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Ilustração: Fábio Abreu
Ilustração: Fábio Abreu| Foto:

A esquerda acusa todo aquele que não é socialista de “fascista”, enquanto adota cada vez mais os métodos fascistas para impedir qualquer debate ou a própria liberdade de expressão. Os casos de intimidação e violência nas universidades para impedir palestras de conservadores já se tornaram conhecidos e frequentes. Mas há uma perseguição ideológica mais sutil e insidiosa, e por isso mesmo bem mais perigosa. Trata-se do filtro que as redes sociais aplicam ao conteúdo mais à direita.

Sob o manto de combater “fake news” ou “discurso de ódio”, essas empresas têm abandonado o conceito de plataforma neutra para ir atrás de criadores de cujo conteúdo não apreciam. O caso mais recente incendiou o debate sobre liberdade de expressão nos Estados Unidos, mas passou totalmente despercebido pelo público brasileiro. Um comediante com viés conservador viu seu canal do YouTube ser desmonetizado após a reclamação de um “jornalista” que se sentiu ofendido com os ataques recebidos.

Steven Crowder faz comédia stand-up, ou seja, sua vida é basicamente “humilhar” os outros, fazer troça com tudo e todos. Mas Carlos Maza, um ativista gay disfarçado de jornalista daVox, não suportou ser mencionado pelo comediante, e reuniu trechos ao longo de um ano de produção de conteúdo reduzidos a pouco mais de um minuto, para causar a impressão de que o humorista era obcecado por ele. Com esse material deturpado, enviou a reclamação ao YouTube, exigindo uma atitude.

A denúncia era de que a plataforma permitia – sendo, portanto, cúmplice – o constante e sistemático ataque “homofóbico” à sua pessoa. O YouTube iniciou, então, uma investigação sobre o caso, mas concluiu que Crowder não violou termo algum do contrato ou das políticas da plataforma digital. O problema, porém, é que o ativista acionou sua militância e vários passaram a pressionar o YouTube por alguma punição. A empresa sucumbiu.

As redes sociais penderam demais para o lado politicamente correto da esquerda, chamando de “discurso de ódio” aquilo que é apenas opinião controversa

Mesmo reconhecendo publicamente que o humorista não ultrapassou limites impostos pelo site, o YouTube decidiu retirar anúncios dos vídeos de Crowder, na prática inviabilizando sua remuneração ou sustento por meio da plataforma. As reclamações aumentaram de ambos os lados: a esquerda, insatisfeita com o fato de Crowder não ter sido banido de vez, e a direita, revoltada com o arbítrio da censura ideológica.

Interessante mostrar, ainda, quem é Maza. Em um tweet recente, ele incentivou a prática de “protesto”, atual na Europa, de jogar milk-shake em políticos, ou seja, uma agressão física de fato. Em outra ocasião, ele justificou a atuação da Antifa, um grupo extremista de mascarados que dizem combater o fascismo adotando exatamente as práticas fascistas. Maza, enfim, não é um jornalista imparcial, mas um ativista radical que parece simpático às agressões, até físicas, desde que contra conservadores.

Mas, como ele não gostou das piadas em que foi mencionado, eis que o YouTube tem a “obrigação” de banir o autor. É típico da mentalidade “progressista” atual, forjada na era da vitimização excessiva e do politicamente correto. Em vez de apenas ignorar o comediante e criar uma “casca dura” contra tais “ofensas”, o ativista enxerga agressão por todo lado e pede a censura como resposta, exige seu “lugar seguro”. Só a esquerda pode ofender em paz!

Esse caso foi apenas o mais fresco, com o perdão do trocadilho, mas está longe de ser um caso isolado. Vários conservadores têm reclamado de perseguição nas redes sociais, de canais sendo desmonetizados ou boicotados. As empresas que cuidam das redes sociais são dominadas por gente “progressista”, que realmente acha que luta contra o “discurso de ódio” quando vai atrás da direita. Nomes moderados como Ben Shapiro, Jordan Peterson e David Rubin são tratados como “ultraconservadores”.

Leia também: A ameaça do politicamente correto à cultura (editorial de 20 de abril de 2019)

Leia também: Liberdade de expressão não é uma concessão estatal (artigo de Lucas Rodrigues Azambuja e Adriano Gianturco, publicado em 1.º de maio de 2019)

Cansados dos boicotes e da censura, cada vez mais formadores de opinião buscam alternativas diretas para financiar seus trabalhos, uma vez que contar com a liberdade de expressão nessas plataformas que se dizem neutras é mais difícil a cada dia. O senador republicano Ted Cruz, que já emparedou Mark Zuckerberg sobre a política de inquisição do Facebook, comentou sobre o caso: “Isso é ridículo. O YouTube não é a Câmara Estelar – pare de brincar de Deus e silenciar as vozes com as quais você não concorda. Isso não vai acabar bem”.

Após Maza criticar Cruz por esta postura, o senador mandou um recado direto em que ironizava o fato de o indivíduo se dizer jornalista enquanto demanda censura por visões de que não gosta, e sugeriu uma ideia “louca”: debata com ele! Mas eis justamente o cerne da questão: a esquerda moderna, cada vez mais radical, não aceita debater ideias. Ela parte da premissa de sua superioridade moral, confunde seus sentimentos com fatos inquestionáveis, e olha para os adversários conservadores como pessoas essencialmente terríveis, fascistas. Contra essa “ameaça”, todo esforço é necessário, e lançar mão de medidas extremas faz parte. Os “nobres fins” justificam quaisquer meios.

Como separar o joio do trigo, aquilo que é de fato crime ou incitação ao crime daquilo que é simplesmente uma ofensa ou piada de mau gosto, é um debate que vem dominando a pauta política há anos. O dilema não é trivial, mas não resta dúvida de que as redes sociais penderam demais para o lado politicamente correto da esquerda, chamando de “discurso de ódio” aquilo que é apenas opinião controversa ou fora do mainstream.

E o risco é enorme quando se substitui critérios objetivos por subjetivos ou vagos e elásticos. Ao admitir que o humorista conservador não violou os termos e condições do site, mas mesmo assim puni-lo por “pressão popular”, o YouTube inaugurou uma nova fase de censura e perseguição ideológica, que só vem piorando. Agora a turma do “mimimi” vai se sentir ainda mais “empoderada”, e intensificar a caça às bruxas. As próprias empresas parecem confortáveis com isso, já que seus fundadores e funcionários também demonstram viés “progressista”. Quem perde é a liberdade de expressão.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.

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