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Colheita de soja.
Colheita de soja.| Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo

O comércio exterior é uma das principais molas de crescimento e desenvolvimento econômico de qualquer país. Há, inclusive, uma linha de pesquisa em desenvolvimento econômico – a chamada export-led growth, que, numa tradução livre, pode ser entendida como crescimento embasado em exportações – a qual afirma que alguns países passaram por rápidos processos de desenvolvimento em função de grande ancoragem no comércio internacional (caso da China e dos tigres asiáticos – Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan).

O Brasil, como um dos principais produtores e fornecedores de produtos agrícolas (alimentos, fibras e energia) do mundo, se encaixa também nessas características. Nosso crescimento econômico deriva em grande medida dos nossos ganhos com o comércio internacional. Exportar nossos excedentes produzidos pelas diferentes cadeias produtivas agrícolas contribui para a expansão de emprego e renda no nosso país.

Considerando os dados de 2018, o Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar, café e suco de laranja; o segundo maior produtor (e o maior exportador do mundo) de carne bovina, de carne de frango e de soja (em grão); o segundo maior produtor e segundo maior exportador de etanol; o segundo maior produtor de celulose (e terceiro maior exportador); o terceiro maior produtor de farelo de soja (e segundo maior exportador); o terceiro maior produtor de milho (e segundo maior exportador); o terceiro maior produtor e exportador de carne suína; e o quarto maior produtor de óleo de soja (e segundo maior exportador) do mundo.

Com o destacado empreendedorismo e a crescente profissionalização dos nossos produtores, as condições de recursos naturais, o clima favorável, as pesquisas e o desenvolvimento tecnológico realizados no país, do lado da produção, nossas condições são bastante positivas e permanecem avançando. Claro, existem gargalos, como os fortes problemas com infraestrutura de logística e armazenagem e a confusa composição de legislações e tributação, que limitam maiores expansão e dinâmica das atividades produtivas. São questões que precisam ser sanadas rápida e eficientemente.

Precisamos estar atentos para não colocar em risco as nossas relações comerciais internacionais e fechar as portas para a exportação dos nossos produtos

Já com relação ao mercado internacional, as perspectivas continuam extremamente positivas. O crescimento populacional e de renda que permanecerá ocorrendo no mundo, especialmente nos países do leste asiático, sobretudo a China, e fará a demanda por produtos do agro brasileiro continuar em expansão. No entanto, precisamos estar atentos para não colocar em risco as nossas relações comerciais internacionais e fechar as portas para a exportação dos nossos produtos. Embora tenhamos experimentado alguns ganhos nos primeiros 6 meses de novo governo, não podemos esquecer de pontos de impacto negativo, que quase colocaram em risco as exportações para alguns países, muito mais por conta do discurso de fontes que compõem a alta hierarquia do governo do que de ações ou atos administrativos que foram tomados. Atualmente, uma rápida manifestação pessoal nas redes sociais sobre um assunto pode derivar um problema comercial sério. Neste ano já colecionamos exemplos preocupantes nesse sentido, como a turbulência ocorrida com países de maioria islâmica, que são grandes compradores de produtos do nosso agro, com destaque para carne de frango (apenas Irã e Arábia Saudita, que constam entre nossos 10 principais clientes, somam praticamente 4% do total das exportações agrícolas). Em adição a isso, houve ainda pequenas declarações que geraram atritos com a China e alguns países da União Europeia.

Em 2018, apenas China e União Europeia somadas compraram do Brasil mais de US$ 53 bilhões de dólares em produtos do agro. Se considerarmos os países da União Europeia individualmente, temos em 2018, o seguinte ranking de "clientes" do agro brasileiro: 1.º China (mais de US$ 35 bilhões de dólares – 35% do total das exportações do setor); 2.º Estados Unidos (quase US$ 7 bilhões de dólares); 3.º Países Baixos (mais de US$ 4,5 bilhões de dólares); 4.º Hong Kong (aproximadamente US$ 2,5 bilhões de dólares); 5.º Alemanha (pouco mais de US$ 2,2 bilhões de dólares); 6.º Irã (praticamente US$ 2,2 bilhões de dólares); 7.º Itália (pouco menos de US$ 2,15 bilhões de dólares); 8.º Japão (também pouco menos de US$ 2,15 bilhões de dólares); 9.º Coreia do Sul (pouco mais de US$ 2 bilhões de dólares); e, 10.º Espanha (também um pouco mais de US$ 2 bilhões de dólares).

