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Países investem trilhões nas economias por causa do coronavírus. Será suficiente?
| Foto: Pixabay

O coronavírus passou de um problema distante em dezembro, localizado apenas na cidade chinesa de Wuhan, para um perigo global que já ceifou milhares de vidas e infectou milhões de pessoas em todo o mundo. Mas além deste impacto imediato na saúde, o impacto econômico poderá ser ainda mais forte, e causar indiretamente um flagelo muito maior. Basta recordar que só na América do Sul a Covid-19 pode levar mais de 25 milhões de pessoas à pobreza.

Esta é a principal consequência nas empresas do impacto do confinamento e de outras medidas de prevenção, como o fechamento das lojas. Em áreas como o turismo o retrocesso pode ser imenso, já que o encerramento das fronteiras quase vai paralisar o setor. Prevendo isto, os países começaram já a investir muitos bilhões de dólares na economia para contrariar os efeitos negativos da pandemia.

Os Estados Unidos lideram o investimento. O governo federal, com apoio para os cidadãos, empresas e estados norte-americanos, canalizou US$ 1,9 trilhões na economia, a que se juntam mais US$ 2 trilhões de capital e compra de dívida pelo Federal Reserve. Mas, prevendo que o impacto da Covid-19 na economia possa aumentar com mais tempo de confinamento, Donald Trump e a sua equipe fazem pressão máxima para que a reabertura da economia seja feita com a maior rapidez possível. Uma estratégia que o presidente Jair Bolsonaro tenta replicar em solo brasileiro, tentando que as pessoas voltem a trabalhar para revitalizar a economia.

A Europa também tem investido fortemente, com dois grandes pacotes. O primeiro é proveniente da União Europeia, com 540 bilhões de euros por meio do Eurogrupo (para os Estados-membro, injeção de capital na economia e empréstimos), e mais 750 bilhões de euros do Banco Central Europeu para a compra de dívida pública. A este 1,29 trilhão de euros se juntam os gastos diretos de cada Estado. A Alemanha lidera o ranking, com 750 bilhões de euros, enquanto Itália e Reino Unido investem 400 bilhões cada, seguidos da França (340 bilhões) e da Espanha (200 bilhões). Ou seja, estão sendo colocados ao dispor das economias europeias mais de 3,5 trilhões de euros. E, passada a principal onda da pandemia na Europa, não admira que também nessa região se entre agora em uma fase de reabertura faseada da atividade econômica.

Para analisar os gastos em solo asiático, focamos nas suas maiores potências regionais, a China e o Japão. Ambos aplicaram perto de US$ 1 trilhão nas economias, mas com estratégias diferentes. Os nipônicos optaram por mais investimentos diretos, enquanto os chineses optaram por injetar cerca de 60% do montante por meio do Bank of China para estabilizar a economia e setor bancário. Mas, analisando principalmente o caso chinês, a estratégia foi aquela que a Europa escolheu replicar. Primeiro encerrar tudo, para conter o alastramento do vírus, ajudar as economias nessa fase e apenas depois de reduzir o número de infectados voltar a reabrir a economia em diversas fases.

Será todo este dinheiro suficiente? Embora os montantes nas principais potências econômicas do globo seja parecido, é uma incógnita se todo este dinheiro será suficiente. Ou seja, ainda não existem certezas quanto a isso. Se usarmos como exemplo a crise de Portugal, Grécia e Irlanda em 2009, nessa situação as economias nacionais foram as principais afetadas. E, como existia uma relativa estabilidade nas grandes potências econômicas, era fácil prever a quantidade de apoio de que esses países necessitariam para sair da crise e se recuperar, bem como os procedimentos para reestruturar as dívidas. Portugal, por exemplo, recebeu 78 bilhões de euros da União Europeia e do FMI.

Mas agora a situação é totalmente distinta. Basta lembrar que o FMI já anunciou que esta será a maior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. E isso acontece porque todos os países são afetados. Como tal, existem dúvidas sobre como será a retomada das economias nas diversas regiões. Há outros fatores que ajudam na incerteza. Em primeiro lugar, há o risco de uma segunda onda da pandemia. Em segundo lugar, é incerto o futuro imediato de muitas atividades. As pessoas vão voltar a frequentar brevemente restaurantes que estejam cheios? O turismo vai resistir ao encerramento das fronteiras? É seguro ir à academia?

Os montantes até podem ser suficientes. O FMI prevê, por exemplo, que Portugal tenha uma recessão de 8% este ano, mas que as contas voltem a terreno positivo já em 2021. No entanto, se a velocidade da retomada mundial for mais lenta (a economia portuguesa, como muitas outras, depende fortemente da exportação), ou se surgir uma segunda onda de Covid-19, seguramente será preciso mais dinheiro para apoiar as economias e evitar o desemprego em massa. Neste momento, é preciso esperar para ver a evolução da pandemia e esperar que tudo volte ao normal o mais rapidamente possível, para que também a economia possa se recuperar dessa doença. A que velocidade e a que preço, é como se costuma dizer em Portugal: “prognósticos só no fim do jogo”.

Nuno Fatela é jornalista do site português Comparamais, onde tem escrito sobre a pandemia de Covid-19.

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