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 | Menahem Kahana/AFP
| Foto: Menahem Kahana/AFP

Na semana passada, a Unesco – o braço da ONU para desenvolvimento da educação, ciência e cultura – votou uma resolução apresentada por Argélia, Egito, Líbano, Marrocos, Omã, Qatar e Sudão. Um texto que atenta contra a história universal e que foi aprovado por 24 votos a quatro, com 26 abstenções.

Com viés político-ideológico ou não, membros da ONU, no ano passado, propuseram e aprovaram exatamente 20 resoluções contra Israel; contra todos os demais países do planeta, foram apenas três. Nos últimos dois anos, o Conselho de Direitos Humanos da ONU condenou Israel por crimes mais vezes do que a todos os demais países do planeta juntos. Em um mundo onde vemos tráfico de pessoas para prostituição, estupro e sistemática violação dos direitos humanos da mulher, em 2016 Israel foi o único país a ser condenado por violência à mulher, sendo Israel um país onde mulheres lideram corporações, ocupam cargos na Corte Suprema, no Parlamento e chegaram até a liderar o próprio país.

Mais especificamente, falando da Resolução 40 com 7ª. 15, o documento, além de condenar Israel por colocar em risco o local, ignora qualquer vínculo das raízes judaicas, nomes, referência histórica, pertencimento de direito e posse do sítio do Monte das Oliveiras e reconhece o Monte do Templo apenas pelo nome árabe de Al-Haram Al Sharif.

O estrambólico papel a que se sujeitou a Unesco põe à prova a real capacidade desta instituição de cumprir com seu proposto de órgão balizador e de referência, na medida em que deseduca e “desacultura” a comunidade internacional. Em uma declaração logo após o episódio, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse, fazendo um paralelo do quão descolada da realidade histórica lhe pareceu tal resolução: “Dizer que Israel nada tem a ver com o Muro das Lamentações e com sua história é como dizer que a Grande Muralha não pertence à China, ou é como dizer que as pirâmides não pertencem ao Egito”.

O Muro das Lamentações sempre foi local de peregrinação para os irmãos judeus e cristãos

Sabe-se que o sitio é considerado o local mais importante para os judeus, pois ali foram construídos os dois templos sagrados, sendo o primeiro pelo Rei Salomão, em 1000 a.C, e o segundo, em 40 a.C. É de se ver também que tamanha é a conexão do Muro das Lamentações com o povo judeu que na diáspora, e inclusive em Jerusalém, o povo semita orienta suas preces em direção ao muro; já muçulmanos, principalmente palestinos residentes em Jerusalém, fazem suas orações dirigindo-se a Meca, na Arábia Saudita, o lugar mais sagrado para árabes muçulmanos. Meca situa-se a sudeste de Israel; portanto, quem reza olhando para Meca, se estiver no sul de Israel, reza normalmente de costas para o Muro das Lamentações e para a mesquita de Al-Haram Al Sharif; quando fora de Israel, nunca reza em direção a Jerusalém.

O Alcorão, livro sagrado para os muçulmanos a que com muito respeito aqui faço referência, não traz qualquer menção a Jerusalém, aos Templos ou à mesquita Al-Haram Al Sharif, enquanto sabemos que a Bíblia traz vasta menção a Jerusalém e ao Templo Sagrado, inclusive em suas medidas.

O Muro das Lamentações sempre foi local de peregrinação para os irmãos judeus e cristãos católicos e evangélicos, e para historiadores que, do ponto de vista acadêmico, sempre buscaram conhecer esse patrimônio cultural que repousou até então sob a doutrina do que deveria ser uma tríade fraternal com o povo muçulmano, mas que termina de sucumbir com a pouca esperança de paz em face da ideologia de uma minoria que insiste em reescrever a história, seja pela brutalidade do terrorismo, seja pelas vantagens diplomáticas de que gozam na disfuncional metodologia regimental de votação da ONU. Nesta organização, aliás, uma representação composta pelos chamados revisionistas ou integracionistas – que, mais uma vez afirmo, não representam a maioria da comunidade árabe muçulmana com quem o povo judeu busca a paz e harmonia, pois que assim o fez por séculos – busca, ao propor tais moções, impingir por maioria esmagadora, em chapa de coalizão com os demais países árabes no que se propõem votar e vencer, resoluções de toda sorte contra o Estado de Israel, que não possui petróleo para barganhar apoio de outros países.

Sabemos que a história até há muito pouco foi escrita e reescrita por aqueles que sobreviveram às guerras e impuseram suas verdades às alturas e forças de suas espadas em detrimento dos que tombaram pelo bem comum. Imagine, agora, a história reescrita por uma instituição como a ONU em plena era da internet? Será?

O estado de negação das verdades de alguns traz como consequências, para muitos, a difusão de inverdades que permeiam as camadas mais desinformadas, que promovem sincretismo de ideologia do ódio, e não a defesa da história. Cristaliza a ignorância das massas em direção à intolerância e mais violência. Dizia Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler, que de tanto repetir uma mentira ela acaba por tornar-se verdade; vamos, pois, em bom caminho se essa é a ideia da ONU.

Esta é também uma resolução que traz elemento institucional e jurisprudencial para outros tribunais e outras instâncias deste interminável conflito geopolítico que deve interessar a alguém, do contrário já teria acabado.

Termino dizendo que, entre os 24 países favoráveis a esta resolução, estava o Brasil, que se posicionou ao lado de Argélia, Bangladesh, Chade, China, Republica Dominicana, Egito, Irã, Líbano, Malásia, Marrocos, Ilhas Maurício, México, Moçambique, Nicarágua, Nigéria, Omã, Paquistão, Qatar, Rússia, Senegal, África do Sul, Sudão e Vietnã. Pergunto-me: alguma dessas nações seria exemplo de respeito aos direitos humanos? Como entender inclusive que nós, o Brasil, o maior país cristão do mundo, tenha votado a favor dessa moção? Resquícios de uma tentativa de governo bolivariano a ser instalado na América Latina?

Alexandre Nigri, administrador de empresas com especialização em real estate, é CEO da MCP Realty e vice-presidente do Grupo Maxinvest.
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