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O esgotamento do modelo político, social e econômico utilizado desde a redemocratização e o processo de desagregação que contamina o país exigem mais do que um plano de desenvolvimento; demandam um mapa para a sobrevivência nacional. Mas nossos líderes parecem concentrados apenas na popularidade de seus candidatos para viabilizar sua eleição, e não no que eles oferecem para impedir a desagregação e iniciar a marcha ao futuro de um Brasil que desejamos.

Um item fundamental do mapa da sobrevivência nacional é a recuperação da credibilidade dos políticos e dos juízes, o que implica sobretudo na mudança de comportamento, com o fim de todas as mordomias e do foro privilegiado, além da valorização do mérito na escolha dos ministros e auxiliares. Faz parte desse propósito o combate radical à corrupção.

O candidato deve mostrar compromisso e competência na capacidade de fazer a gestão eficiente do Estado

Outro item é o enfrentamento da guerra civil, ou incivil, que o país sofre. O próximo presidente deve definir as táticas para prender todos os bandidos do presente, mas também a estratégia para encerrar a fábrica de criminalidade e construir a paz. Precisa cuidar da manutenção do imenso edifício da assistência social baseado em transferências de renda, ao mesmo tempo em que define ações que permitam ao Brasil construir um sistema econômico com alta produtividade e elevada empregabilidade. Isso permitirá que no médio prazo raros brasileiros precisem da assistência por causa da pobreza.

É dever, ainda, assumir o compromisso de responsabilidade fiscal e de não tomar decisões que abatam a eficiência do sistema econômico, lembrando que não há justiça social sem economia eficiente. O presidente dos próximos anos tem de definir o mapa para eliminar, em prazo previsível, a vergonha da dupla tragédia da persistência da pobreza social e da péssima distribuição da renda nacional.

Leia também: Responsabilidade ou populismo (editorial de 14 de janeiro de 2018)

Leia também: Ajuste fiscal: o debate necessário na campanha eleitoral (artigo de Adolfo Sachsida, publicado em 21 de fevereiro de 2018)

O caminho para o Brasil adquirir uma economia com a necessária produtividade e a distribuição justa de seu produto vai exigir uma revolução na educação de base que permita eliminar o desastre da pobreza e construir uma sociedade harmônica. O mapa de sobrevivência deve instituir medidas que permitam construir um sistema educacional onde os filhos dos mais pobres disponham de educação com a mesma qualidade dos filhos dos ricos. Além do mapa, o candidato deve mostrar compromisso e competência na capacidade de fazer a gestão eficiente do Estado, sem aparelhamento e respeitando o mérito.

Na primeira eleição direta, em 1989, o mapa visava apenas a construção da democracia. Candidatos sem qualquer expressão eleitoral deram contribuição ao debate que buscava um novo futuro para o país. Roberto Freire, com pouco mais de 1% dos votos, inspirou a juventude brasileira; em 2006, disputando com grandes nomes e partidos, o PDT lançou candidato e passou uma mensagem maior que os 2,5% de votos que teve.

Agora, mais do que nunca, o Brasil precisa de um candidato que ofereça um kit sobrevivência, mas os líderes políticos decidiram sucumbir à popularidade dos candidatos, mesmo sem planos nem mapas para a sobrevivência nacional.

Cristovam Buarque é senador pelo PPS-DF e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB).
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