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Há um número não desprezível de eleitores que simplesmente vota no candidato que está na frente, segundo as pesquisas

O Brasil está a poucos dias de encerrar a mais longa campanha eleitoral de sua história política. Vem daí, dizem os especialistas, essa sensação de estresse generalizado sobre a qual a maioria dos cidadãos tem comentado a toda hora. Só não devem estar cansados os profissionais do jogo das eleições.

O ano é 2010, século 21, 3.º milênio, mas essa moldura cronológica não apresenta paisagem muito diferente do que se tem visto nas últimas décadas. Tem mudado é a tecnologia, a sofisticação do processo eleitoral. Também pudera, com tantos cursos de graduação e pós-graduação em marketing, publicidade, propaganda, comunicação social, jornalismo, neurociência etc., há um exército de pessoas bem preparadas criando o desejo de consumo antes mesmo que o produto seja lançado no mercado.

Curioso notar que os candidatos usam roupas com cores diferentes conforme a região onde estejam fazendo suas campanhas. Quando estão nas suas bases eleitorais, usam cores, logomarcas, adesivos do que há de mais tradicional em seus respectivos partidos. Quando estão nas regiões onde precisam capturar eleitores, vão de branco e usam símbolos universais — coraçãozinho estilizado, carinha feliz, sorrisos, sorrisos, sorrisos. Enfim, isso tudo já exauriu o eleitorado.

A novidade é o crescimento da desconfiança em relação às pesquisas eleitorais, as pesquisas de opinião, de intenção de voto. Realmente, o que o resultado das urnas provou, no primeiro turno, foi que há alguma coisa muito estranha acontecendo com a metodologia dessas pesquisas — ou, ao menos, com o modo como essas pesquisas estão sendo divulgadas. Porque os erros das previsões, todos viram, foram alarmantes.

Mas não se quer requentar o tema da relativização das pesquisas de intenção de voto. O que se quer é criticar o eleitor que, a essa altura do processo civilizatório brasileiro, e depois da relativização dos números das previsões, ainda mantém o discurso ridículo de não votar em que vai perder, para "não perder o voto". Isso mesmo. A mentalidade nacional ainda alberga essa indigência cultural. Há um número não desprezível de eleitores que simplesmente vota no candidato que está na frente, segundo as pesquisas, porque não quer votar no segundo colocado.

Esse cidadão age como um eleitor ridículo, pois não entendeu que o voto deve ser a expressão de sua consciência, de seus valores, de sua cidadania, de suas aspirações em relação à cidade, ao Estado, ao País. O eleitor ridículo não vota no candidato porque ele tem idéias parecidas com as suas, ele vota no candidato que está sendo anunciado como provável vencedor. Porque o contexto político-eleitoral ainda é o de um páreo em que o importante é o primeiro lugar no pódio.

Basta ver o desprezo com que os brasileiros tratam os segundos-lugares das competições. O vice-campeão parece não ter méritos por ter chegado às finais de uma disputa. Aliás, nos esportes, os próprios atletas afirmam isso, o que é lamentável. Os marqueteiros políticos, conhecedores do fenômeno, imediatamente fazem jingles com os porcentuais das pesquisas favoráveis aos seus clientes.

Talvez os quase 20 milhões de votos obtidos pela candidata do Partido Verde tenham inaugurado um momento novo nessa história. A imprensa, os analistas políticos, os formadores de opinião, estão falando sobre o crescimento da representatividade política, sobre a densidade do eleitorado verde e das propostas do partido, e de como isso modificou o contexto, pois todos os outros partidos, sejam de oposição, sejam de situação, são pressionados a inserir idéias "verdes" em seus ideários e em seus programas de governo.

Esse tipo de eleitor precisa amadurecer e deixar de ser ridículo. Precisa conscientizar-se de que seu voto é sempre um voto vencedor, simplesmente por ser o ato de votar é um dos mais nobres direitos do cidadão, pois é a declaração de sua visão de mundo, daquilo que ele quer para a sociedade da qual faz parte. Votar é, por excelência, o instrumento de defesa da democracia, e não deve ser vulgarizado. Portanto, eleitor, aproveite este segundo turno para treinar mais um pouco a dignificação do seu voto.

Joel Samways Neto, procurador do Estado do Paraná

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