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Praia em Tel Aviv, Israel. | /Pixabay
Praia em Tel Aviv, Israel.| Foto: /Pixabay

Décadas de pregação esquerdista conseguiram infundir na população brasileira duas crenças sobre o mercado: a primeira, que o mercado livre é desumano; a segunda, que as intervenções do governo corrigem falhas do mercado e beneficiam o povo. Grande parte das pessoas que acreditam nisso nunca estudou como funciona o mercado e seu papel no sistema de produção, distribuição, consumo e investimento; e quando não conhecemos um assunto, nossa opinião depende de gurus, políticos, jornalistas... ou seja, terceirizamos nosso cérebro e a capacidade de estudar e pensar por conta própria.

O problema da oferta de água doce no mundo está eivado desse tipo de circunstância. Estudos informam que, nas últimas cinco décadas, o volume de recursos hídricos renováveis por pessoa caiu de 13,4 metros cúbicos para 5,9 metros cúbicos, em parte devido ao crescimento da população mundial. O mundo atingiu 1 bilhão de habitantes em 1830, chegou a 2 bilhões em 1930, bateu 3 bilhões em 1960, viramos o milênio em 6,3 bilhões, hoje somos 7,5 bilhões e chegaremos a 9,4 bilhões em 2050.

Embora 71% da superfície da Terra seja coberta por água, somente 3% da água existente é água doce, e não há distribuição igualitária entre as regiões. O Brasil, com 2,75% da população mundial, tem 22% da água doce do planeta. É um presente da natureza. Há regiões castigadas por secas, como o norte da África e o Oriente Médio, cuja solução dependerá de processos economicamente viáveis de dessalinização da água salgada (separar as partículas de sal das moléculas de água).

Em economia, subsídios e benefícios, que à primeira vista parecem ser favoráveis ao povo, muitas vezes têm consequências ruins

O que isso tem a ver com o mercado? Em economia, subsídios e benefícios, que à primeira vista parecem ser favoráveis ao povo, muitas vezes têm consequências ruins. Enquanto o preço do petróleo era barato (até a crise de 1973, quando o preço do barril subiu de US$ 3,10 para US$ 14,00), já se sabia que o petróleo é um recurso esgotável e poluente. Entretanto, pouco se investia em energias alternativas – como a solar e a eólica –, porque era economicamente inviável fazê-lo.

A partir da segunda crise, em 1979, quando o barril pulou para US$ 28,00, o mundo começou a investir em outras formas de energia... menos nos países que passaram a subsidiar o consumidor. A lógica do mercado, livre de intervenção do governo, é que a escassez de um produto faz os preços subirem, preços altos geram incentivos para a busca de inovações, as inovações criam novas soluções, e estas levam à abundância. Porém, se o governo resolve subsidiar o consumidor, os preços são mantidos artificialmente baixos e retardam a busca de soluções.

Israel, país castigado pela falta de água doce, oferece exemplo virtuoso de um país que, nessa questão, conseguiu resolver o problema por meio de duas práticas eficientes: o respeito à economia livre de mercado e o investimento na pesquisa científica. Israel saiu na frente e é pioneiro na solução tecnológica financeiramente viável para a dessalinização da água, a ponto de a água doce consumida pelos israelenses ser 48% mais barata que a água doce consumida pela população de Los Angeles.

Rodrigo Constantino: A solução de Israel para a falta de água (publicado em 8 de agosto de 2018)

Leia também: As razões para Israel deixar a Unesco (artigo de Szyja Lorber e Ari Zugman, publicado em 17 de outubro de 2017)

Até por volta de 2015, Israel já supria 55% do consumo doméstico de água por meio da dessalinização e, atualmente, essa taxa já estaria perto de 80%. Ou seja, um dos países mais secos do mundo se torna pioneiro na solução do problema da água porque não adotou práticas demagógicas, como subsidiar os consumidores, coisa que, ao baratear um produto escasso, satisfaz o populismo político, mas desestimula as empresas e o governo a buscarem soluções capazes de resolver a essência do problema, que é a escassez imposta pela natureza.

A Tesla, empresa ousada em pesquisa e inovação, recentemente teve suas ações subindo nas bolsas de valores, e uma das razões é ter se tornado eficiente na produção de automóveis elétricos. A empresa vendeu 100 mil unidades no Canadá, com tecnologia moderna capaz de enfrentar a subida dos preços do petróleo e o esgotamento das reservas. Se os governos do mundo resolvessem subsidiar os consumidores de gasolina e diesel, as pesquisas e as inovações para soluções alternativas seriam financeiramente inviáveis.

O caso de Israel, na questão da água, é um exemplo de como o progresso é possibilitado pelo respeito à liberdade econômica, à propriedade privada e ao mercado livre. Há pouco tempo, o embaixador de Israel no Brasil teve reunião com autoridades locais para disponibilizar a tecnologia para nosso Nordeste, e mais: talvez, no futuro, a humanidade venha a ler nos livros de história que a paz entre Israel e os Árabes foi obtida não por mísseis e fuzis, mas pela água potável produzida por Israel e fornecida aos países árabes vizinhos. É sonho? Pois neste momento já estão sendo feitos esforços diplomáticos para concretizar a proposta.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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