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O índio precisa ser realmente dono de sua terra
| Foto: Felipe Lima

Chegar à América em 1492 foi tão difícil quanto hoje ainda é chegar à Lua. A tarefa era tão exclusiva que dois países acordaram em dividir a Terra entre eles. Duas metades, marcadas por tratados: o Tratado de Tordesilhas e o Tratado de Saragoça. A chegada dos europeus ao Brasil teve um impacto gigantesco nas civilizações que aqui antes se encontravam. Foi um contato do povo mais tecnologicamente evoluído do mundo com alguns dos menos tecnologicamente evoluídos. Mas como nós devemos enfrentar essa diferença tecnológica? Será razoável acreditar que os índios são uma espécie à parte, não tendo os mesmos desejos e vontades do restante da humanidade? Algo como um Homo sapiens indius?

Quando se oferece ao índio o conforto dos produtos do “homem branco”, ele nunca nega. Ter um fogão para cozinhar vence qualquer competição com uma fogueira. O tecido do homem branco faz roupas mais adequadas à vontade de vestimenta do índio do que as peles de animais ou a palha. As icônicas fotos de índios em caminhonetes luxuosas, vistoriando suas reservas, já circularam muito pelos reinos dos homens brancos. Cavalos são bons, mas Pajeros são melhores.

Índio não quer saia de palha, quer luz elétrica. Porque o índio é exatamente igual a qualquer outro homem ou mulher

Quem acha que o índio gosta de viver isolado em condições precárias para os padrões de hoje nunca conversou com um.

Quem em sã consciência pode achar que um homem não deseja os confortos da vida moderna? Índio não quer saia de palha, quer luz elétrica. Porque o índio é exatamente igual a qualquer outro homem ou mulher. Ser humano como qualquer outro, ele procura o conforto como todo mundo. E aumentar o conforto e o nível de condição de vida humana é virtualmente tudo que se procura na inovação e no empreendedorismo. O objetivo de todo homem – inclusive do índio – é ter mais qualidade de vida, e isso produz um ciclo virtuoso.

O progresso e o aumento do conforto e da condição de vida dos índios lhes foram negados pelo homem branco, pelos especialistas que decretaram que não podem ter propriedade, que não podem ter bens e não podem passar seus bens a seus filhos por herança. Não podem ser plenamente inseridos no mercado, pois não podem empreender e abrir empresas. Não podem também comprar ou vender, pois é proibido aos comerciantes fazer entrepostos comerciais em suas terras.

Os índios e suas comunidades, com a política a eles imposta, são verdadeiras peças de um gigantesco museu a céu aberto, criado para preservar um modo de vida que forçosamente os prende no passado e em condições de vida sub-humanas. Suas terras compreendem 13,8% do território nacional, sendo que a população indígena perfaz aproximadamente 0,4% da população brasileira.

Assim, essas terras não são deles de verdade. Não as podem explorar. Não podem trabalhar ou produzir, nem participar do mercado. São eternamente dependentes da caridade do homem branco, com suas cestas básicas e suas esmolas, em pedágios que eles desesperadamente criam nas rodovias próximas às suas populações. São um grito desesperado de quem quer comprar e trocar, ser parte do mercado. Ninguém gosta de ser impedido de progredir, nem de ter a possibilidade de melhorar de vida negada por uma política cega e burra como a que nós lhes impomos.

As demarcações de terras são nada mais do que esperança a conta-gotas para um povo ao qual o progresso é negado. Esperança que não pode ser convertida em realidade, pois o índio não é dono de fato dessa terra, não pode gozar da sua riqueza. A ele só é facultado usá-la como seus antepassados faziam: de uma forma que não traz o conforto e a melhoria de vida, apenas a crua sobrevivência. Caça, pesca e coleta.

O que o índio quer é livre mercado e livre iniciativa, capitalismo como qualquer outro ser humano. O que nós damos a eles é a esperança de que eles terão capital e meios para, algum dia, entrar no livre mercado. Mas esse dia lhes é negado por lei. E isso tem de mudar.

Marco Poli, graduado em Engenharia Mecânica com MBA em Finanças, é membro do quadro de especialistas em Escola Austríaca do Instituto Mises Brasil e leciona eventualmente na Stanford University.

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