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Na Gazeta do Povo de 17/7/2009, publiquei artigo sob o título "Dinheiro traz felicidade". O texto teve alguma repercussão e agradeço aos leitores que en­­viaram comentários. Resolvi voltar ao tema para afirmar que dinheiro traz felicidade também no plano nacional. O dinheiro é apenas a expressão monetária da riqueza (bens e serviços) produzida por uma sociedade. Quanto maior for a riqueza nacional, maior será o padrão de vida e o desenvolvimento social da população.

No início da década de 1990 visitei a Dinamarca e pude constar uma situação social que merece o título de "elevada felicidade nacional". A Orga­­nização das Nações Unidas (ONU) publica um in­­dicador conhecido como Índice de Desen­­volvi­­mento Humano (IDH), que revela o estado de bem-estar social das nações. A Dinamarca aparece no topo dos países com os melhores índices de padrão de vida, educação, saúde e segurança. Viajando pelo país é fácil notar a invejável situação daquele povo. Lá, não há pobreza, não há miséria, não há analfabetos, não há violência, e parece que as desgraças humanas resolveram não aportar em solo dinamarquês.

Diante de realidade social tão boa, é inevitável a pergunta: que fatores determinam o elevado padrão econômico e social daquele país? Um primeiro fator é a renda por habitante em torno de 55 mil dólares/ano, equivalente a nove vezes à do Brasil. A renda é a outra face do Produto Interno Bruto (PIB) e representa a soma de todos os bens e serviços finais que uma sociedade produz. Quanto maior for o PIB, maiores serão as possibilidades de elevação do bem-estar geral e de eliminação da pobreza e da violência.

A riqueza também é determinada por fatores como valores culturais, nível educacional, costumes, qualidade das instituições, garantia do direito de propriedade e liberdade de iniciativa. Tudo isso existe na Dinamarca. Esses fatores definem o modo pelo qual uma sociedade resolve seus problemas econômicos e sociais. No seu fantástico livro Colapso, Jared Diamond afirma que sociedades diferentes respondem de modo diferente a problemas semelhantes. Segundo ele, a resposta da sociedade a um problema depende de instituições políticas, econômicas e sociais e de seus valores culturais. Tais instituições e valores afetam o modo como as sociedades resolvem (ou tentam resolver) seus problemas.

Ocorre que muitos povos vivem no "círculo vicioso da pobreza". Ou seja, a nação é pobre porque suas instituições e valores culturais são atrasados, mas sua cultura e suas instituições são atrasadas porque a nação é pobre. O desafio, difícil, é romper o círculo e vencer o atraso. Creio que a única forma para conseguir vencer o desafio é dar altíssima prioridade à educação; mas não qualquer educação. O sistema educacional precisa ser reformulado urgentemente e cito apenas um ponto: para mim, desde o primeiro ano do ensino fundamental até o último dia da faculdade, os alunos deveriam ter educação financeira e educação ambiental como matérias obrigatórias em todos os currículos educacionais. Chega a ser ridículo imaginar o mundo atual sem instrução forte nessas duas áreas. Entretanto, esse ridículo acontece.

Há uns meses, eu fazia uma palestra, e um rapaz me perguntou quais os três principais assuntos ele deveria ensinar aos seus filhos. Respondi-lhe: educação ética, educação financeira e educação ambiental. É óbvio que uma educação completa exige instrução formal em matemática, língua nacional, ciências, conhecimentos gerais etc. O que não se justifica é ensinar uma imensa quantidade de assuntos que os estudantes jamais irão usar, que não serão úteis para seu sucesso profissional nem ajudarão a melhorar a situação social do país.

Felicidade não é prêmio divino; é uma consequência de méritos e trabalho.

José Pio Martins, economista, é vice-reitor da Universidade Positivo.

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