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O método Benjamin Franklin
| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

Benjamin Franklin (1705-1790) foi um dos líderes da Revolução Americana de 1776, sendo bastante conhecido por citações e experiências com a eletricidade. Além disso, foi o primeiro embaixador dos Estados Unidos na França e eleito membro da prestigiosa Royal Society; depois, tornou-se o primeiro Ministro dos Correios dos EUA.

Ainda jovem, Franklin trocava cartas com um amigo, em que debatia se as mulheres deveriam ou não ser educadas em escola. Seu pai encontrou essas cartas. Este não ficou preocupado com o tema do debate – Benjamin era a favor da educação das mulheres. Longe disso, ele se mostrou descontente com a má qualidade dos textos de Benjamin, que se expressava de maneira pouco articulada. Benjamin Franklin não queria decepcionar o pai; assim, ele se comprometeu a tornar-se um grande escritor.

Para iniciar esse caminho, começou a ler The Spectator, uma publicação bastante popular nos anos 1700, em toda a Inglaterra e nos EUA. The Spectator era conhecido por sua redação de alta qualidade e por excelentes peças de opinião sobre assuntos globais. Para Franklin, era o modelo de escrita, perfeito para imitar.

Benjamin teve uma ideia: ele criaria o esboço de um artigo que admirasse. Quais os principais pontos de cada seção? Uma vez concluído o esboço, ele reescreveria o artigo usando o mesmo roteiro do texto original e trabalharia para elaborar frases da maneira mais correta possível. Quando o finalizasse, as compararia com o original, para ver o quão bem ele havia se saído.

Depois de passar algum tempo estruturando cada sentença, Franklin tornou sua tarefa ainda mais complicada: começou a embaralhar seu esboço e buscou descobrir o melhor e mais convincente modo de reorganizar o artigo.

O processo funcionou! À medida que Franklin fazia esse exercício de imitação, descobriu que seus escritos estavam ficando cada vez mais aprimorados. Em vários aspectos, seu trabalho ficava melhor que o original. Mais tarde, ele escreveu: “Às vezes, senti o prazer de imaginar que, em certos detalhes de pequena importância, tivera a sorte de melhorar o método da linguagem, e isso me encorajou a pensar que possivelmente chegaria a hora de ser um excelente escritor na língua inglesa”.

Esse tipo de imitação é algo bastante comum em inovação. O Método Benjamin Franklin envolve observação cuidadosa e recriação de produtos e serviços com aprimoramentos. Pessoas inovadoras usam o método Benjamin Franklin. Ao longo do processo, elas se expõem a uma familiaridade conhecida de seu público-alvo. Então, elas podem adicionar uma novidade, inspirada nessa familiaridade necessária. O método Benjamin Franklin é uma parte crítica do processo criativo. Há vários bons exemplos de sucesso pela aplicação desse método.

A empresa de restaurantes White Castle foi a primeira a organizar o segmento de fast food, mas algum tempo depois, a rede MacDonald’s copiou a ideia, melhorou o serviço e se transformou em uma das principais multinacionais do mundo, no ramo. O Diners Club foi o primeiro a disponibilizar cartões de crédito, mas foi superado pelos “imitadores” do segmento: Visa, Mastercard e American Express.

Em todos os setores, nota-se a existência cada vez maior do número de empresas que oferecem ao consumidor serviços ou produtos semelhantes, porém com melhorias. Nesse aspecto, é evidente que a competitividade entre as organizações está crescendo; por isso as empresas que procuram e oferecem algum diferencial ao cliente aparecem na dianteira dos concorrentes.

Um estudo realizado pelo professor Oded Shenkar — que possui um Ph.D. pela Universidade de Columbia e trabalha na Fisher College Business, EUA, sobre o impacto de invenções em modelos de negócios e suas imitações posteriores — revelou que as imitações são importantes fontes de avanço para a evolução dos produtos ou serviços. No estudo, revela-se que 97,8% do valor gerado por invenções são obra de “imitadores”.

Há tanto imitações positivas quanto negativas. As primeiras são as que agregam valor ao produto ou serviço inicial, conforme expectativas dos consumidores. Aqui se enquadram, por exemplo, os produtos japoneses e agora os chineses. Já as imitações negativas fazem cópias puras e simples, sem que nenhum valor seja agregado, além do preço mais baixo.

Os que apenas copiam também ganharão dinheiro, porém a rentabilidade normalmente está associada à possibilidade de ser o diferencial do segmento e, consequentemente, não ter qualquer parâmetro de comparação. Às vezes, não é necessário ser o pioneiro, mas é preciso sempre buscar inovação no próprio seu setor. Henry Ford (1863 - 1947) não inventou o carro, porém desenvolveu uma forma de fabricá-lo mais barato.

As patentes são um modo de o governo preservar ao inventor a propriedade de sua criação. Por um determinado período, os portadores de patentes têm permissão de controlar como suas invenções/inovações são utilizadas, permitindo que obtenham recompensa financeira sobre seu trabalho. As patentes protegem os investimentos realizados pelas empresas, tais como as indústrias de medicamentos, para as quais esse prazo perdura por vinte anos. Mesmo nesses casos, há governos que acabam quebrando tal direito em nome do bem comum.

A Creative Commons, organismo internacional que regula a questão da propriedade intelectual, cria diversas modalidades conforme o uso e o autor. O mundo, contudo, caminha para um sistema de “inovação aberta”, termo criado por Henry Chesbrough, professor e diretor executivo no Centro de Inovação Aberta da Universidade de Berkeley e chairman do Centro de Inovação Aberta, no Brasil.

É certo que o quadro atual da crise sanitária desencadeada pelo novo coronavírus, causador da Covid-19, está repleto de obstáculos e preocupações para o setor privado e governamental. Apesar de o país contar com o SUS, o volume de demanda crescente causado pela doença é motivo de precaução e insegurança devido à possibilidade de escassez de materiais e recursos.

No entanto, o momento de pressão e instabilidade tem funcionado como combustível para mentes inquietas e dispostas a gerar valor comunitário e mercadológico com soluções para proteger a população, e combater e gerir a pandemia, que já atingiu vários milhões de pessoas no planeta. Produtos e serviços gerados a partir da inovação aberta são capazes de causar impactos locais que, somados, fazem a diferença em um momento social inédito, em escala e proporção.

O jovem Benjamin Franklin jamais poderia imaginar o quão respeitado e popular ficaria seu método em pleno século 21!

Marcos de Lacerda Pessoa, engenheiro, Ph.D. pela Universidade de Birmingham (Inglaterra) e pós-doutor em Engenharia pelo MIT, é autor de Sementeira de Inovação e proprietário do centro de apoio à inovação futuri9.com.

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