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| Foto: Osmar Nunes/Gazeta do Povo

O Brasil é o 8.° país com mais analfabetos no mundo. São aproximadamente 13 milhões, número semelhante aos 13 milhões de desempregados. Aliás, parece que não é o número da sorte mesmo – talvez somente para o Zagallo.

Mas o problema de educação é grave, historicamente grave. Surgiu muito antes dos últimos pequenos progressos. E como incomoda sermos catalogados como praticamente analfabetos, quando se trata da nossa língua materna e Matemática. Não consideremos outras matérias essenciais, como Artes, Ciências em geral, Física, Química, dentre outras.

O Banco Mundial divulgou recentemente que o Brasil precisará de 260 anos para atingir o nível educacional dos países desenvolvidos em Leitura e 75 anos em Matemática. Traduz-se isso como dominar a leitura e os números. O relatório aponta ainda que apenas 40% das crianças que atingem o último ano do ensino fundamental chegam ao nível mínimo de proficiência nestas matérias. O problema é mundial, mas em outros países como Peru, Vietnã e Coreia do Sul as melhoras foram significativas nos últimos anos, tanto na estrutura quanto na formação e salários dos professores.

Agroempresários já sentem que o futuro próximo demandará uma qualificação muito mais analítica e matemática

Embora o agronegócio no Brasil vá de vento em popa, especialmente quando se fala em soja, há uma preocupação do setor quanto à qualificação dos profissionais ligados ao campo e atividades de suporte. Além do êxodo rural para as cidades, o nível de mecanização e emprego de tecnologias tem aumentado de forma exponencial e, aparentemente, agroempresários já sentem que o futuro próximo demandará uma qualificação muito mais analítica e matemática em comparação com a encontrada hoje. A leitura de mapas tridimensionais, análise de rightdata, interpretação de dados nunca antes coletados no campo e uso de maquinário muito mais sofisticado e computadorizado que muitos carros de luxo tornam-se desafios a serem resolvidos em um curto espaço de tempo. Estima-se que o mercado de dados para o agronegócio atinja mais de 4 bilhões de euros em 2021.

E como entender todos esses dados e análises sem o domínio mínimo da leitura básica e da matemática? Os drones, já empregados no campo, se tornarão obsoletos em pouco tempo, sendo substituídos por robôs voadores (flying robots), capazes de uma navegação e interpretação de dados autônoma. E, pelo nível educacional encontrado, o Brasil dependerá 100% de tecnologias importadas, já que tem dificuldade de dominar os algoritmos avançados de navegação e inteligência artificial.

Leia também: Agronegócio para um novo Brasil (artigo de João Sabino Ometto, publicado em 3 de fevereiro de 2018)

Leia também: Qualidade e sabor bem brasileiros (artigo de Ney Ibrahim, publicado em 16 de outubro de 2017)

Como, então, preparar o país e profissionais para esta revolução 4.0 que já chegou ao campo? Em 13 de março deste ano o governo federal divulgou a liberação de R$ 8,6 bilhões para o desenvolvimento da Indústria 4.0. Que tal usar parte desse recurso em capacitação, treinamento, pesquisa e desenvolvimento, leitura e matemática para os níveis básicos e primários? De nada adianta sensores, robôs e um aparato tecnológico apurado se não soubermos aproveitar todo o potencial.

A ONU estima que até 2050 o planeta abrigará 10 bilhões de pessoas. Até 2100, poderá chegar a 11,2 bilhões. Em 260 anos, ou seja, no ano 2278, prazo estimado para atingirmos os níveis aceitáveis de leitura, quais serão os requisitos mínimos para a sobrevivência de um povo, considerando avanços tecnológicos em razão exponencial?

Eduardo Müller Saboia, técnico e engenheiro industrial mecânico, pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management e mestre em Administração Estratégica, trabalha na indústria de maquinários agrícolas e é professor de pós-graduação em Agricultura 4.0 na UFPR.
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