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Em sua visita a Curitiba, o Nobel da Paz Muhammad Yunus chamou atenção para a correlação entre pobreza, concentração de renda e paz. A raiva, a hostilidade e a frustração geradas pela miséria e pela extrema concentração de renda não permitem uma paz duradoura no nosso planeta. O economista bengalês, que tanto tem ajudado os pobres e os despossuídos ao redor do mundo, não poderia ter sido mais feliz ao insistir nessa análise. A pobreza vigente, como diz Yunus, é a negação dos direitos humanos.

É preciso dar a chance às pessoas de terem uma vida digna

O Brasil tem se esforçado para avançar nesse quesito. A extrema pobreza e a pobreza foram reduzidas em cerca de 70% no nosso país entre 2001 e 2013, em um movimento de transição social realizado mais rapidamente do que em outros países da América Latina. O último relatório do Banco Mundial sobre o tema ressalta que o número de brasileiros vivendo com menos de US$ 2,50 (cerca de R$ 7,50) por dia caiu de 10% para 4% da população no período. O Coeficiente de Gini, que mede o grau de concentração de renda, por sua vez, foi reduzido de 0,60 em 1990 para 0,49 em 2013.

O Brasil continua, no entanto, sendo uma das sociedades mais desiguais do mundo. Hoje, o 0,1% mais rico da população brasileira fica com 13% da renda; mais do que os 11% de riqueza que chegam aos 40% mais pobres. Os principais motivos que levam o Brasil a manter essa enorme disparidade econômica e social estão na má distribuição de ativos e na baixa qualidade dos serviços públicos.

Em Curitiba, uma das prioridades é a eliminação da pobreza extrema e redução das desigualdades, por meio de ações de assistência social, moradia, educação, trabalho e microcrédito. Entre 2011 e 2014, a redução de beneficiários do Bolsa Família na capital paranaense foi de 26%. O crescimento econômico de Curitiba e as políticas focadas neste público ajudam a explicar o progresso. Atualmente, cerca de 30 mil pessoas ainda vivem na condição de extrema pobreza e continuam dependendo do programa na cidade. A prefeitura acompanha e cria novas oportunidades para essas famílias com iniciativas complementares de saúde, fomento e emprego.

O Projeto Equidade na Educação prioriza famílias e territórios de maior vulnerabilidade social para garantir um aprendizado de qualidade para os mais pobres. Na área de microcrédito, a cidade conta com 52,7 mil microempreendedores individuais, público-alvo das ações da Agência Curitiba de Desenvolvimento, com descentralização nas administrações regionais e foco nos territórios mais necessitados.

Junto com o governo federal, Curitiba está construindo 14 mil moradias para a população de baixa renda, na faixa de 1 a 3 salários mínimos; ao todo, mais de 60 mil pessoas serão beneficiadas. Nesse setor, uma importante frente de trabalho está na regularização fundiária, esforço que resultará na entrega de 8 mil títulos de lotes para a população.

Os diversos programas de formação e qualificação em andamento complementam o cenário. Um destaque é o Programa Trabalho Decente, que promove o trabalho remunerado, exercido em condições de igualdade, liberdade e segurança, capaz de garantir uma vida digna a todos.

Yunus ensina que, para construir um ambiente pacífico e sustentável, é preciso dar a chance às pessoas de terem uma vida digna. A mera caridade não resolve o problema, é preciso encontrar e oferecer oportunidades. Dessa forma, estaremos contribuindo para estabelecer uma sociedade mais justa e mais humana.

Fábio Dória Scatolin, PhD em Economia pela Universidade de Londres, é secretário municipal de Planejamento e Administração.
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