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Os Correios são do povo brasileiro
| Foto: Felipe Lima

Uma antiga e conhecida revista realiza anualmente uma pesquisa de satisfação e os Correios, consecutivamente, foram considerados a instituição mais confiável do Brasil. Quantos brasileiros e brasileiras não aguardaram ansiosamente a chegada da figura do carteiro, vestido com seu uniforme azul e amarelo, para receber uma tão esperada carta? O mundo passou por transformações tecnológicas radicais! As cartas já não chegam com tanta intensidade, foram trocadas pelas mídias eletrônicas, mas os Correios mantêm a sua importância estratégica na integração e prestação de serviços postais universais de qualidade ao povo brasileiro.

Poucos conhecem o serviço de envio da carta social, que pode ser utilizada por pessoas de baixa renda e que custa, acreditem, R$ 0,01! De acordo com dados oficiais, em 60% dos municípios brasileiros a empresa é a única representante estatal federal. São 22,5 milhões de objetos (sendo 1 milhão de encomendas) entregues por dia, o segundo site de correio mais acessado do mundo, a maior empresa de logística da América Latina. Entre as cidades brasileiras, 30% só têm os Correios para acesso bancário e 1,8 milhão de pessoas passam todos os dias em suas agências.

Também é importante lembrar dos serviços relevantes prestados à administração pública, que incluem, dentre outros, a logística das eleições e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), entrega de livros didáticos nas escolas públicas brasileiras e de medicamentos da rede pública em casa, pagamentos de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e emissão de documentos. Não se pode esquecer ainda do maior patrimônio dos Correios, que são seus mais de 100 mil trabalhadores, que prestam com qualidade premiada, apesar de todas as adversidades, faça chuva ou sol, suas atividades nos mais distantes rincões do Brasil.

Anuncia o atual governo que pretende privatizar esse grande patrimônio brasileiro até o fim de sua gestão, sob o argumento de que a máquina estatal é pesada e depende de recursos da União para o pagamento de suas despesas. Empresas internacionais, como a norte-americana Amazon e a chinesa Alibaba, já demonstraram interesse na compra. É de se questionar se esse é o melhor caminho para tratar de uma empresa pública que, nas palavras do seu ex-presidente já no atual governo, é estratégica, insubstituível, cidadã, orgulho dos brasileiros e que é independente dos recursos do Tesouro Nacional.

A privatização dos Correios leva a uma série de questionamentos. Será que uma empresa privada, que busca obter lucros cada vez maiores, terá interesse em manter suas atividades em regiões onde a prestação dos serviços postais é deficitária, como nos estados do Centro-Oeste, Nordeste e Norte? Será que os empregos dos trabalhadores serão mantidos?

Já que o modelo econômico dos Estados Unidos da América tem servido de exemplo para iniciativas no Brasil, cumpre lembrar que lá ainda existe o monopólio estatal dos serviços postais, prestado pelo United States Postal Service (USPS), que, com 500 mil trabalhadores, está entre os maiores empregadores norte-americanos.

Estas são algumas das questões que merecem uma reflexão de todo o povo brasileiro, legítimo dono dos Correios e que tem o direito de decidir sobre o futuro dessa importante instituição nacional.

Rodrigo Torelly é advogado especialista em Direito do Trabalho.

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