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O Brasil, aquele país efervescente nos trópicos que demonstrou considerável disciplina econômica nos últimos tempos, conseguiu ao menos três milagres ao longo das duas últimas décadas: forte crescimento graças a uma política econômica orientada pela estabilidade, liberdade política e redução das diferenças econômicas.

Mas agora a economia brasileira não está apenas mais fraca que as economias de seus países pares: está um tanto fraca demais. Após crescer 7,5 % em 2010, 2,7%

em 2011 e 0,9 em 2012, alguns analistas começam a soar o alarme. Será que a sétima maior economia ainda pode ser descrita como um motor de crescimento global? Em meio à crise bancária, econômica e de endividamento, essa explosão não é permanente, escreve Ruchir Sharma, do Morgan Stanley, concluindo que a economia brasileira está em declínio.

Não compartilho desse pessimismo. Apesar de cerca de metade das exportações do país ser de commodities, apenas 10% do resultado econômico brasileiro é gerado por essas exportações. Mais de 70%, por outro lado, se origina nos fortes setores de serviço e industrial do país. Na verdade, o declínio econômico testemunhado em 2011 se deveu largamente à estagnação da produção industrial. Isso, no entanto, deve-se a problemas estruturais que precisam de atenção urgente: infraestrutura obsoleta, todos os modos de obstáculos burocráticos, assim como altos custos e impostos não trabalhistas.

Apesar disso, o país exibe diversos pontos fortes impressionantes: a população de pouco menos de 200 milhões é jovem e cresce. Para cada 100 brasileiros em idade ativa (15-64), há apenas dez pessoas aposentadas com idade acima de 65 anos. Metade da população pertence agora à classe média. O desemprego está na taxa invejável de 5,5%. E isso não é tudo: a renda per capita do país é muito mais alta do que as da Índia e China.

O governo tem feito agora tentativas sérias de lidar com os problemas estruturais do país, assentando as bases para um maior crescimento sustentável em longo prazo. Foi elaborado um programa ambicioso para garantir que 100 mil brasileiros estudem no exterior até 2015. Atualmente, apenas 11% da população possui diploma universitário. A carga tributária deve ser amenizada, incluindo tributos sobre a energia.

Não há motivo para descredenciar o Brasil e sua história de crescimento. Há uma imensa demanda não atendida de infraestrutura, educação, habitação, consumo e assistência à saúde. O país almeja se estabelecer como um dos líderes da economia global. O Mundial de Futebol e a Olimpíada fornecerão impulso adicional. Esses são pré-requisitos excelentes para um florescente mercado de seguros.

De uma perspectiva alemã, os déficits são particularmente importantes. Apesar de a Alemanha ser o quarto parceiro comercial mais importante do Brasil, não há acordos bilaterais sobre padrões mínimos para negociações comerciais. As atividades comerciais e investimentos de empresas alemãs no Brasil se tornaram mais caros. Não há um acordo bilateral válido sobre dupla taxação desde 2006. Todos esses fatos são incompreensíveis e devem ser resolvidos logo. Infelizmente, a postura popular de Scarlett O’Hara de "amanhã penso nisso" não ajudará nem o Brasil nem a Alemanha.

Helga Jung é membro do Conselho de Administração da Allianz SE na Alemanha.

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