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Orwell e o genocídio: as tentativas de criminalizar a ação de Israel contra o Hamas

Lula
Presidente Lula afirma que reação de Israel é "tão grave quanto" os ataques do Hamas, e que país está "matando inocentes". (Foto: reprodução/Canal Gov)

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George Orwell escreveu algo lapidar: “Não há rota mais rápida para a corrupção do pensamento do que através da corrupção da linguagem”. Ele, obviamente, não pensou em Gaza, pois ela inexistia como tal. Contudo, os acontecimentos em Gaza nos fazem lembrar o escritor britânico nascido na Índia. A corrupção da linguagem anda leve e solta, tanto nas bandas de lá como nas de cá. Principalmente no seio da política, academia e mídia.

Comece-se pelo termo genocídio. O termo foi criado pelo advogado judeu polonês Raphael Lemkin. Ele estava indignado com os massacres cometidos pelos nazistas contra os judeus. Conhecia pelos livros as matanças cometidas pelo Império Otomano contra os armênios durante a I Guerra Mundial. Os militares turcos não puderam, todavia, serem responsabilizados por não haver um tipo penal que descrevesse o ocorrido. Lemkin não se conformou.

Perseguido, mudou-se para os EUA onde tornou-se professor da Universidade de Duke. Lemkin acreditava que o julgamento das atrocidades nazistas contra alvos étnicos e/ou religiosos não eram suficientes para descrever juridicamente a barbárie. Advogava algo que pudesse impedir novos “hitlers” no futuro. Lutou incessantemente até que as Nações Unidas, em dezembro de 1948, aprovaram a Convenção sobre o Genocídio. Desde então, o significado da mesma vem sendo corrompido contumazmente.

Israel tem poderio militar para literalmente arrasar Gaza em menos de 24 horas. No entanto, opta por enviar panfletos, SMS, ligações de celular para que os civis evacuem os lugares a serem bombardeados.

O Hamas tem uma ideologia genocida no instante em que diz no seu estatuto almejar destruir o Estado de Israel, especialmente, os judeus. Limpeza étnica. O Hamas fez um ataque terrestre genocida na fronteira sul de Israel. O ódio era tanto que até não judeus foram vitimados. E, até o momento, continuam enviando mísseis contra civis israelenses. Estimam-se em dez mil. Um crime de guerra além de genocida. Os terroristas não se importam que árabes israelenses ou drusos sejam atingidos. O importante é matar judeus.

Surpresa negativa ler que o nosso presidente da República e um assessor para assuntos especiais tenham considerado genocida a atuação de Israel em Gaza. Uma tentativa desprezível de criar uma falsa equivalência moral entre as práticas nazistas e as israelenses. Uma desonra para os sobreviventes do Holocausto. O sofrimento das crianças palestinas em Gaza, em especial, é comovente. Contudo, elas são vítimas preferenciais da guerra, como afirmou o presidente sem apresentar qualquer prova desta sua afirmação. Trocou a palavra “preferencial” por “colateral”. Como já alertara Orwell. E foi além ao dizer que Israel quer “ocupar a Faixa de Gaza” e “expulsar” os palestinos. Novo caso de corrupção do pensamento, pois Israel almeja uma solução que não permita que, mesmo derrotado, o Hamas se reorganize e volte a ameaçar o Estado Judeu. Lembrando que, em 2005, Israel retirou-se voluntariamente da Faixa de Gaza. Em vão.

Contudo, o Hamas traçou uma estratégia deliberadamente criminosa, colocando centros de comandos militares embaixo de hospitais, escolas, mesquitas. O porta-voz das Forças de Defesa de Israel divulgou imagens do que foi encontrado por baixo do Hospital infantil Rantisi: um centro de comando e controle do Hamas, coletes suicidas, granadas, rifles de assalto AK-47, dispositivos explosivos, RPGs (granada lança foguetes) e outras armas. Isso também é crime de guerra. Os 240 sequestrados pelos Hamas passaram por lá e tomaram rumo ignorado.

As principais instalações militares do Hamas estão por baixo do Hospital Shifa. Israel sabe disto, mas evitou atacar a casa de saúde, na última invasão, para não ser criticado. Contudo, a barbaridade do ataque do Hamas rompeu a linha de paciência do Estado Judeu. E agora a situação mudará. Até a União Europeia (em (12 de novembro), acusou o Hamas por usar “hospitais e civis como escudos humanos” – antes tarde do que mais tarde.

A Israel só resta duas alternativas: 1) Não ganhar a guerra e deixar intocada a estrutura do Hamas. Algum país atacado entra em guerra para não ganhar?; 2) Atacar os túneis e ter de ouvir impropérios como os ditos pelas duas autoridades acima citadas. Pelo menos, desta vez, Israel tem chance de ganhar a guerra. Certa vez, Golda Meir afirmou: “prefiro receber críticas do que condolências”, pois Israel segue o dito pela ex-primeiro ministro.

Israel tem poderio militar para literalmente arrasar Gaza em menos de 24 horas. No entanto, opta por enviar panfletos, SMS, ligações de celular para que os civis evacuem os lugares a serem bombardeados. Israel abriu um corredor humanitário para que a população possa ir do norte a sul. A passagem é protegida militarmente por Israel enquanto os terroristas atiram em seus irmãos palestinos ao tentar impedir a saída dos mesmos. O Rei da Jordânia pediu, e Israel aceitou, o lançamento por via aérea noturna de material para um hospital local. Onde está o genocídio? Quem insiste nesta ladainha ou está mal informado ou encontrou um gatilho para expor seu antissemitismo que envergonhadamente escondia.

Jorge Zaverucha é doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago e professor da UFPE.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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