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Contrariando as otimistas previsões originais do governo, a crise financeira global chegou com força à economia brasileira. Como não poderia deixar de ser num cenário de elevada interdependência internacional, a queda no crescimento econômico dos países centrais alastrou-se pela periferia com velocidade e intensidade superior aquela prevista pela maior parte dos analistas econômicos. Os impactos sobre o comércio, a queda nos indicadores da atividade industrial e a elevação do desemprego deixam claro que não estamos diante de uma "marola" como previu nosso presidente.

A condução da política macroeconômica – especialmente no que se refere à interação entre a política fiscal e a política monetária – tem apresentado graves problemas de coordenação. Enquanto por um lado o Ministério da Fazenda e o BNDES esforçam-se em implementar medidas que ampliem a demanda agregada e reativem a economia, o Banco Central insiste em manter uma política monetária extremamente conservadora.

A manutenção de taxas de juros reais em torno de 8% ao ano no atual contexto de retração da demanda mundial e de queda acentuada da demanda interna atrapalha a retomada do crescimento e é desnecessária no atual cenário de estabilidade dos principais indicadores de inflação. As fontes de pressão inflacionária pré-crise – a forte elevação dos preços das commodities no mercado internacional e o aquecimento da demanda doméstica atrelada ao crescimento do crédito – simplesmente não se encontram mais presentes no atual cenário econômico.

No plano fiscal, ainda que exista a correta compreensão de que neste momento é necessário promover a ampliação dos gastos do governo, particularmente de seus investimentos em infra-estrutura, tem-se verificado concretamente a incapacidade do governo Lula de coordenar de modo eficiente a realização destes investimentos. Os últimos dados do PAC informam que aproximadamente 60% dos projetos encontram-se atrasados por questões legais, ambientais ou por pura ineficiência do governo. Vale lembrar também que boa parte dos investimentos previstos pelo PAC são da Petrobras que, com a queda dos valores do petróleo no mercado internacional, deverá reavaliar a viabilidade econômica de inúmeros projetos, particularmente daqueles vinculados à exploração da camada pré-sal.

Na contramão dos problemas de coordenação de política monetária e da ineficiência dos gastos com investimento apresentam-se os esforços do BNDES em ampliar o volume de empréstimos para a promoção de investimentos e os impactos positivos do incentivo fiscal de redução do IPI para automóveis. Diga-se de passagem, tendo em vista as dificuldades encontradas pelo governo na realização dos gastos com investimento, a utilização do instrumento tributário, particularmente a redução dos impostos sobre a renda dos trabalhadores e o lucro dos empresários, deveria ser preferencialmente utilizada enquanto instrumento de política expansionista. Não obstante, dificilmente os resultados serão positivos para o país, caso o Banco Central mantenha seu conservadorismo monetário.

Em um jogo de futebol é preciso que todo o time siga as instruções do treinador. Quando este, ao perceber que está perdendo um jogo muito importante, manda seu time atacar, a pior coisa que pode acontecer é uma parte do time insistir em jogar na retranca. Nestes casos, em geral, o time perde e o treinador é responsabilizado pela derrota. Nestas horas, os bons treinadores mandam para o banco aqueles que não estão cumprindo as suas ordens. Talvez esteja na hora do "nosso treinador" mandar para o banco aqueles que insistem na retranca econômica.

Marcelo Curado é doutor em Economia pela Unicamp e professor do Departamento de Economia da UFPR.mcurado@ufpr.br

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