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Cidade de Tel Aviv.
Cidade de Tel Aviv.| Foto: Pixabay

Em Israel, o número de empresas focadas em inovação impressiona. O país é formado por pouco menos de 9 milhões de habitantes e consegue ter um dos maiores investimentos de venture capital per capita do mundo. Para efeito comparativo, a cidade de São Paulo tem hoje por volta de 12 milhões de habitantes. Tendo em vista esse tamanho de mercado, as empresas israelenses já nascem desenvolvendo produtos e serviços globais. Prova disso é que Israel é o segundo país com maior número de companhias listadas na Nasdaq. Mas o que faz Israel ser esse celeiro de inovação?

Em agosto deste ano, levamos 25 executivos a Israel para um programa de intercâmbio. Durante os dias em que estivemos lá, conhecemos diversas empresas e centros de inovação, o que fez com que vivêssemos essa realidade de incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias. O que essa experiência me fez compreender é que o sucesso de Israel está enraizado na cultura em três grandes pilares: necessidade, diversidade e chutzpah.

Atualmente, Israel trata de 80% a 90% da água de esgoto, que inclusive é utilizada para irrigar plantações no deserto

Um exemplo claro mostra como a necessidade estimula o ambiente de inovação. Israel é um país formado por 60% de áreas desérticas, o que traz um problema sério de recursos hídricos. Para suprir essa necessidade, o país desenvolveu a maior usina de dessalinização do mundo, em Tel Aviv. Além da dessalinização, eles também criaram o maior sistema de reutilização da água com processo de logística reversa do mundo. E, atualmente, Israel trata de 80% a 90% da água de esgoto, que inclusive é utilizada para irrigar plantações no deserto. Essa e outras novas tecnologias fizeram com que o país também contasse com uma agricultura bem desenvolvida – o que vai na contramão do que é naturalmente possível pelas condições do solo.

Mas não há nada que exemplifique melhor essa cultura de inovação que o chutzpah. Quase que uma antítese do "homem cordial" cunhado por Sérgio Buarque de Holanda, a palavra de origem iídiche (dialeto alemão falado pelos judeus europeus) é uma característica comportamental israelense que significa audácia, atrevimento e um desafio constante do statu quo. Em outros lugares (como o Brasil) isso pode até soar arrogante, mas em Israel esse comportamento está no centro de uma cultura que estimula o pensamento criativo e a tomada de riscos.

Essa característica cultural está em todas as instâncias de uma sociedade que se empenha em inovar. E, atrelado a isso, existe um ecossistema formado por investimento forte em educação, governo orientado para inovação e investimento do setor privado. Inclusive, muitas empresas, conhecidas como aceleradoras, investem e apoiam o crescimento de startups no país.

A realidade na educação é muito inspiradora e demonstra bem esse ecossistema de Israel. As universidades têm centros de inovação e fazem parceria com empresas. Dessa forma, muitas das pesquisas e projetos desenvolvidos recebem royalties e alguns, inclusive, são ganhadores do Prêmio Nobel. De acordo com o Relatório Global de Competitividade de 2018 do Fórum Global Econômico, Israel é o país que mais investe em pesquisa e desenvolvimento, totalizando 4,3% do seu PIB.

Diante desse cenário de estímulo à inovação, como aplicar tal modelo no Brasil? Infelizmente, nossa realidade política e educacional ainda não comporta esse tipo de ecossistema. Porém, dentro das empresas é possível, sim, aplicar essas lições, criando uma cultura interna de inovação em todos os seus níveis. E os empresários brasileiros, principalmente, devem estimular que seus funcionários tenham sempre dentro de si o chutzpah israelense – a audácia e coragem de desafiar paradigmas e pensar em novas soluções.

Alex Leite, mestre em Administração, é diretor educacional da Live University.

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