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O recente anúncio da autorização para que uma operadora independente de cartões de crédito possa atuar como instituição financeira é mais um sinal de que as fintechs, startups de serviços financeiros, entraram de maneira intensa na vida dos brasileiros. Trata-se de um novo modelo de negócios voltado para a entrega de serviços financeiros tradicionais tais como contas correntes, empréstimos e financiamento, cartões de crédito e de débito, investimentos, transferências, pagamentos, seguros, entre outros.

Para entendermos a importância desse novo modelo de negócios, precisamos nos remeter às razões econômicas para a existência de instituições financeiras. Ou seja, responder a seguinte pergunta: por que elas existem?

Duas das respostas a essa questão nos interessam aqui. A primeira delas é que se as operações de crédito fossem realizadas diretamente pelas pessoas haveria duplicação dos custos de avaliação, concessão e monitoramento do crédito. Instituições financeiras eliminam a duplicidade de esforços nesse processo. Além disso, a atividade em si seria realizada com menor eficiência diante da falta de perícia do poupador médio em analisar corretamente a capacidade de pagamento do tomador dos recursos.

Pequenos compradores de serviços financeiros enfrentam custos de transação superiores aqueles enfrentados por grandes consumidores

Outro aspecto importante é o impacto que sistemas organizados de intermediação financeira tem sobre os custos de transação. Pequenos compradores de serviços financeiros enfrentam custos de transação superiores aqueles enfrentados por grandes consumidores. Ao agrupar seus ativos e passivos em instituições financeiras, poupadores e tomadores individuais conseguem diluir parte desses custos de transação.

Diante dessas características, podemos destacar que o novo modelo de negócios contribui tanto para reduzir a assimetria informacional quanto na redução dos custos de transação. O primeiro aspecto está presente em qualquer relação de consumo, pois normalmente o vendedor do bem ou serviço conhece melhor os seus atributos. A natureza desse novo formato, com uso intensivo de tecnologia, permite um fluxo maior e mais rápido de informações e a utilização do serviço mais simples e intuitiva.

Além disso, tendo em vista que as fintechs foram criadas com estruturas leves, com baixo investimento em capital fixo, elas podem prestar serviços financeiros com custos menores se comparados aos das instituições financeiras tradicionais. O serviço também é prestado com maior velocidade e comodidade já que boa parte das transações é realizada com dispositivos móveis.

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Por outro lado, a história recente mostra que o crédito fácil, na forma tradicional, promoveu expansão significativa dessas operações e o aumento da inadimplência. Há que se refletir se a facilidade de acesso possa contribuir para o aumento do problema, dada a redução em custos de transação e o incentivo ao consumo resultante daí.

Por fim, devemos destacar que a proliferação de fintechs poderá injetar uma boa dose de concorrência no mercado financeiro brasileiro. Dentro do modelo tradicional há barreiras à entrada de novos concorrentes no sistema financeiro, que hoje é praticamente dominado por grandes instituições. Cerca de 85% dos ativos e passivos do sistema estão concentrados em cinco conglomerados financeiros. Essa concentração reduz a eficiência do setor e eleva preços para o consumidor dos serviços, cenário que pode mudar diante da emergência e consolidação de novos formatos organizacionais que trazem o menor custo e a agilidade em seu DNA.

Eduardo Senra Coutinho, doutor em Administração, professor titular de finanças e coordenador da graduação em Administração do Ibmec/MG.
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