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Vivemos novos tempos dentro da prática jornalística – e, arriscaria dizer, bons momentos. A declaração pode parecer estranha para os leitores que, por uma razão ou outra, sustentam um certo discurso saudosista de crise do jornalismo e, de modo geral, da mídia. Aos adeptos dessa visão apocalíptica, os argumentos são incontáveis: programas espetaculares, reportagens montadas, superexploração de casos que, por si só, talvez não causassem tanta repercussão.

Porém, é preciso identificar nesse posicionamento crítico um sinal bastante positivo de um novo cenário frente às relações mantidas entre a sociedade e seus meios de comunicação. De forma cada vez mais evidente, podemos observar a configuração de um fenômeno interessantíssimo: o fato de que, ao longo do tempo, temos adquirido novas competências para avaliar as mensagens que nos são oferecidas pelos meios e, mais do que isso, possuímos e dominamos novas ferramentas para expressar publicamente nossa resposta ao que nos é dito pela imprensa.

Aos meios de comunicação, não é mais permitido ignorar a força da resposta de seus interlocutores – o público. Não é pouco. Essa constatação supera uma polaridade que sempre cercou nossa concepção sobre os meios de comunicação (como se a mídia pudesse ser simplificada em uma mera relação entre emissores de mensagens e seus destinatários, eternamente distanciados um do outro).

Hoje observamos a existência real de uma recepção ativa, pronta e preparada para responder e reagir socialmente ao que concorda ou não concorda. Uma empresa, por exemplo, não pode mais desconsiderar a força de um solitário consumidor descontente com seu produto, pois esse único comprador, em pouco tempo, conseguirá unir-se a tantos outros e criar sua própria mídia (como em um blog) para expressar seu aborrecimento – basta ver a quantidade de comunidades "Eu odeio a empresa X".

A crítica sobre a mídia, portanto, é decorrência de uma espécie de aprendizado em público que nos equipa com aptidões para sabermos o que esperar de nossos veículos – e, conseqüentemente, o que cobrar. Em razão disso, podemos hoje nos considerar espectadores mais maduros, capazes de criar nossos próprios espaços de enfrentamento e resistência, participando efetivamente do processo midiático. E quais são esses espaços destinados à resposta do público? Pode-se tanto pensar nos lugares históricos – seções de cartas dos leitores, as críticas culturais, as ligações para os programas de rádio, os conselhos de leitores nos jornais – quanto nos novos meios que fazem ecoar a opinião sobre a mídia – os citados blogs, as listas de discussão, os sites especializados sobre crítica, ou a preciosa, mas pouco explorada, função do ombudsman nos jornais.

Obviamente, deve-se fazer a ressalva de que constatar que a existência de um sistema social de resposta à mídia não significa que o público já esteja de fato preparado para fazer os melhores usos possíveis do que lhe é oferecido por seus meios de comunicação. Afinal, é preciso notar que nem toda crítica é elevada para além do senso comum – visto que sabemos que é muito fácil assumir (inclusive na academia!) a postura do tipo "Eu odeio Faustão", ainda sem conseguir apresentar motivos alheios à questão de gosto ou da ‘moda’ (já que assumir uma posição contrária seria, aí sim, associar-se à "massa"). Porém, ainda que nossas competências interpretativas estejam em processo de sofisticação, não podemos negar a existência desse novo fenômeno: a capacidade de, por fim, conseguirmos enfrentar a mídia.

No próximo dia 29, a Unibrasil realizará o II Ciclo de Debates sobre Jornalismo e Novas Produções Universitárias, discutindo o tema "O andar da crítica: atuações qualificadas sobre a mídia". Entre os convidados, estará um dos maiores pesquisadores sobre a mídia no Brasil, o professor José Luiz Braga, que, de forma pioneira, propôs a configuração de uma terceira instância no processo de interação com a mídia: o sistema da resposta. Em suas palavras, "a sociedade não apenas sofre os efeitos, nem resiste pontualmente, mas se mobiliza para enfrentar sua mídia". Cabe ao público – protagonista desse processo – refletir sobre as maneiras de fazer um bom uso de seus meios.

Maura Martins, jornalista e mestre em Ciências da Comunicação, é coordenadora do curso de Jornalismo da Unibrasil.

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