| Foto: Fred Dufour/AFP

O presidente chinês, Xi Jinping, fortaleceu a imagem de líder no campo internacional por meio de uma narrativa de livre comércio. Essa narrativa, inclusive, o levou a falar em Davos, algo difícil de imaginar em um passado não tão recente. Sua imagem doméstica se fortaleceu não somente com essa postura externa, mas também como a de um líder que buscou combater a corrupção como antepassados não fizeram. Esse combate à corrupção, no entanto, também acabou sendo utilizado para fortalecer seu poder, ao retirar algumas lideranças do partido que não estavam alinhadas com a nova narrativa de Xi.

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Hoje, Xi precisa se preocupar com a guerra comercial com os Estados Unidos, com o endividamento crescente dos bancos provinciais da região central do país e com a desaceleração econômica que muitos analistas econômicos no mundo já esperam para este ano.

Educado em Harvard, Liu é considerado mais pragmático que Li Keqiang e que o próprio Xi Jinping

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O primeiro-ministro Li Keqiang é, sabidamente, seu principal rival político. Buscando mais protagonismo internacional (aproveitando-se de que Xi está com a cabeça voltada para os EUA), Li vem visitando mais países e tentando mostrar uma narrativa própria de cooperação da China com essas nações. A dificuldade para aumentar seu poder esbarra não só em Xi, mas no vice-primeiro-ministro Liu He.

Para quem acompanha ou necessita acompanhar a China, o grande ponto de referência para analisar o termômetro econômico do país é exatamente Liu He. Além do cargo mencionado, ele também é assessor econômico e amigo pessoal de Xi. Sua influência econômica sobre as ideias de Xi é tão acentuada que, para muitos, ele é a segunda pessoa mais influente do país. Sua postura, agenda de visitas e narrativa revelam muito sobre os passos seguintes que o governo chinês irá tomar. Dado o tamanho da relação com o Brasil, analisar a forma como Liu He pensa deveria ser prioridade para o novo governo brasileiro.

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Educado em Harvard, Liu é considerado mais pragmático que Li Keqiang e que o próprio Xi Jinping. Em relação ao Brasil, sua visão é clara e direta: fortalecer a relação comercial e pronto. Por essas e outras, Xi designou Liu para uma viagem aos Estados Unidos nas próximas semanas, para dar continuidade às negociações da guerra comercial.

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Tendo demonstrado interesse em manter relações pragmáticas e sólidas com a China, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, poderia ter alguém observando a narrativa e desvendando o processo de tomadas de decisão de Liu He. Esse tipo de conhecimento e perspectiva poderá dar uma importante vantagem ao Brasil nas relações comerciais com a China.

Thiago de Aragão é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Johns Hopkins, pesquisador sênior do Instituto Francês de Relações Internacionais e diretor de Estratégia da Arko Advice.