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Com a debandada quase unânime do PMDB, o impeachment de Dilma ficou mais provável. O PT ainda luta desesperadamente para se manter no poder, faz “o diabo”, usa a máquina estatal para comprar apoio e leiloa cargos como se estivesse num balcão de feira. Mas dificilmente será capaz de evitar uma saudável mudança, que poderá estancar a sangria e colocar o Brasil na rota da reconstrução.

Como seria um eventual governo Temer? Em primeiro lugar, é bom lembrar que quem votou em Temer foram os próprios eleitores de Dilma, não a oposição. Dito isso, parece inegável que o atual vice-presidente acumula algumas características positivas para representar o pós-PT, apesar de ter sido aliado da turma esse tempo todo.

O grande mal da nação não é o PT, e sim o que ele representa tão bem: o esquerdismo estatizante

Temer é discreto, tem boa formação e não demonstra viés ideológico, não tem o DNA comunista como a cúpula petista. Além disso, vem deixando clara a sua divergência com os rumos do governo Dilma. Conseguiu unir seu partido, o que é um feito e tanto. Contou, claro, com a “ajudinha” dos próprios petistas, que escancararam de vez seu lado golpista, forçando uma reação de quem não quer ver o Brasil virar uma Venezuela.

O projeto “Uma ponte para o futuro”, apresentado pelo partido, tem tópicos interessantes para reformas. O grande mal da nação não é o PT, e sim o que ele representa tão bem: o esquerdismo estatizante. É verdade que o PT tem defeitos específicos que mesmo gente da esquerda repudia. Mas, na essência, nossos problemas vão além do PT. Precisamos abraçar o livre mercado, reduzir o escopo de atuação do Estado, seguir o exemplo dos países desenvolvidos.

Toda jornada começa com um primeiro passo. Hoje, a prioridade é impedir a desgraça bolivariana, ou seja, tirar o PT do poder. O segundo passo será reconstruir essa ponte que permita aos brasileiros voltar a sonhar com um futuro melhor. Temer não será como Mauricio Macri na Argentina, mas pode ser o responsável por limpar o caminho para o Macri brasileiro, ainda por vir.

Temos no passado um exemplo interessante, que foi o de Itamar Franco. O Plano Real surgiu durante seu frágil governo “tampão”. Se Temer for capaz de introduzir um novo Plano Real, dessa vez fiscal, e aprovar algumas das reformas propostas no documento de seu partido, então o Brasil terá deixado um pouco desse modelo quase socialista para trás, podendo trilhar destinos melhores.

Recomendo como inspiração a Temer e todos os que irão compor seu eventual governo um pequeno livro escrito por Bill Frezza: New Zealand’s Far-Reaching Reforms, um estudo do caso de sucesso do pequeno país que salvou sua democracia do caos, e hoje é admirado pelo mundo todo. A Nova Zelândia nem sempre foi esse ícone de prosperidade. Ao contrário: era um país praticamente fadado ao fracasso. Até resolver mudar.

E tais mudanças, por incrível que pareça, foram realizadas no começo por um partido de esquerda, ou melhor, por algumas lideranças dentro dele, em parceria com lideranças da oposição. O risco de catástrofe era grande e forçou uma mudança, pois a fuga pela demagogia não era mais sustentável. Uma transformação dramática ocorreu, com mais transparência nos gastos públicos, redução da dívida do governo, abertura econômica, flexibilização do mercado de trabalho e independência do Banco Central.

Temer está longe de ser um liberal. Mas Roger Douglas, um dos grandes artífices dessas mudanças, tampouco o era. Ele estava no lado trabalhista, de esquerda, mas tinha bom senso e humildade para mudar. Que Temer siga o mesmo exemplo, para o Brasil voltar a trabalhar por um futuro melhor.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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