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Em virtude das comemorações da 5.ª Semana Nacional dos Museus e do Dia Internacional dos Museus, celebrado hoje, em que se destaca o papel cultural dos museus na sociedade, lembramos do ex-governador de Santa Catarina Jorge Lacerda, a que se devem algumas das ações importantes na promoção e difusão das artes no país. Enquanto deputado federal por Santa Catarina, defendeu de forma veemente a necessidade de a nação construir o seu perfil histórico através do cultivo das artes. No discurso proferido na Câmara dos Deputados na sessão de 7 de setembro de 1952, foi quem propôs a destinação de verba para a construção da sede definitiva do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projetado pelo arquiteto Afonso Eduardo Reydi. Creio que as suas palavras continuam válidas, pois os valores histórico-artísticos estão sendo relegados à uma importância ínfima, dada a premência dos problemas sociais da nossa nação. Referia-se à Câmara dos Deputados que: "representando os interesses totais da nação, tem, por isso mesmo, deveres para com os problemas da cultura, não lhe sendo lícito favorecer o divórcio da ação política com a da inteligência. Nossa missão, nesta Casa, não se limita, apenas, é óbvio, às atividades políticas, nem cessam os nossos compromissos nas fronteiras dos problemas materiais, mas se desdobram e ampliam, transcendendo essa área efêmera e limitada, para também se vincular com os superiores objetivos da cultura".

Salientava ele a importância das atividades culturais no papel de transmissão dos valores de um povo às sucessivas gerações, pois uma nação que não conhece a sua história não passa da condição de criança, com já afirmava Aristóteles. Vê-se pelo teor deste apaixonado discurso recolhido na obra póstuma "Democracia e Nação" (1960), as inquietações artísticas da época e a falta de recursos e de sensibilidade que ocorria. Ainda hoje, tal como afirma a curadora Nilza Procopiak, as dificuldades continuam sendo "a falta de recursos para investir em pesquisa, conservação, no acervo e em publicações". Em resgate da memória do então deputado Jorge Lacerda, fundador do Suplemento Letras e Artes, do jornal A Manhã do Rio de Janeiro, em 1946, propunha à consideração dos seus pares no Legislativo: "Os nossos artistas plásticos vivem o pior dos dramas – a generalizada indiferença, entre nós, pela sua inquietação criadora. Perguntava-me, alguém, há poucos dias: "Como é que o amigo, de um estado de agricultores, que vivem premidos por tantas necessidades, vem defender esse crédito para uma instituição artística?" E eu respondi: "Nossas preocupações não podem cingir-se, apenas, aos problemas eventuais dos interesses imediatos do país, mas, também, aos da inteligência e da cultura. Para nós, de Santa Catarina, tanto quanto as colheitas, que são efêmeras, interessa, por igual, a glória permanente de um Vítor Meireles. São glórias, como essa, que constituem o patrimônio imperecível dos povos e das civilizações".

Hoje como antes, necessita-se de pessoas com sensibilidade e capacidade para gerar iniciativas que provisionem os recursos necessários para as promoções culturais. Há exemplos em muitas nações que procuram manter vivos os valores culturais como forma de suplantar o imediatismo das necessidades materiais, que contrariamente ao que pensam alguns, visam alimentar as aspirações de sentido e significado existencial, que correspondem à dimensão transcendente do ser humano.

Parece adequado o que afirmava Lacerda: "Que símbolo tão expressivo, para os debates desta hora, nos oferece a vida desse extraordinário arquiteto e estatuário. Se Aleijadinho obedecesse a impulsos imediatistas e utilitários, ter-se-ia recolhido a uma Casa de Misericórdia, para remediar os males dos seus dedos, dilacerados pela lepra. Ao revés, continuou até o fim de seus dias, tristes e agoniados, a plasmar, com sua arte e sua dor, a obra imortal que se ergue nas montanhas mineiras".

E por fim emoldura o seu pensamento de forma incisiva: "De nada valem as nações, perante a história, se não souberem legar à posteridade uma luminosa mensagem de cultura!"

Paulo Sertek é professor de pós-gradução em Administração, ministrando a disciplina de Ética nas Organizações, doutorando em Educação na UFPR e autor de "Responsabilidade Social e Competência Interpessoal" (IBPEX – 2006).

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