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O patrulhamento “progressista” e politicamente correto
| Foto: Pixabay

Os dias que correm, para muitos de nós, trazem a terrível sensação de que não podemos expressar nossas opiniões ou mesmo defender nossos pontos de vista, sob o risco de provocarmos reações vigorosas em pessoas que se sentirão ofendidas ou que tentarão simplesmente desqualificar nossos argumentos. Invariavelmente, isso acontece quando assumimos posições contrárias ao ideário progressista, globalista, socialista e ambientalista. Como consequência, somos aquinhoados com inúmeros rótulos.

Se você acredita que o agronegócio deve ser incentivado e que a Amazônia deve ser cuidada soberanamente pelo Brasil, você é considerado “contrário à preservação do meio ambiente” e “a favor do desmatamento”. Na mesma linha, se você questiona as previsões sobre o aquecimento global ou diz que as conclusões parecem descabidamente alarmistas, você é chamado de “negacionista”.

Se você acha que as fronteiras de um país devem ser rigidamente controladas, você será considerado um “xenófobo”. Do mesmo modo, se você acha que imigrantes devem seguir as leis e se adequar aos costumes e cultura do país que os acolheu, você é considerado um “intolerante”.

Se você acha que transgressores da lei devem ser sentenciados justa e celeremente e encarcerados por períodos compatíveis com a gravidade de seus crimes, você é considerado como “contrário aos direitos humanos”.

Se você se posiciona contra a liberação das drogas, você é considerado um “careta”.

Se nós não aceitarmos passivamente o ataque a muitas das coisas que mais prezamos e nas quais acreditamos, seremos tachados como “reacionários”

Se você diz que cotas são soluções inadequadas e que também causam injustiça, você é encarado como um deplorável “racista”.

Se você contar uma piada sobre alguma minoria incluída na habitual relação esquerdista de oprimidos, você será chamado de “preconceituoso”.

Se você aprecia a estética e a beleza nas artes, e não a transgressão e a escatologia, você é visto como um “retrógrado” que não sabe valorizar uma postura de vanguarda.

Se você acredita que as pessoas devem ter o direito de defender suas casas, propriedades e famílias com armas, mesmo que você nunca tenha pretendido comprar uma, você é considerado como “alguém que prega a violência”. Semelhantemente, se você defende que a polícia e o Exército exerçam seu papel constitucional com firmeza na defesa da ordem, você é considerado um “autoritário”.

Se você concorda, em linhas gerais, com as ideias do liberalismo econômico, você é considerado como alguém “insensível” que “não se importa com os pobres” ou que não quer que a pobreza diminua.

Se você aponta iniciativas e decisões acertadas do atual governo, você é chamado de “bolsominion”. Na mesma linha, se você defende nas redes sociais personagens e ações do Executivo, a operação Lava Jato e o combate à corrupção, você é visto como um “miliciano digital”.

Se você acha positiva a aproximação com os Estados Unidos, você é um “defensor do alinhamento automático” e um “entreguista” submisso ao imperialismo ianque.

Se você se mostrar inconformado com a doutrinação esquerdista nas escolas, você é um “opressor” contrário à liberdade de cátedra. Igualmente, se você não gosta que suas crianças sejam perturbadas pela ideologia de gênero, você é considerado “homofóbico”. Além disso, se você acredita que crianças ou adolescentes não devem mudar de sexo, ou que quem nasceu com cromossomos XY não deve competir nos esportes contra quem nasceu com cromossomos XX, você é considerado um “transfóbico”.

Se você é homem e já tiver gritado ou castigado seus filhos, você é considerado como alguém portador de “masculinidade tóxica”.

Se você acha normal que homens tenham atributos masculinos e que mulheres tenham atributos femininos, você é considerado “sexista”. Pior: se você é homem e quiser ser gentil ou enaltecer a beleza feminina, você é considerado um “chauvinista”. Pior ainda: se você é homem e critica o discurso de feministas contra o papel e figuras masculinas, você é considerado um “misógino”.

Se você defende que as pessoas possam expressar suas crenças religiosas, mesmo em cargos públicos (“fique com Deus”, “que Deus os abençoe”, “em Deus nós acreditamos”) é porque você é “contra o Estado laico”. Por outro lado, se você insinuar que islamitas radicais não se mostram tolerantes e que não parecem conviver em paz com cristãos e judeus, você é tido como um “islamofóbico”.

Se você constata que significativa parcela dos jornalistas nos grandes meios de comunicação é de esquerda e que eles com frequência agem como militantes, você é considerado como alguém que é “contra a liberdade de imprensa”.

Se você recorda que o socialismo já matou mais de 100 milhões de pessoas, você é um sujeito “sem coração” que “não conhece o ‘verdadeiro’ socialismo”. De modo semelhante, se você não quer que esqueçam que o lulopetismo é uma ameaça que dilapidou o país por 15 anos e quase o destruiu, alinhando-o às piores ditaduras do planeta, você é um “chato” que “só fala de política” e não quer virar a página.

Se você lê livros de pensadores conservadores, você é considerado um “radical de direita”. Se você, então, defende ideias conservadoras e de direita, aí então você não passa de um “nazista” intolerante.

Em suma, se nós não aceitarmos passivamente o ataque a muitas das coisas que mais prezamos e nas quais acreditamos, seremos tachados como “reacionários” que propagam o “discurso de ódio”. Se nós, ao contrário, nos silenciarmos e aceitarmos o patrulhamento "progressista" e politicamente correto, dificilmente seremos atacados ou iremos nos indispor com alguém, mas nossa falta de coragem e assertividade terá consequências para nós mesmos, para nossos filhos, para a sociedade brasileira e para a civilização ocidental. Consequentemente, temos uma escolha a fazer. Afinal, quem queremos ver quando olhamos no espelho?

Fabio de Biazzi, engenheiro de Produção e doutor pela Escola Politécnica da USP, é professor de Liderança e Comportamento Organizacional do Insper.

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