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Os ventos democráticos de rebeldia que sopram em toda América Latina representam a reação popular às políticas econômicas ultraliberais adotadas desde a década de 90, sob a inspiração do FMI e do Consenso de Washington, porque o povo entendeu que elas trouxeram mais desigualdade social, desemprego, miséria e criminalidade.

As sucessivas derrotas do conservadorismo para Lula, Hugo Chávez, Kirchner, Tabaré Vázquez (Uruguai), Michelle Bachelet (Chile) e Evo Morales (Bolívia) mais que a vitória da esquerda refletem uma onda nacionalista, fortemente impregnada de antiamericanismo.

Muitos consideram que as privatizações, a abertura comercial, os privilégios aos bancos e a elevação da dívida pública com o pagamento de juros escorchantes foram fatores de empobrecimento e de benefício às minorias privilegiadas.

Mesmo que não vençam, votações expressivas do ten. cel. Ollanta Humala nas eleições de abril no Peru e do ex-prefeito da Cidade do México, López Obrador, em julho, para a Presidência do México, desfraldando bandeiras marcadamente nacionalistas, com certeza terão reflexo direto nas eleições brasileiras de outubro deste ano.

A "mídia", os "cientistas políticos", o mercado financeiro, institutos de pesquisa já circunscreveram a disputa presidencial ao PSDB e ao PT. Porém, na próxima campanha, as cobranças aos candidatos serão exacerbadas. PSDB e PT terão que falar linguagem clara sobre suas reais intenções futuras e explicar o fracasso no desenvolvimento social e econômico e o acréscimo do endividamento para mais de R$ 1 trilhão.

O futuro quadro sucessório poderá abrir espaço para outros candidatos, que souberem interpretar o sentimento das massas e o nacionalismo em expansão pela América Latina.

Quem no Brasil refletiria com mais autenticidade essa tendência? O PMDB poderá exercer este papel se voltar às origens das lutas contra o arbítrio da ditadura e na defesa das teses sociais e populares, que assinalaram a caminhada do combativo "Velho MDB de Guerra".

Rigotto perdeu a prévia do PMDB (desautorizada por liminar judicial), por critério de ponderação, embora tenha obtido mais votos. Ele estava respaldado na operosa gestão de governador no Rio Grande do Sul e baseou sua pregação em cinco pontos cardeais: 1. Desenvolvimento e Geração de Empregos; 2. Compromisso com a Eqüidade e Justiça Social; 3. Reforço à Federação com Novo Pacto Federativo; 4. Ordem Republicana e Segurança da Cidadania; 5. Defesa Intransigente da Ética na Política.

Garotinho venceu a disputa ressaltando suas realizações no governo do Rio de Janeiro no campo social e econômico e usando linguagem forte contra a política de juros altos, real sobrevalorizado e tributação extorsiva. Defendeu o nacionalismo, o crescimento econômico e a restauração da esperança.

Os governistas do PMDB são contra a candidatura própria e querem a vice de Lula; as viúvas de FHC sonham apoiar Alckmin e ficar com a vice. Tudo indica, porém, que o PMDB ratificará a candidatura própria, porque as bases do partido querem um nome de suas fileiras, apesar da verticalização que obriga coligações para governador nos estados iguais às dos candidatos à Presidência da República.

Essa "camisa de força" da verticalização é uma variável do voto vinculado criado pela ditadura, que obrigava sufragar candidatos do mesmo partido a todos os cargos, sob pena de nulidade do voto. Esqueceram que o Brasil é uma Federação, com realidades diferentes nos estados e municípios. Felizmente, essa distorção vai acabar em 2010 quando entra em vigor a emenda constitucional que encerra a cláusula da verticalização. O Congresso Nacional na sua inércia e comprometimento não aprovou reforma político-eleitoral nem o fim da verticalização, até o prazo fatal de 31 de setembro de 2005.

Contando com o mais longo tempo no rádio e televisão dos programas da Justiça Eleitoral, e dispondo da maior estrutura partidária do país, Garotinho teria muitas possibilidades de levar o PMDB ao Palácio do Planalto. Nas eleições de 2002, concorrendo por partido pequeno, com dois minutos de televisão, obteve 18 milhões de votos. Seu maior obstáculo vai ser sobrepujar os caciques do partido, governistas de carteirinha, que em 1998 curvaram-se às benesses de Fernando Henrique Cardoso impedindo Itamar Franco de voltar à Presidência e em 2002 obstaculizaram a candidatura Roberto Requião. Agora, querem submeter-se a Lula ou Alckmin e sepultar os anseios de candidatura própria do PMDB.

A grande dúvida é se Anthony Garotinho terá garra e tenacidade para continuar na sua pregação de candidato, a fim de convencer os 500 convencionais do PMDB que a candidatura própria a presidente da República é o caminho para o partido galgar o poder e realizar seus ideais.

No próximo artigo, analisarei possíveis candidaturas do PDT, PPS e PSOL

(Continua.)

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