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A redução observada nas taxas de inflação ao longo dos últimos meses deve ser comemorada. A inflação que tendia a superar os 10% ao ano agora converge para o centro da meta de 4,5%. Um conjunto de fatores explica este resultado. O principal, sem dúvida, foi o abandono das políticas populistas e a retomada de uma política monetária comprometida com a estabilidade. O regime de metas de inflação demonstrou mais uma vez que, quando tratado com seriedade, é capaz de conter as pressões inflacionárias. Hoje podemos dizer que a perigosa armadilha estagflacionista (a combinação de recessão com alta inflação) ficou para trás.

A convergência da inflação para o centro da meta e a afirmação do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, segundo o qual “o Brasil poderá ter, no longo prazo, uma meta de inflação de 3%” animaram um debate sobre a pertinência de reduzir as metas de inflação. Vale lembrar que a reunião do CMN de junho definirá a meta para 2019.

A fala do presidente Goldfajn não significa uma defesa de uma meta de 3% ao ano já em 2019. Longo prazo, para os economistas, tem um significado bastante particular; grosso modo, é o tempo lógico necessário para que os ajustes econômicos sejam processados e a economia alcance sua posição de equilíbrio.

A melhor coisa que o Banco Central e o CMN podem fazer é evitar saídas mágicas

A questão é a independência do BC

Se dermos independência ao BC, uma meta menor não é somente factível, como exequível a um custo muito menor em termos de juros

Leia o artigo de Leonardo Palhuca e Victor Candido de Oliveira, editores do site Terraço Econômico.

As condições atuais e as expectativas sobre o comportamento de nossa economia para os próximos anos inviabilizam uma meta de 3% ao ano para 2019. Atravessamos hoje a pior recessão da história e as expectativas mais otimistas – se as condições políticas permitirem – para os próximos anos são de uma recuperação lenta e gradual da atividade econômica e do emprego. A definição de uma meta muito apertada para 2019 poderia implicar na adoção de políticas monetárias restritivas com alto custo social.

A convergência da inflação para um patamar de 3% ao ano no longo prazo, assim como a queda substancial da taxa de juros real, depende essencialmente da melhoria na gestão das finanças públicas. A resolução do grave problema fiscal brasileiro é condição necessária, ainda que não suficiente, para promover a convergência das variáveis inflação e juros reais para os patamares verificados nos países mais desenvolvidos. Vale lembrar que, dado o tamanho do desajuste, as expectativas atuais dão conta de uma elevação da dívida pública até 2019 para algo entre 85% e 100% do PIB.

A melhor coisa que o Banco Central e o CMN podem fazer é evitar saídas mágicas ou ter arroubos para apressar o processo de ajuste econômico em curso. Como dito, saímos da armadilha estagnacionista ao deixar de lado o experimentalismo populista. A queda da inflação permitirá a redução na taxa de juro e a recuperação gradual do nível de atividade e emprego. O retorno de experimentalismos sem base nas evidências da teoria econômica ou o desejo de apressar certos processos, ainda que possam fazer parte do cálculo político-eleitoral que mira 2018, seriam fatais para o processo de ajuste em curso.

O mais provável (e saudável) para a economia é que o CMN, em sua reunião de junho, promova um pequeno ajuste na meta de inflação. A definição de uma meta mais baixa (entre 4% e 4,25%), assim como uma redução na banda de variação, pode reforçar o compromisso com a estabilidade. Neste momento devemos ter muita prudência na condução da política econômica.

Marcelo Curado é professor do Departamento de Economia da UFPR.
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