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O Banco Central causa inflação ao ter emitido R$ 9 bilhões em dinheiro?
| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Moeda não corresponde apenas ao “dinheiro” da economia. Os conceitos envolvidos não são simples para aqueles não iniciados no mercado financeiro. O Brasil utiliza quatro conceitos relacionado ao conceito de “moeda” ou de “meios de pagamento”. O conceito que possui maior identidade com a ideia de “dinheiro” é denominado “M1”. Este conceito, conforme o Banco Central do Brasil, corresponde ao conceito restrito (“narrow”) de “meios de pagamento”. É composto pela soma do papel-moeda em poder do público mais depósitos à vista. São os recursos disponíveis prontamente para pagamento de bens e serviços da sociedade.

Esta soma corresponde a algo em torno de 6% do total de moeda no Brasil, um valor próximo a R$ 420 bilhões – o total de meios de pagamento, utilizando os quatro conceitos, em março deste ano foi R$ 7,27 trilhões.

Vamos analisar a composição e participação dos demais conceitos. O segundo, denominado “M2”, corresponde à soma do saldo de M1 com os depósitos de poupança e outros títulos emitidos por instituições financeiras depositárias, ou seja, de todas as instituições financeiras que existem no Brasil. Este conceito representa 40% do total dos “meios de pagamento” da economia.

O terceiro conceito, denominado de “M3”, compreende a soma de M2 com cotas de fundos e dos recursos provenientes de operações compromissadas, ou seja, operações de compra (ou venda) de títulos com compromisso de revenda (ou recompra) destes mesmos títulos em uma data futura, ou seja, dos títulos da dívida do governo. Este conceito representa um valor em torno de 93% do total dos meios de pagamento da sociedade brasileira.

Finalmente, o quarto conceito, denominado “M4”, abrange 100% de todos os meios de pagamento da sociedade brasileira e corresponde ao M3 mais os títulos públicos federais. O M4, portanto, engloba o M3 e os títulos públicos emitidos e disponíveis.

O conceito de M1 registra alterações comportamentais da sociedade, como os saques da caderneta de poupança com transferência para a conta corrente das pessoas, entesouramento de papel-moeda em consequência da menor circulação da moeda causada pela redução no hábito de compras no comércio etc.

O valor de R$ 9 bilhões correspondente à emissão de moeda pelo Banco Central não pode ser classificado como elevado, considerando o saldo de R$ 420 bilhões de março deste ano. Este valor corresponde a uma variação de 2% sobre este saldo. Em fevereiro, o saldo de M1era de R$ 403 bilhões. Este valor não compromete a continuidade da inflação em baixos patamares.

Podemos, neste momento, fazer uma pergunta: com apenas 6% de recursos disponíveis prontamente para pagamento de bens e serviços, será que nossa sociedade não apresenta uma baixa monetização para estimular as atividades que imediatamente proverão a retomada econômica do país na fase pós-Covid?

Agostinho Celso Pascalicchio, bacharel em Ciências Econômicas, mestre em Teoria Econômica pela University of Illinois at Urbana-Champaingn (EUA) e doutor em Ciências, é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie nas áreas de economia, economia da energia e engenharia econômica/finanças.

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