Contudo, se considerarmos a União Europeia como bloco, ela passará a ocupar a segunda posição, tendo comprado em produtos do agro brasileiro quase US$ 18 bilhões de dólares, deslocando os EUA para a terceira posição, Hong Kong permanecendo em 4.º, o Irã subindo para a quinta posição, o Japão para a sexta, a Coreia do Sul para a sétima, com a Arábia Saudita passando a ocupar a 8.ª posição (pouco mais de US$ 1,7 bilhão de dólares); em 9.º o Vietnã (pouco mais de US$ 1,6 bilhão de dólares); e, em 10.º a Tailândia, com pouco mais de US$ 1,5 bilhão de dólares.

Tomando como base o agro como um todo, incluindo os elos de insumos, agropecuária, indústria e serviços, envolvidos nas diferentes cadeias produtivas agrícolas, entre 2009 e 2018, o crescimento do setor foi de 10,32%, de acordo com os dados calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Isso representa quase R$ 135 bilhões de reais de expansão em valores de 2018, já descontada a inflação do período.

Leia também: Agronegócio: O meio ambiente como o melhor negócio (artigo de Armando Luiz Rovai, publicado em 17 de janeiro de 2019)

Leia também: Perspectivas do agronegócio brasileiro para 2019 (artigo de Carlos Araúz Filho e Gabriel Placha, publicado em 21 de dezembro de 2018)

Do lado do produtor, não deixamos nada a desejar em relação a qualquer concorrente internacional. Os produtores brasileiros são empreendedores, bons gestores e competidores de alto nível. Além disso, a pesquisa agrícola nacional gerou historicamente e continua gerando resultados que têm permitido manter nossa produção competitiva, variedades cada vez melhor adaptadas e produtivas, sistemas de produção com melhor adequação a condições produtivas locais, aumentando também a produtividade e reduzindo o custo de produção, desenvolvimentos oriundos de áreas de tecnologia de ponta desde biotecnologia até tecnologias de informação e comunicação orientadas a incrementos produtivos.

Temos de superar os principais gargalos que afetam nossa produção, como infraestrutura de logística e armazenamento, além de um sem-número de normas, regulamentos, legislações, em especial a tributária, que comprometem fortemente nossa competitividade. O caso da soja brasileira é ilustrativo. O custo de produção (custo “na porteira”) chega a ser praticamente igual ao do produtor americano no mesmo estágio, mas o do transporte chega a ser quatro vezes mais alto que o dos EUA.

Os primeiros 180 dias do novo governo brasileiro proporcionaram ganhos claramente positivos para o agro, como a reestruturação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que, ao reduzir redundâncias e buscar a desburocratização das atividades, tende a tornar a atividade produtiva mais dinâmica, com menos obstáculos de regulação a serem enfrentados. Outra sinalização favorável foi o fortalecimento do sistema nacional de pesquisa agropecuária, com envolvimento direto da ministra Tereza Cristina, como a intensificação da agenda de pesquisa e desenvolvimento (P&D) pública liderada pela Embrapa. Além disso, ações mais amplas, como as tratativas para encaminhamento da nova Previdência, se bem conduzidas, reduzirão fortes gargalos que limitam o setor produtivo atualmente.

No entanto, precisamos estar atentos para não colocar em risco as nossas relações comerciais internacionais e fechar as portas para a exportação dos nossos produtos, que há mais de duas décadas sustentam o PIB brasileiro. Não podemos perder tempo com declarações ou falas impensadas que possam colocar em risco esse sucesso. Ainda temos muito trabalho pela frente.

Marcos Antonio Gomes Pena Júnior é economista e escritor.

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