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| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O lançamento, pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), do livro Como fazer os juros serem mais baixos no Brasil vai ao encontro de sonho antigo de todos os setores produtivos e dos consumidores. Afinal, cumprir a sugestiva meta é fundamental para a retomada de níveis mais substantivos de crescimento econômico, considerando que as elevadas taxas pagas pelos brasileiros, dificultam muito os investimentos e o consumo.

A louvável iniciativa da entidade também é uma boa oportunidade para se analisar uma questão específica atrelada ao alto “preço” do dinheiro: o spread bancário em nosso país, classificado em diversos apontamentos, dentre eles um estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), como mais elevado do que na maioria das nações. E esse é um dos principais fatores responsáveis pelo alto patamar dos juros reais, muito acima da Selic.

Os bancos precisam melhorar a oferta e o preço de seu “produto”

As consequências práticas para a economia são danosas, pois as empresas correm riscos muito altos ao captarem recursos para investir em ampliação de plantas e unidades, inovações tecnológicas e equipamentos. O mesmo se aplica ao empreendedorismo. O juro excessivamente elevado estabelece com frequência um serviço da dívida incompatível com a abertura e/ou rentabilidade de um negócio, mitigando ou inviabilizando o lucro e ameaçando sua perenidade. Tal problema é uma das causas do baixo crescimento do PIB nacional nos últimos 30 anos.

Ante os objetivos de toda a sociedade e do novo governo de retomada do nível de atividade em grau e ritmo mais acentuados, os juros representam um ponto crítico. Mais do que nunca, considerando que as empresas estão bastante descapitalizadas em função da grave crise que vimos enfrentando, são prementes melhores condições para a contratação de crédito para investimento e consumo. As atuais taxas cobradas pelos bancos são incompatíveis com os propósitos de recuperação do país e sua conversão em economia de renta alta.

O Brasil precisa deixar de ser o “paraíso dos rentistas e inferno de quem produz”, como acentuou o ministro da Economia, Paulo Guedes. O que se observa há anos é a retroalimentação de um círculo vicioso com duplo dano: imensa transferência de dinheiro da sociedade para o sistema financeiro; e a geração de crescente déficit orçamentário do Estado e aumento da dívida pública, cujo serviço é sustentado por títulos com juros muito altos, que, por sua vez, aumentam o rombo fiscal.

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Nesse contexto e reafirmando a importância e pertinência da iniciativa da Febraban, ainda é necessário que o setor financeiro faça uma autoanálise, avaliando a concentração bancária no mercado nacional, sua produtividade e outros fatores intrínsecos que pressionam seus custos além dos mencionados no estudo. Além das questões e problemas externos atrelados ao “custo Brasil”, aos quais estão expostos todos os ramos de atividade no país, é preciso olhar para dentro, como, por exemplo, tem feito a indústria, segmento que sofre concorrência tremenda de competidores localizados em países que não têm de carregar nos ombros todos os custos que oneram os produtores nacionais.

Tal lição de casa é tarefa relevante para todos os setores. Os bancos precisam melhorar a oferta e o preço de seu “produto”, componente essencial do fomento econômico e crítico para a retomada da economia brasileira.

Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
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