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| Foto: Ari Ferreira/AFP

O ataque que vitimou e martirizou católicos devotos na catedral de Campinas foi extremamente chocante. Meu sentimento inicial de raiva deu lugar à indignação e, por fim, à aceitação do martírio e à oração pela alma das vítimas martirizadas e pela recuperação de toda aquela comunidade traumatizada. Tal caso, infelizmente, não é isolado: no mesmo dia houve um ataque contra católicos em Estrasburgo, na França, causado mais uma vez pelo terrorismo islâmico, que faz vítimas cristãs em várias partes do mundo, seja na Europa, no Oriente Médio ou na África.

O martírio – e usarei tal palavra pois é a que melhor classifica os episódios – é inerente ao cristianismo; o principal exemplo é o do próprio Cristo, perseguido e depois crucificado. Com a ressureição e o início da evangelização pelos apóstolos, inicia-se o período de perseguição à Igreja, inaugurando com o apedrejamento de Estêvão e passando pelo tempo de perseguição, sem distinção de povos, períodos e continentes. São exemplos disso a perseguição romana durante a Antiguidade, os ataques de bárbaros nórdicos a mosteiros católicos durante a Idade Média, a perseguição durante o shogunato Tokugawa no Japão, o martírio de católicos em Pernambuco pelos protestantes holandeses, a conquista militar dos maometanos no Oriente Médio cristão, a perseguição aos católicos durante a Revolução Francesa, as vítimas do Estado Islâmico no Iraque, a perseguição aos cristãos coptas no Egito dominado pela Irmandade Mulçumana, os ataques a igrejas na Nigéria.

A força dos perseguidores contra os cristãos não é demonstração de coragem, mas justamente de covardia

Devemos compreender, apesar do sentimento de raiva, frustração e tristeza, que a perseguição é a recompensa que recebemos neste mundo terreno em razão da fé que professamos. O próprio Jesus já tinha advertido que “sereis entregues aos tormentos, sereis mortos e, por minha causa, sereis objeto de ódio para todas as nações” (Mateus 24,9). A recompensa àqueles que perdem a vida por Cristo é a própria vida plena no mundo celestial: “o que quiser salvar a sua vida irá perdê-la; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho irá salvá-la” (Marcos 8, 35); por isso muitos mártires e santos entregaram-se e abandonaram a própria vida por Cristo, perdoando seus algozes como Ele havia feito. Este deve ser o reconforto que encontramos ao observar tais ataques e perseguições à Igreja e aos cristãos: a certeza de que os que morreram em Cristo, foram perseguidos e martirizados por Ele, estão em plena comunhão com Cristo.

A perseguição teve como consequência o inverso do que pretendiam seus algozes: o número de cristãos convertidos aumenta à medida que a perseguição à Igreja aumenta, os cristãos vencem não pela força das armas, da violência ou de alguma estratégia militar mirabolante, mas por seguir o exemplo de Jesus Cristo. A imolação pública, a humilhação e a perseguição dos cristãos reforçam a convicção religiosa em todo o mundo, em todos os tempos e períodos.

Leia também: Ser cristão em tempos pós-modernos (artigo de Dom José Antonio Peruzzo, publicado em 19 de setembro de 2015)

Leia também: Cristãos perseguidos: o desespero do mal (artigo de Frei Hans Stapel, publicado em 13 de abril de 2017)

Esta pode parecer uma luta contra um poder incomensuravelmente maior, mas é justamente o contrário: a violência dos algozes demonstra não a sua força, mas sua fraqueza. A coragem do mártir cristão é inversamente proporcional à sua força, bem como a demonstração de violência por parte dos perseguidores é inversamente proporcional a qualquer elemento de coragem verdadeira, como lembrava Chesterton em Hereges: “O forte não pode ser corajoso. Somente o fraco pode ser corajoso; e, mais uma vez, na prática, somente aqueles que podem ser corajosos são confiáveis, em tempos de dúvida, para serem fortes. (...) É a primeira lei da coragem prática. Estar do lado mais fraco é estar na escola do mais forte”. A força dos perseguidores contra os cristãos não é demonstração de coragem, mas justamente de covardia, sendo que a abnegação cristã ao martírio é a maior demonstração de coragem que há.

Deixo aqui o relato de Tertuliano, que, proferida nos primeiros séculos da Era Cristã, merece reflexão de nossa parte: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja”. Passados quase dois milênios, essa frase não poderia ser mais atual em razão do martírio sofrido por católicos no mundo inteiro. E não poderia ser mais verdadeira pelos frutos que a Igreja colhe em novos cristãos convertidos – é o meu caso, que me converti vendo o testemunho dos mártires de hoje –, que revigoram todo o povo de Deus e sua Igreja.

Juliano Rafael Teixeira Enamoto é procurador da Câmara Municipal de Sapezal (MT).
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