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PIB baixo
O PIB da agropecuária cresceu 1,3% em 2019, segundo o IBGE. Serviços também cresceram 1,3% e a indústria, 0,5%.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Estamos vivendo tempos sem precedentes na história da humanidade. Nunca foi registrada uma pandemia que progride, contagia e ceifa vidas com tamanha velocidade. O contágio é tamanho que desafia registros, estatísticas, fronteiras, comportamentos e as próprias medidas preventivas e protetivas, mesmo nos países mais ricos.

Estima-se que os impactos nas economias de todos os países, cedo ou tarde, virão com força e são hoje imensuráveis. Esta sensação de impotência como seres humanos, profissionais e cidadãos não é nada confortável e traz à tona discussões acaloradas sobre paralisação total ou parcial das atividades. Uns defendem as vidas, outros defendem a manutenção das atividades econômicas para que os impactos sejam um pouco menores. Por enquanto não há respostas; deverão aparecer, tímidas, com o passar do tempo, quando os fatos se mostrarem mais claros. Por enquanto temos de confiar na ciência médica.

No entanto, existem profissionais que não podem parar, isso é fato. Eles têm se arriscado por muitos. As cadeias e sistemas agroindustriais, profissionais da saúde, transportes, produção de medicamentos e equipamentos hospitalares e segurança não podem e não irão parar. É uma situação semelhante a uma guerra: são nossos soldados. Mas precisam usar toda a proteção e meios possíveis para evitarem o contágio. Como verdadeiros heróis que protegem o planeta, serão capazes de suprir a energia, alimentos, distribuição, serviços médicos, equipamentos e segurança a todos, garantindo os direitos essenciais a toda a população.

E mais uma vez o agronegócio brasileiro mostra-se um gigante. Será também impactado? Possivelmente sim, tanto pelos cuidados extras que países já passaram a adotar em licenças sanitárias quanto por quedas pontuais de demanda pela perda de poder aquisitivo dos povos, principalmente proteínas animais e energia. Além de possíveis infectados. Haverá obviamente uma necessidade de readequação das cadeias do agronegócio como um todo, e mesmo assim o setor deverá sair fortalecido da crise.

Para citar alguns dados, mesmo com a estiagem que assola estimados 50% da produção de grãos no Rio Grande do Sul, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma safra recorde no país, com 253 milhões de toneladas de grãos, dos quais 124 milhões de toneladas somente de soja. Isto representa 8% a mais que na safra passada. A China continua comprando do Brasil, mesmo pós-Covid-19 e a assinatura da primeira fase do acordo comercial com os Estados Unidos. No primeiro trimestre, foi exportado 15,3% a mais de soja frente ao mesmo período do ano passado, ocorrendo o mesmo com algodão, proteína animal e açúcar. E mesmo com a queda nos preços das principais commodities em dólares, com a desvalorização da nossa moeda, os ganhos em reais são expressivos. Isso é muito importante porque ajudará o produtor a custear a próxima safra, taxada em dólares.

É preciso garantir o escoamento e a gestão dos fretes. O agronegócio continua a produzir, colher e comercializar, tanto no mercado interno quanto no externo, sem grandes impactos por enquanto em todos os principais mercados. A commodity mais afetada até agora é o etanol, em decorrência da queda do preço do petróleo pós-crise entre Arábia Saudita e Rússia.

Não há como negar que os povos sofrerão muito com os impactos da pandemia, talvez comparáveis ou maiores que na Segunda Guerra Mundial ou na crise de 1929. A magnitude, no curto prazo, poderá ser reduzida se governos atuarem de maneira séria e eficaz injetando recursos nas economias. A geração de riquezas será reduzida e trará consigo quedas de renda e demanda.

Não podemos esquecer, como brasileiros, que temos um grande trunfo em nossas mãos, o tão bombardeado agronegócio. Em meio à crise, desapareceram os críticos dos defensivos e dos avanços das fronteiras agrícolas, pois perceberam que de fato o alimento deixa de chegar à mesa se não houver produção, beneficiamento e distribuição em diversos níveis. O Brasil tem de aproveitar o momento para se tornar, de vez, o protagonista inquestionável deste importante setor para o mundo.

Fernando Pessoa um dia citou “agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”. E agir com inteligência, nesta hora, é proteger-se e fazer o essencial para o bem comum. E completa Maurício Francisco Ceolin, como citou Henfil, depois de tudo isso: “se não houver folhas, valeu a intenção da semente”.

Eduardo Müller Saboia, técnico e engenheiro industrial mecânico, pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management e mestre em Administração Estratégica, é professor de pós-graduação de Agricultura 4.0 na UFPR e head de uma empresa de treinamento e consultoria em agronegócio.

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