimentos em Transportes, Minas e Energia e Comunicações.

Justificou as altas somas com rude franqueza: "Este ano tem de ser diferente. Esse negócio de Bolsa-Escola foi legal no período eleitoral, agora não cola mais, É preciso investir para gerar empregos".

Se o cobertor está curto, a demagogia dá para o gasto. E sobra.

Imaginoso, Lula apelou para a explicação das suas contradições ideológicas.

É tudo uma questão de idade, "de evolução da espécie humana". Teoriza: quem é de direita, vai ficando mais de centro. Na contramão, quem é mais de esquerda, vai ficando mais social-democrata. Uma questão de mais ou menos cabelos brancos.

Na impostura das desculpas sobe ao céu no desatino a do ministro da Defesa, Waldir Pires que, sem mais explicações para a maior crise da aviação civil da história deste país, apelou: "só muita fé e reza" evitarão um apagão no fim do ano.

Estamos avisados: a culpa será da corte celestial.

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