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Felipe Lima

Vários tratados internacionais de direitos humanos assinalam que a família tem primazia na escolha da forma de educação a ser dada aos filhos. Mas, no Brasil, nem todas as alternativas de ensino são contempladas pela legislação. Aqueles que hoje são pais e cresceram na década de 80 ou 90 se lembram da liberdade e segurança, das brincadeiras livres na calçada de casa; custa acreditar que um dia isso foi possível. Hoje, a regra é a qualidade de vida deixada de lado em nome do trabalho; pai e mãe com vidas completamente cheias, atarefadas, metas e planos profissionais – sim, somente planos profissionais. Em contraponto, mensalidades caríssimas e satisfação nem sempre garantida, resumida na frase “isso é o que eu posso pagar pela educação do meu filho”, dita por pais que não encontram colégios que atendam a todas as suas expectativas. Sempre falta algo aqui ou ali.

São justamente esses pais que estão mais atentos a novas alternativas de ensino, incluindo o ensino doméstico, ou homeschooling, que ainda busca regulamentação no Brasil apesar de já ser praticado em muitos países, inclusive no mundo desenvolvido. Encontramos interessados entre recém-casados, noivos, aqueles que já acolhem um bebezinho no lar, pais de famílias numerosas. Famílias que gostam de viajar, passar temporadas no exterior, tanto a passeio como em caráter profissional, ou como atividade cultural. Outras famílias trocam a cidade pelo campo, morando em chácaras, tendo contato com os animais. O homeschooling contempla todas essas situações, acolhe, proporciona flexibilidade. Com ele ganha-se tempo e o relacionamento familiar é marcado por mais contato e proximidade.

A família tem primazia na escolha da forma de educação a ser dada aos filhos

No homeschooling, os pais se dispõem a educar os seus filhos em casa. Educar, na verdade, já é função da família: apenas os nomes são substabelecidos ao profissional da educação, professores do ensino escolar. Cada família vai criar sua rotina, metodologia e forma de aplicar a educação doméstica; o que muda é que o ensino será aplicado no lar. Orienta-se que os pais procurem minimamente estar em conformidade com a Base Nacional Curricular Comum de acordo com a faixa de idade de cada criança.

Uma das vantagens do homeschooling, no que diz respeito ao currículo, é a possibilidade de os pais oferecerem um ensino compatível com seus valores religiosos e morais. Sou mãe, e posso dizer que o Estado não deveria jamais interferir nesses valores por meio da educação. Implementar teorias de gênero ou falar sobre sexualidade em sala de aula não são tarefas de um professor. Não é ético, e pode haver choque e constrangimento à família, à criança e ao adolescente que recebe uma formação conforme sua religião em casa ou na sua igreja ou templo.

Felizmente, tudo leva a crer que, devido à grande demanda de pais interessados, aumentam as possibilidades de regulamentação do homeschooling. Quanto maior a mobilização das famílias, maior será a interação com o meio político e com os parlamentares. Isso já está ocorrendo, embora haja muita resistência, pela falta de conhecimento, de profissionais e até mesmo de alguns responsáveis por órgãos de educação e serviço educacional.

Não estamos falando de abandonar a escola: estamos falando de uma alternativa para reaproximar as famílias. Estamos falando de mães e pais mais presentes, mais próximos de seus filhos.

Viviane Canello é pedagoga e mãe homeschooler.
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