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Muitos estudiosos falam e ensinam sobre a arte de empreender e ganhar dinheiro. Todavia, ser um empreendedor bem sucedido passou a ser o sonho de muitos jovens e tema nas academias. Mas a arte de empreender ultrapassa as quatro paredes de uma sala de aula e as folhas de um bom livro.

Dias atrás, surpreendeu-me ver um menino franzino, aparentando ter uns 12 anos de idade, em meio à multidão de um grande shopping paranaense. Driblando os seguranças treinados, ele sobressaía com suas vendas entre as grandes marcas de fast food, sussurrando no ouvido dos seus “clientes”: “quer comprar balinhas ou chicletes?” Ao fim do dia, ele segue rumo a sua casa com a diária garantida. Sim, esse menino não leu bons livros e, possivelmente por motivos sociais e familiares, não terá acesso à sala de aula, que é seu lugar.

As academias e os livros podem contribuir, mas um bom empreendedor tem em sua gênese a fórmula do empreender e, muito mais, a fórmula da sobrevivência

Meninos como esse têm assumido um papel importante na sociedade dos invisíveis. Até então vistos nos semáforos e nas esquinas dos grandes centros urbanos, compram, vendem e geram lucros para a demanda capitalista. O fato é que esse não é o lugar certo para eles, mas as circunstâncias os levam a faze parte desse mundo empreendedor para sua própria sobrevivência em sociedade.

Tive o privilégio de conhecer e observar as práticas de comerciante autônomo desse menino morador de periferia, em meio ao fluxo do shopping. Ele tem garantido a sobrevivência não só familiar, mas a sua própria, pois ou vive na clandestinidade comercial ou será reconhecido no mundo da criminalidade pelos seus dons de empreender.

As academias e os livros podem contribuir, mas um bom empreendedor tem em sua gênese a fórmula do empreender e, muito mais, a fórmula da sobrevivência. Nessa ótica, tudo passa a ser balela, pois o bom empreendedor é aquele pivete astuto que sobrevive à violência territorial e não se deixa levar para a criminalidade. Em meio às grandes marcas, ganha sua vida e, com certeza, em um futuro próximo será dono do seu empreendimento em sua periferia.

José Antonio C. Jardim, teólogo, ativista social, produtor cultural e palestrante na área de drogas e juventude, é coordenador estadual da Central Única das Favelas (Cufa).
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