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 | Priscila Forone/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Priscila Forone/Arquivo Gazeta do Povo

Nas últimas décadas, o crescimento da obesidade em crianças no Brasil tornou-se mais preocupante. A obesidade infantil compreende questões complexas, dificultando a identificação de todos os aspectos associados a ela. Como um grave problema de saúde pública, esta situação fragiliza a infância, desprotegendo seus direitos humanos.

Segundo relatório publicado em 2016 pela Organização Mundial da Saúde, estima-se existirem no mundo 41 milhões de crianças menores de 5 anos com sobrepeso e obesidade. Um dos riscos decorrentes da obesidade em crianças é o desenvolvimento de condições crônicas associadas a ela, como diabetes e hipertensão, em idades ainda precoces. Outras doenças também podem afetar as condições metabólicas, cardiovasculares, ortopédicas e hepáticas, e seus efeitos também ocorrem na saúde física e emocional dos meninos e meninas.

Nos últimos dez anos, houve uma progressão do excesso de peso entre meninos e meninas no Paraná

O estado do Paraná não está distante da realidade brasileira e mundial. Dados coletados no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan WEB), de 2016, apontam que 55% das crianças menores de 6 meses consomem alimentos ultraprocessados; que 69% das crianças entre 6 e 23 meses consomem bebidas adoçadas; que 66% das crianças entre 5 e 9 anos consomem macarrão instantâneo. Estas informações confirmam quão vulneráveis estão nossas crianças perante o consumo alimentar disponível a toda a população. Vale ressaltar que o Brasil tem uma legislação frágil quanto a informações nutricionais nos rótulos alimentares, embora esteja, a partir de consulta pública, tentando avançar quanto à qualidade e segurança dos alimentos in natura e industrializados.

A pesquisa do site Cadê Paraná gerou a publicação de um informe com dados que potencializam a urgência desse diálogo na sociedade. O informe mostra que, nos últimos dez anos, houve uma progressão do excesso de peso entre meninos e meninas no Paraná.

Leia também: Os pediatras não têm medo do açúcar (artigo de Hugo Ribeiro, publicado em 10 de fevereiro de 2018)

Leia também: Alimentação e saúde na infância (artigo de Elisangela Vilela dos Santos, publicado em 6 de junho de 2016)

Precisamos evitar colocar a culpa na família, ou procurar encontrar uma única alternativa para a resolução desse problema. Questões éticas e epidemiológicas são necessárias para observar o cenário de doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, que clama por políticas públicas de proteção à vida saudável. A perspectiva de combater a obesidade na infância deve ser pautada e assumida por toda a sociedade, como compromisso elencado nas políticas públicas.

A educação da criança para sua autonomia progressiva em cuidar do corpo é uma das alternativas. A criança, passando a ser capaz, de acordo com sua faixa etária, de perceber que escolhas alimentares adequadas, assim como educação em saúde física, mental e ambiental podem contribuir para sua vida inteira, passa a fazer as escolhas certas na hora de alimentar-se com os pais ou mesmo longe deles.

A fome que ainda afronta a infância paranaense não é só de comida. É de alimento seguro, de liberdades, de lazer, de educação em saúde, de autonomia e potencialidades dos direitos humanos garantidos. Esta complexa relação de combate à obesidade infantil é um assunto que compete e precisa do impulso dos seres humanos, unidos.

Caroline Rosaneli, especialista em Saúde Coletiva pela Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), mestre em Alimentos e Nutrição pela Unicamp e doutora em Ciências da Saúde pela PUCPR, é pesquisadora na área de obesidade infantil.
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