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A pesquisa gerada em âmbito eleitoral é uma ferramenta para a formação de planejamento efetivo, até porque um candidato que em uma sondagem pode estar liderando as intenções, de­­pendendo do contexto que se está vivendo, poderá na pesquisa seguinte cair

Após cada eleição torna-se mais comum o questionamento sobre os resultados das pesquisas eleitorais e, particularmente, sobre a utilização devida ou indevida de tais dados.

Primeiro ponto a ser esclarecido: as pesquisas eleitorais refletem um momento, um sentimento da população que os institutos alcançam e transformam em informação. A precisão dos dados é o objetivo de qualquer instituto de pesquisa que se prontifique a gerar esse tipo de dado. As metodologias empregadas atualmente em pesquisas procuram garantir o máximo de precisão, todavia existem variáveis que apenas se concretizam no momento do voto, que não podem ser medidas e que devem ser consideradas.

Contando com isso, todos os institutos que atuam na área trabalham com as margens de erro. A leitura dos dados, portanto, deve sempre levar esse fato em consideração.

A polêmica criada em torno das pesquisas que foram ou não divulgadas nas eleições de 2010, principalmente no Paraná, consiste no questionamento da precisão dos dados apresentados, nas repercussões – positivas ou não – nos resultados eleitorais para certos candidatos e no descumprimento das normas estabelecidas para o registro eleitoral das próprias pesquisas.

Não cabe nesse momento discutir a capacidade das pesquisas eleitorais em influenciar na decisão do voto, muito embora sem a crença nesse poder tal polêmica nem existiria; cabe aqui discutir a forma como as pesquisas eleitorais são apresentadas e utilizadas durante a corrida eleitoral. No caso em particular do Paraná, a impugnação de pesquisas por uma coligação gerou grande controvérsia: de um lado estava a liberdade de expressão e, do outro, as regras do registro de pesquisas eleitorais as quais os institutos estão submetidos.

Ao discutir a utilização das pesquisas eleitorais é necessário levar em consideração, porém, que as lógicas que regem os institutos de pesquisa, a mídia e os políticos são totalmente diferentes.

O que os institutos desejam, em todos os casos, é que os dados por eles coletados aproximem-se ao máximo do resultado real. Eles não podem ter preferência por nenhum candidato, por mais que grande parte das pesquisas seja contratada por políticos, pois tal fato seria antiético.

A mídia, de maneira geral, é regida pela lógica da notícia; o objetivo é informar o leitor/ espectador. Já os políticos desejam que os números estejam favoráveis a eles; quando isso não acontece há o questionamento dos institutos, a divulgação na mídia e consequentemente o questionamento à legalidade da pesquisa.

Nessa eleição em particular, os resultados das pesquisas apontavam vencedores e, tão ou mais importante do que prever os resultados, aquilo que uma grande parte delas conseguiu, foi apontar a tendência do eleitorado. Por exemplo, podemos citar a crescente progressão de alguns candidatos mostrando a formação dos cenários que acabaram por se concretizar, como foi o caso da disputa presidencial. Várias pesquisas que foram divulgadas na semana anterior à eleição indicavam para a crescente evolução nas intenções de voto da candidata Marina Silva, o que acabou por configurar o segundo turno. Não se pode esquecer que a pesquisa eleitoral, como qualquer outro levantamento de dados, serve como uma ferramenta estratégica para indicar tendências do contexto e em alguns casos executar planos de ação diferenciados. Ao invés de criticar e questionar a veracidade dos dados, deve-se entendê-los de forma mais correta e transformar tais dados em conhecimentos que possam ser usados de maneira operacional – ou seja, configurar a informação gerada em um aliado estratégico e não em um inimigo.

É claro que essa aliança não deve se configurar em propaganda eleitoral, pois a legislação não deveria permitir que as pesquisas fossem utilizadas durante o horário eleitoral de rádio e tevê como ferramenta de marketing.

A pesquisa gerada em âmbito eleitoral é uma ferramenta para a formação de planejamento efetivo, até porque um candidato que em uma sondagem pode estar liderando as intenções, dependendo do contexto que se está vivendo, poderá na pesquisa seguinte cair.

Dito isso, cabe questionar os dados que em um determinado momento apontam para uma vitória e outrora o fazem amargurar uma derrota? Será de fato esse o caminho? Com essas eleições ficou claro que é urgente uma discussão honesta e franca acerca da utilização das pesquisas, pois as leis que existem atualmente já são bastante rigorosas com os centros de pesquisa e em contrapartida não existem regras claras para a utilização de toda a informação gerada, uma vez que mais forte que o instituto responsável pela pesquisa é o espaço dedicado a ele.

Tal discussão deve ser posta em momento mais calmo, longe das emoções eleitorais que ainda estão presentes, pois a população tem o direito de ser informada do cenário político que se está vivendo e essa informação deve ser isenta de posição definida.

Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, economista, pós-graduado em Marketing, é diretor-presidente da Paraná Pesquisas há mais de vinte anos.

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