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Felipe Lima

Foi um gesto destemido do ministro Paulo Renato inscrever o Brasil no exame Pisa, em 2000. O então presidente Fernando Henrique teria questionado: “e se formos o último colocado?” O ministro argumentou que o Pisa é um dos instrumentos de maior credibilidade em avaliação educacional do mundo. Foram 32 países participantes naquele ano. Bingo! – ficamos em último: 56% dos estudantes de 15 anos avaliados em Matemática, Leitura e Ciências tiveram um desempenho de “quase analfabetos funcionais”, a boa distância do penúltimo colocado: o México, com 44%.

O Pisa 2015 – agora com 70 países avaliados e cujo resultado foi divulgado há poucos dias, em um relatório de 966 páginas dividido em dois volumes – mantém o Brasil entre os últimos: 66.º em Matemática, 63.º em Ciências e 53.º em Leitura. Quando cotejados com os nossos coirmãos latino-americanos, lamentavelmente ficamos abaixo de Argentina, Chile, Uruguai, México, Costa Rica, Colômbia e Peru.

Um adolescente cingapuriano de 11,3 anos tem a mesma proficiência de um aluno brasileiro de 15 anos

O desempenho dos nossos estudantes decresceu em relação à edição anterior (2012) e, considerando a média das três áreas citadas, o Brasil está na 64.ª posição, pois obteve apenas 401 pontos em 2015 contra uma nota média de 493 pontos dos participantes. Cada 40 pontos do Pisa equivalem a um ano de escola. A partir dessa premissa, o nosso gap em relação à média dos países ricos é de 2,3 anos e, em relação ao primeiro colocado (Cingapura), é de 3,7 anos. Para ser mais didático, um adolescente cingapuriano de 11,3 anos tem a mesma proficiência de um aluno brasileiro de 15 anos. Essa cidade-Estado nos oferece um bom modelo: cada professor dedica um mínimo de 100 horas por ano a cursos de capacitação.

Em educação não há mágica. Elevar os gastos do setor não é suficiente, embora necessário para que os alunos permaneçam mais tempo na escola e para capacitar os nossos profissionais da educação e remunerá-los condignamente, adotando-se critérios meritocráticos. Como já faltam recursos em outros setores, um salto dos atuais 5,8% para 10% do PIB para a educação pode ser deletério se mantivermos o atual status quo de deficiências na gestão, de descontrole nos gastos, de falta de comprometimento dos pais e despreparo e corporativismo de parte de nossos docentes.

O Pisa é aplicado a cada três anos com adolescentes de 15 e 16 anos – e ipso facto é um indicador de quanto o futuro do nosso país está comprometido. A agravante é que esse estudante brasileiro tem idade para estar no ensino médio, cujo desempenho foi sofrível em duas outras avaliações, também de 2015: o Ideb, com média 3,7 (numa escala até 10) e o Enem, igualmente em queda no comparativo com 2014. É uma tragédia nacional que afeta especialmente as famílias de baixa renda, gerando ainda mais desigualdades sociais. E a única alternativa para que haja justiça social é oferecer educação de qualidade em todas as camadas da sociedade. “A escola é a nova riqueza das nações. Passou a valer mais que a fábrica, o banco, a fazenda” – faz-se oportuno Peter Drucker, renomado consultor americano.

Da lista dos 70 participantes do Pisa 2015, mais uma vez os sete primeiros colocados são asiáticos. Reconhecidamente, esses países têm em comum a cultura de valorização e respeito ao professor. Ademais, adotam um currículo obrigatório mínimo, consentâneo com as habilidades valorizadas no mundo contemporâneo e nas provas do Pisa: raciocínio lógico, boa escrita, compreensão de texto e conteúdo adequado. Já no Brasil, pontuando entre os últimos, houve indignação manifesta das famílias ou da sociedade? Nenhuma ou quase nenhuma. Comunidade silenciosa perpetua o fracasso!

Jacir Venturi, coordenador da Universidade Positivo, há 46 anos é professor e diretor de escolas privadas e públicas.
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