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| Foto: Olivier Morin/AFP

As nações nórdicas – Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia – são reconhecidas pela capacidade singular em produzirem bem-estar, justiça social e desenvolvimento sustentável. Adotam um modelo de economia mista que conjuga livre mercado com forte intervenção e participação estatal, o que garante complementaridade e evita desequilíbrios e abusos de ambos os lados. Há um empenho em se garantir um sistema de solidariedade capaz de proteger qualquer cidadão dos riscos das imperfeições dos mercados ou de qualquer vicissitude individual ou coletiva. Os benefícios concedidos são entendidos como direitos universais e por isso não exigem condicionalidades nem vínculo direto com a contribuição de cada cidadão.

Como estratégias de desenvolvimento, esses países concentraram suas forças numa educação pública de qualidade e universal, e conseguiram colocar lado a lado o filho do empresário e o do operário. Asseguraram elevados investimentos em pesquisa e desenvolvimento, com inovação permanente e produtos reconhecidos em todo o mundo pela excelente qualidade. Desde o inicio do século 20, incluíram na grade curricular conteúdos ligados à cidadania e à cooperação, o que explica a forte identidade coletiva e a coesão social como marca cultural.

A fórmula que consolidou o pacto social nórdico horizontalizou as hierarquias

Outra particularidade que chama a atenção é a descentralização das políticas públicas; cada região possui elevada autonomia de gestão, o que permite maior envolvimento das comunidades na definição das prioridades e no monitoramento dos recursos públicos, e aprimora o processo democrático que se faz de forma mais participativa e direta.

Este modelo é viabilizado por meio de elevada carga tributária (mais de 50% do PIB), lastreada por transparência quase irrestrita, sem privilégios para políticos ou qualquer outro cidadão. Produz-se um ciclo virtuoso em que a redistribuição da renda via tributação progressiva e uma educação pública de qualidade garantem uma sociedade simétrica, com elevados níveis de confiança institucional e baixíssimos índices de corrupção e violência. A fórmula que consolidou o pacto social nórdico horizontalizou as hierarquias, massificou as oportunidades e privilegiou a equidade social ao fundamentalismo de mercado. Na Dinamarca, por exemplo, um deputado tem uma remuneração que não ultrapassa 30% do salário de um pedreiro; nas empresas, a diferença de rendimentos entre o topo e a base não ultrapassa quatro vezes.

Leia também:Liberdade econômica e redes de assistência social (artigo de Gustavo Reichenbach, publicado em 2 de setembro de 2017)

Nossas convicções: A finalidade da sociedade e o bem comum

O trabalho é o sustentáculo de todo o sistema, e por isso há um esforço permanente em se garantir pleno emprego. Na Finlândia, 25% da população economicamente ativa é composta de funcionários públicos. O Estado participa ativamente da economia, com empresas estatais em diferentes segmentos, principalmente em áreas estratégicas e monopólios naturais. Desconstroem a ideia de que empresa pública é naturalmente ineficiente – na Noruega o Estado tem participação de 37% na Bolsa de Valores de Oslo e controla empresas como a petroleira Statoil, o grupo de telecomunicações Telenor, a fabricante de fertilizantes Yara e o maior banco do país, o DnBNor, entre outras que são referência internacional.

O bom desempenho deste modelo socioeconômico não se deve simplesmente a um conjunto de mecanismos técnicos bem-sucedidos, mas a fatores culturais que dão vida a todo o processo, como fortes laços identitários, espírito cívico e compromisso coletivo, a ponto de a pobreza ou qualquer outra mazela social ser percebida como um problema de todos, motivo de constrangimento e mobilização conjunta para a sua superação. Algo bem diferente do que ocorre no Brasil, em que parte da população valoriza e alimenta as diferenças socioeconômicas como forma de assegurar o sentimento de superioridade e garantir privilégios.

Luís Miguel Luzio dos Santos, economista, é doutor em Ciências Sociais e professor da UEL.
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