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O protagonismo socialmente invisível da enfermagem
| Foto: Pixabay

Escolhi uma profissão que tem como premissa a ciência e a arte do cuidar: a de enfermeira. Profissional do cuidado, da atenção às pessoas no seu desequilíbrio saúde-doença, nas fragilidades, receios, limitações e perdas. Acima de tudo, somos profissionais do compromisso com a vida. Ciente da responsabilidade que essas características trazem, vejo a necessidade de levar à sociedade a reflexão sobre a invisibilidade social da categoria, apesar de seu protagonismo em todas as áreas da saúde.

A enfermagem está presente em todas as etapas da vida das pessoas, com a responsabilidade de levar atenção e prestar cuidado diferenciado às necessidades de cada uma dessas fases, com qualidade e segurança. Nos serviços de saúde, seja qual for a complexidade, é o profissional de enfermagem que acolhe, que identifica fragilidades, que acompanha procedimentos, prepara para exames e cirurgias, que está atento a reações e à necessidade de demandas pontuais e específicas. Apesar dessa multiplicidade de funções exercidas por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, é comum o entendimento equivocado e a reclamação “só fui atendido pela enfermeira”.

A consulta de enfermagem, realizada pelo enfermeiro, não é uma subconsulta ou um atendimento de segunda categoria, mas sim uma atribuição prevista pela Lei do Exercício Profissional, em protocolos elaborados por diferentes instâncias, inclusive o Ministério da Saúde, bem como protocolos institucionais de diversos serviços de saúde, tanto públicos como privados.

O enfermeiro é um profissional capacitado para realização de consulta que aborda as necessidades básicas do paciente

O enfermeiro realiza a consulta baseado em conhecimentos técnicos, científicos e metodológicos adquiridos em cinco anos de graduação, em especializações, mestrado e doutorado. Portanto, o enfermeiro é um profissional capacitado para realização de consulta que aborda as necessidades básicas do paciente. Ele pode e deve realizar consulta de enfermagem, fazer procedimentos, solicitar exames complementares, prescrever medicações previstas nos protocolos institucionais, baseado no raciocínio clínico, exame físico, diretrizes clínicas e terapêuticas. Pode, ainda, orientar o paciente e familiares quanto aos diferentes tratamentos e encaminhar para outros profissionais.

Os técnicos e auxiliares de enfermagem atuam sob a supervisão do enfermeiro e juntos formam a grande força de trabalho da saúde. No sistema público, chegam a ocupar mais de 60% das funções, garantindo acolhimento e resolutividade na assistência, promoção da saúde e prevenção de doenças, além de assumir muitos papéis na gestão. No Paraná, temos mais de 100 municípios com enfermeiros comandando secretarias municipais de Saúde, uma função complexa que exige domínio de gestão, conhecimento de políticas públicas e capacidade de liderança, que é uma das características da profissão.

A invisibilidade social a que a categoria está submetida tem sido responsável por um quadro de desmotivação profissional, evasão de mão de obra, baixa autoestima, desgaste e adoecimento dos trabalhadores pela sobrecarga da jornada, entre outros fatores. Pelo fato de estar e cuidar das pessoas de forma permanente e contínua, é necessário um olhar de cuidado com esses profissionais, é necessário cuidar de quem cuida.

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Nem todos sabem, mas, apesar de enfrentar plantões de intensa atividade, o profissional de enfermagem não tem um espaço de descanso digno nos serviços de saúde, ao contrário de outras profissões que também atuam em plantões. Essa é uma das lutas da categoria que precisa de visibilidade, assim como a jornada de 30 horas semanais, a definição de um piso salarial que atenda minimamente as necessidades básicas de sustento dos profissionais e o dimensionamento adequado das equipes de enfermagem, de forma a garantir segurança nos serviços oferecidos à população.

A sociedade pode ser uma força a mais na luta por melhores condições de trabalho para a categoria. Temos momentos de grande reconhecimento e gratidão, principalmente de familiares que acompanham a dedicação dos profissionais em restabelecer a saúde dos enfermos. Mas é necessário que esse reconhecimento individual possa também ser traduzido em respeito e projeção social. Informem-se, conheçam nossa formação e reconheçam nossa capacidade, habilidade e liderança. A enfermagem cuida das pessoas nos momentos de maior fragilidade física e emocional e, portanto, precisa ser valorizada. Onde há vida, há enfermagem. Valorizar esses profissionais é valorizar a vida.

Simone Peruzzo é enfermeira e presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná.

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