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Na última terça-feira, 17 de abril, o FMI publicou o seu relatório World Economic Outlook (“Panorama da Economia Mundial”) com um novo conjunto de previsões para o futuro da economia, apontando uma leve melhora nas expectativas para o crescimento global. Segundo os especialistas do fundo, a economia brasileira deve crescer 2,3% em 2018 e 2,5% em 2019, mais que o dobro do crescimento registrado em 2017, que foi de 1%.

Dentre as razões para esse crescimento estariam o fortalecimento do consumo e do investimento privado e as expectativas de inflação mais baixa, graças à política monetária adotada pelo governo brasileiro. Ainda segundo o fundo, a melhora nos preços das commodities, principais produtos de exportação do Brasil, ajudará na recuperação, mas o país deveria aproveitar a oportunidade para diversificar sua oferta de modo a se preparar para os desafios econômicos futuros.

O relatório aproveita para “chover no molhado”, recomendando uma série de políticas que ajudariam a ancorar essa melhora, como a realização da reforma da Previdência, a redução de barreiras comerciais e o aprimoramento do programa de concessões para infraestrutura. Essas mudanças auxiliariam o país a melhorar o equilíbrio das contas públicas, aumentar o crescimento e a produtividade e ajudar a preencher importantes lacunas na infraestrutura do país. O fundo alerta, ainda, para o risco de que as eleições coloquem esses ajustes em segundo plano, provocando mudanças abruptas na direção apontada pelo atual governo.

No aspecto social, o fundo recomenda que o Brasil amplie seus programas de redistribuição de renda, como o Bolsa Família, por exemplo, mencionando que vê como positivos programas que exijam contrapartida dos beneficiários, como manter as crianças nas escolas e com a vacinação em dia, por exemplo. Sugere, ainda, que o país modifique sua política fiscal, elevando o Imposto de Renda e reduzindo os impostos indiretos, que acabam afetando a todos indiscriminadamente, pesando de forma injusta sobre a camada mais pobre da população.

O FMI coleciona diversos erros de prognóstico, além de fracassos em políticas de auxílio a países em dificuldades

Em outubro do ano passado, a previsão do fundo para o Brasil era de um crescimento de 1,5% para 2018, previsão que foi revista para 1,9% em janeiro deste ano e, agora, é novamente revisada para 2,3%. Embora poucos leigos tenham essa noção, a Economia passa longe de ser uma ciência exata, e toda previsão futura só deveria ser considerada como minimamente válida caso todos os outros fatores permanecessem constantes – algo que, de fato, jamais se verifica no mundo real.

Em 2010, após a apresentação de projeções do fundo para a economia global em um encontro na Coreia, o filósofo e matemático Nassim Nicholas Taleb, autor de Antifrágil e A Lógica do Cisne Negro, disse à audiência que, da próxima vez que o FMI apresentasse suas projeções para algumas datas no futuro, que mostrasse também o que projetou para 2008 e 2009 nos anos anteriores, em uma clara alusão aos enormes erros cometidos por seus especialistas.

Taleb disse ainda que os experts do fundo apresentam-se ao mundo como especialistas enquanto oferecem a confiabilidade de astrólogos, e alertou que qualquer um que dependa dessas projeções seria um “peru”, provocando um forte desconforto em Takatoshi Kato, diretor do fundo que havia realizado a apresentação naquela ocasião.

O FMI coleciona diversos erros de prognóstico, além de diversos fracassos em suas políticas de auxílio a países em dificuldades, mas nenhum desses fatores parece convencer as pessoas de que o que vem do fundo deveria ser recebido com mais ceticismo do que o usual.

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Os economistas do mercado financeiro brasileiro estão ligeiramente mais otimistas, e as projeções do ultimo relatório Focus apontam para um crescimento de 2,76% em 2018, 0,46 ponto porcentual acima das projeções do FMI.

Segundo o filósofo Heráclito de Éfeso, a única constante com que poderíamos contar seria a mudança. É por conta dessa realidade ingrata que toda e qualquer previsão econômica tende sempre ao erro, não apenas por trabalhar com dados mutáveis, mas principalmente por ignorar a possibilidade do que Taleb denominou de “cisnes negros”, ou seja, eventos inesperados que causam grande impacto, modificando completamente os panoramas teórico e prático sobre os quais trabalhamos.

Uma escalada do conflito na Síria, o endurecimento da guerra comercial entre os EUA e a China, um crash no mercado acionário provocado pelo enxugamento de liquidez que vem sendo promovido pelo Federal Reserve, entre outros fatores, seriam apenas alguns exemplos de acontecimentos que podem colocar todas as previsões atuais no já não pequeno rol de erros de cálculo do FMI e de outras instituições.

Para aqueles poucos que preferem manter os olhos no horizonte e os pés firmemente plantados no chão, as previsões que emanam constantemente das bolas de cristal dos economistas são “não eventos”. Na melhor das hipóteses, são exercícios efêmeros de futurologia que têm a mesma chance de acerto de um cara ou coroa.

Jonas Fagá Jr. é analista e investidor internacional.
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