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Neste mês de setembro celebrou-se o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. O suicídio é um problema que acompanha a condição humana desde o início do desenvolvimento da humanidade e deve ser entendido enquanto problemática social. O escritor e filósofo Albert Camus, em seu ensaio O Mito de Sísifo, sustenta que o suicídio é o único problema filosoficamente sério. O sociológo Émile Durkheim concebe o suicídio como um fato social, uma representação coletiva de uma sociedade que oscila entre a anomia (desorganização social passageira) e a patologia (problemas sociais enraizados, como a violência, por exemplo). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 800 mil pessoas cometem suicídio por ano no planeta. Um número preocupante que coloca o suicídio não somente como um problema filosófico ou sociológico, mas também de saúde pública.

O Brasil, segundo dados da OMS, em 2012, ocupava a 12.ª posição no ranking dos países com maiores índices de suicídio. O mesmo estudo da OMS apontou que 75% dos casos de suicídio ocorrem em países de baixa e média renda – ou seja, as condições socioeconômicas podem ser “gatilhos” para esse fenômeno. Mas a singularidade de cada pessoa que comete o ato tem de ser analisada. Depressão, transtornos de humor e dependência química influenciam, também, no suicídio, assim como problemáticas pessoais e falta de competências cognitivas para lidar com suas questões. A psicoterapia auxilia o desenvolvimento dessas competências e deve ser um direito de todos.

A sociedade moderna apresenta individualismo e hedonismo em escalas selvagens

Mas não podemos desconsiderar o psicossocial. A sociedade moderna apresenta forte fragmentação social, ou seja, a introjeção do pragmatismo e do materialismo do sistema capitalista, relações de competitividade no trabalho, uma exacerbação narcísica do “eu” em detrimento do “nós”, individualismo e hedonismo em escalas selvagens, tecnicismo e funcionalismo da vida e das relações sociais que acabam sendo fugazes e superficiais. Essas questões promovem uma fragmentação do próprio indivíduo, que se sente desamparado, sendo que o suicídio é uma consequência dessa patologização social.

Desse modo, políticas de atenção e prevenção devem ser adotadas. Não por acaso, as faixas etárias dos adolescentes e adultos jovens (15-29 anos) e dos idosos (mais de 70 anos) são as mais propensas, pois são idades muito fragilizadas. Na primeira, o jovem necessita do pertencimento a um grupo e de afirmação identitária, e conflitos de ordem psicológica e sociológica podem levá-lo a uma instabilidade suicida. O bullying na escola e na internet pode ser um gatilho. Já o idoso pode sofrer por abandono, maus-tratos, preconceitos e luto pela perda do cônjuge e de pessoas da mesma geração.

Por essas questões de pertencimento, de suprir a desolação, a descrença e a carência em um mundo bruto, indiferente e agressivo, há os desatinos da busca por alternativas, seja em gangues juvenis, nos paraísos artificiais das drogas ou em seitas. Algumas seitas, como o Templo dos Povos, liderada pelo norte-americano Jim Jones, e a Ordem do Templo Solar, liderada pelo médico belga Luc Jouret na Suíça e Canadá, levaram milhares de pessoas ao suicídio em massa. No caso do Templo dos Povos, na Guiana, em 1978, mais de 900 pessoas morreram, incluindo o seu líder. Foi o maior caso de suicídio coletivo da história, levado a cabo por um homem persuasivo e manipulador, adorado como um “messias” por seus seguidores.

Esse é o perigo de uma sociedade com valores ambíguos e de falta de prevenção. Mas este problema está longe de ser superficial. Por tudo isso, o suicídio é uma patologia social que tem de ser combatida em todas as frentes por educadores, família, profissionais da saúde e por todos os cidadãos que podem humanizar um pouco mais um mundo que parece ser tão pouco atrativo para se viver.

Alexandre Collares Baiocchi é psicólogo. Rodrigo Batista de Almeida é farmacêutico. Silvano Aparecido Redon é sociólogo. Todos são professores do Instituto Federal do Paraná (IFPR), câmpus Palmas.
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