• Carregando...
 | Tomaz Silva/Agência Brasil
| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Vira e mexe nos deparamos nos jornais com a expressão “gargalo de infraestrutura”. Parece um tema metafísico. Afinal, ouvimos falar do tal gargalo todo dia, mas nada de muito impactante acontece. A vida segue.

Essa postura de empurrar para frente o problema dá a falsa sensação de que ele não existe. O xis da questão é aquilo que os economistas chamam de custo de oportunidade. Diferente de uma perda direta, o custo de oportunidade diz respeito a deixar de ganhar algo. O custo da postergação é não gerar o crescimento econômico necessário para que todos vivamos melhor.

Todavia, de vez em quando o problema surge para nos assombrar. Ao aparecer, nos tira da zona de conforto. A greve dos caminhoneiros nos mostra isso. Mostra que temos um modal de transporte arcaico e que de fato, “sem caminhão o Brasil para”. Parando os caminhões, há desabastecimento. O desabastecimento gera insegurança. A insegurança gera alarmismo. Enfim, instala-se esse clima de crise que marca esses últimos dias.

Para gerar a transformação necessária é preciso deixar de lado os velhos modelos

Problemas complexos não têm uma resposta fácil (se tiverem, ela está errada). Várias causas se somam para que tenhamos chegado a esse ponto. Excessiva concentração na indústria do petróleo, ingerência política na Petrobras, alta carga tributária, subsídios para o setor automotivo, todos contribuem para o caos. O elemento comum a todos esses temas remete à questão da infraestrutura. Precisamos de estradas. Precisamos de capacidade de transporte que permita produzir e vender a preços competitivos. Portos, ferrovias, navios, etc. Diferentes opções sempre são o melhor remédio para as crises. Elas criam o que os economistas chamam de elasticidade preço/demanda. Quando mais substitutos houver para uma necessidade, melhor será a capacidade de defesa dos indivíduos frente às oscilações de preço. O preço do diesel sobe? Ele cai se houver alternativas. Os caminhoneiros fazem um lock out? Ok, vamos de trem. A lógica é essa.

Para gerar a transformação necessária é preciso deixar de lado os velhos modelos. É preciso pensar como ajustar a capacidade de investimento e a criatividade da iniciativa privada com os objetivos públicos, de modo a permitir um ambiente de negócios arejado para que os grandes empreendimentos demandados pela nação aconteçam.

Leia também: As classes produtoras pagam pelo caos brasileiro (artigo de Marcos Domakoski, publicado em 25 de maio de 2018)

Opinião da Gazeta: Estrada para o desenvolvimento (editorial de 28 de maio de 2018)

Essa crise deve nos ensinar algo. Os temas relativos à capacidade de a economia brasileira gerar soluções inovadoras, especialmente no setor de infraestrutura devem ser enfrentados. Os custos de adiar o debate são os que estão diante de nossos olhos. Os problemas não deixam de existir porque os ignoramos. O clima apocalíptico desses dias poderia ser evitado se de fato estivéssemos promovendo as mudanças de que necessitamos. Mas preferimos que as questões importantes sejam sacrificadas no altar de nossas urgências.

Bernardo Strobel Guimarães é mestre e doutor em Direito pela USP, professor da PUCPR e advogado. Heloísa Conrado Caggiano é mestre em regulação econômica pela FGV/Rio e advogada.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]