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Bosque de Portugal, em Curitiba.
Imagem ilustrativa.| Foto: Daniel Castellano/SMCS

No tempo de faculdade, havia um amigo que tinha uma estranha mania. Ao ler jornais e revistas, ele anotava em um caderno as cinco palavras mais frequentes, e ia acumulando ao longo do ano. Perguntado sobre qual a utilidade daquilo, ele dizia: “A economia é resultado da ação humana que, por sua vez, resulta da psicologia das massas. Uma palavra muito repetida reflete o estado emocional dos trabalhadores, consumidores, empresários e investidores, logo, é útil para prever a direção dos mercados”.

Neste ano de pandemia e isolamento social, recessão e desemprego, doença e mortes, há palavras frequentes na imprensa, tais como medo, angústia, insônia, ansiedade, depressão, que revelam o dano emocional que a crise causou às pessoas. O ano está acabando e a pandemia, que parecia estar indo embora, deu um repique e voltou a assustar, gerando desânimo em muita gente. Mas as crises um dia acabam. No futuro, outras virão e, também, acabarão.

Eu estava analisando o mercado de ações e um amigo disse: “Para que você quer comprar ações se o mundo pode acabar?”. Falei-lhe do diálogo que Aristóteles Onassis (1906-1975) tivera com um amigo no fim da Segunda Guerra Mundial. Onassis, que viria a ser o homem mais rico do mundo nos anos 1970, saiu comprando navios velhos que estavam parados pelo efeito da guerra, e estava fazendo dívidas, já que ele não tinha dinheiro.

O colega lhe disse: “Onassis, esses navios são velhos e estão ociosos, esta guerra terrível só aumenta, para que você quer essas velharias e fazendo dívidas?”. A resposta foi: “Ou o mundo acaba ou a guerra acaba. Se o mundo acabar, morrerão devedores e credores, e aí nada tem importância. Se o mundo não acabar, a guerra terminará, as nações terão que aumentar o comércio exterior, e eu alugarei meus navios reformados por um preço alto”. E Onassis se tornou o armador grego, na época o mais rico do mundo.

Sobre as empresas e suas ações, a coisa é a mesma. Ou a humanidade acaba ou a pandemia acaba. Como a pandemia vai acabar, ou ser controlada, a humanidade não vai desaparecer, os motores da economia serão aquecidos e as boas empresas vão prosperar e aumentarão seu valor. O melhor momento para comprar algo é na crise, quando os preços estão baixos. Warren Buffett (1930-) tornou-se o investidor mais bem-sucedido do mundo, o terceiro homem mais rico do planeta, investindo em boas empresas, em época de crise.

Há pouco tempo perguntaram a Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, se ele era otimista ou pessimista. “Prefiro ser otimista, não conheço pessimista bem-sucedido”, ele respondeu. Não se trata de ser ingênuo e ignorar os efeitos da pandemia. Aquelas palavras de dor e sofrimento revelam o estado de espírito dos consumidores, trabalhadores, empresários e das pessoas em geral. Mas a pandemia vai passar, então é melhor lutar contra o pessimismo.

O publicitário Nizan Guanaes criou uma frase espirituosa contra o pessimismo “Enquanto eles choram eu vendo lenços”, disse ele numa campanha para vender seus serviços publicitários, em plena crise do Plano Collor no início dos anos 1990. A frase de Nizan virou título de um livro sobre ele, escrito por João Wady Cury, em 2014. Houve um dia em que o mundo parou neste ano, quase todos os países foram afetados pela pandemia, mas está perto o dia em que o mundo retomará a atividade.

Ao que tudo indica, as vacinas estão chegando, o coronavírus será vencido e, à moda de Aristóteles Onassis, os navios velhos ligarão os motores e o trabalho, a produção, o emprego e o negócios retornarão e crescerão. Oportunidades surgirão, e quem tiver comprado barato pode se beneficiar. Aqueles que, de uma forma ou de outra, sofreram perdas financeiras, viram seu emprego desaparecer ou tiveram seu negócio prejudicado não devem perder a esperança.

Mesmo no plano pessoal, no âmbito das emoções, temos de fazer um esforço para reagir. Somos humanos, é normal que soframos e tenhamos nos deixado abater em um ou outro momento. Mas, no plano da economia e da vida profissional, as notícias para 2021 são animadoras. O mundo sai dessa pandemia machucado e com muitas cicatrizes, porém, há muito o que fazer e reconstruir, logo, há um gigantesco trabalho pela frente.

José Pio Martins, economista, reitor da Universidade Positivo.

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