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Línguas indígenas e a educação brasileira
| Foto: Carl de Souza/AFP

A Unesco definiu 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas. Por todo o mundo, as nações que integram o sistema da Nações Unidas voltam seus olhares para um dos grandes desafios que vivem os seus povos originários: a preservação das línguas. Calcula-se que dois terços das 274 línguas indígenas ainda faladas no Brasil corram risco de extinção. Por volta dos anos 1500, havia mais de mil diferentes línguas, conforme o Atlas das Línguas em Perigo, publicado pela Unesco.

Se os indígenas viveram as tragédias do extermínio e viram sua população diminuir drasticamente ao longo dos últimos séculos, agora também temem pela extinção da cultura contida no idioma de seus ancestrais. São vários os motivos para que isso ocorra: o contato com outras culturas, a idade avançada dos falantes e a falta de valorização dos povos indígenas; tudo isso influencia para que as línguas acabem desaparecendo.

Todos precisamos rever nossos conceitos e preconceitos sobre os povos indígenas, tão difundidos em nossa sociedade

Com o esquecimento da língua, desaparecem tradições, costumes, valores, histórias e rompem-se as pontes que existem entre as novas gerações e aqueles que os antecederam. É um extermínio cultural, que gera ainda consequências como a perda do sentido de pertencimento e da autoestima das novas gerações dessas comunidades.

A responsabilidade pela preservação da língua materna não é apenas dos povos indígenas ou dos órgãos oficiais. É de toda a nação, cuja cultura deriva daqueles que já estavam aqui quando os portugueses chegaram. Da mesma forma, não é apenas nas 2.373 escolas públicas indígenas de educação básica que ensinam língua indígena hoje existentes que esse desafio deve ser trabalhado continuamente.

Todas as escolas brasileiras devem mostrar às crianças e jovens que indígenas não são esses personagens caricaturais desfilando no carnaval ou que povoam os livros didáticos apenas pela chegada dos portugueses. São povos e comunidades de brasileiros vivos no século 21, sofrendo graves dilemas, que merecem reconhecimento, respeito, tratamento digno, oportunidades iguais e também condições para que possam preservar suas culturas e difundi-las para as próximas gerações.

É para esse desafio que temos procurado despertar as escolas que integram a Rede das Escolas Associadas da Unesco no Brasil. São hoje 569 instituições públicas e privadas de ensino básico de quase todo o país que trazem para dentro da sala de aula esse tema, celebrando este Ano Internacional das Línguas Indígenas. Temos também procurado incluir no quadro das escolas associadas escolas indígenas, que têm a oportunidade de mostrar seu trabalho, dialogar, encontrar interlocutores e receber apoio pedagógico.

Nesta semana em que comemoramos o Dia Internacional dos Povos Indígenas, todos precisamos rever nossos conceitos e preconceitos sobre os povos indígenas, tão difundidos em nossa sociedade. Preservar as línguas indígenas significa proteger um patrimônio cultural de valor incomensurável, que nos pertence e ao qual também pertencemos. É um direito das futuras gerações receber essa herança.

Myriam Tricate é pedagoga e coordenadora nacional do Programa das Escolas Associadas da Unesco.

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