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Se Noel Rosa estivesse acompanhando a cobertura jornalística da eleição americana deste ano e, especialmente, da convenção republicana, cantaria novamente seus versos imortais: “Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!”

O mais rico, influente e poderoso país do mundo está mergulhado na sua eleição presidencial mais impactante em anos. A população se encontra à mercê de uma escalada estonteante do terrorismo dentro e fora de suas fronteiras, mas os analistas e repórteres continuam insistindo em frivolidades como o “plágio” no discurso de Melania Trump. Jerry Seinfeld dizia ironicamente que seu programa era “sobre nada”, mas parte da imprensa parece disposta a roubar seu slogan.

Como o Brasil não poderia perder o bonde da infâmia, comentaristas bananeiros aproveitam o foco do mundo na América para repetir todo tipo de chavão abjeto, preconceituoso, pérfido e descerebrado sobre os eleitores americanos que se recusam a votar conforme os ditames da grande imprensa e de seus patrocinadores. Vergonha.

Trump tem mostrado uma resiliência ao corredor polonês da imprensa

Se não é novidade um descolamento crescente entre a opinião pública e a “opinião publicada”, expressão criada por Winston Churchill e surrupiada por muitos desde então, ficamos cada vez mais estarrecidos com o mundo virtual que os veículos mais tradicionais tentam vender como realidade. Parecem não entender que exageros, mentiras e narrativas ideológicas podem ser desmascarados em segundos para milhões de usuários das redes sociais.

Donald Trump, um empresário de raro sucesso que obteve a maior votação numa eleição primária da história do seu partido em todos os tempos, é tratado pelas redações como um “bufão” com “poucas chances”, na melhor das hipóteses. Sua adversária, casada com um predador sexual e que carrega uma lista de escândalos e denúncias de fazer Dilma Rousseff parecer a Madre Teresa de Calcutá, é mostrada como ilibada, impoluta e incorruptível.

Hillary Clinton tem usado todo o seu poder de influência para tentar se apropriar da agenda ideológica do velho socialista Bernie Sanders, uma mistura improvável de Eduardo Suplicy com Marilena Chauí que encantou a primeira geração de jovens americanos majoritariamente identificada com as ideias de esquerda. É ainda muito cedo para apostar que dará certo.

O eleitor ainda não digeriu as mortes de quatro compatriotas em Benghazi, na Líbia, diretamente relacionados a Hillary. Os escândalos envolvendo a fundação da sua família, recebedora de doações milionárias de países estrangeiros que foram agraciados por decisões suas como secretária de Estado, ainda não foram devidamente esclarecidas. O crime envolvendo o servidor de e-mail particular que usou, expondo os mais importantes segredos do país aos hackers, é impossível de ser negado após a investigação do FBI.

Seu adversário encontrou resistências dentro do próprio movimento conservador, mas tem mostrado um fôlego que há muito não via até entre eleitores tradicionais do Partido Democrata. Sua recusa em ser um administrador da decadência do país e sua postura firme em temas como a imigração ilegal têm encontrado um terreno fértil nos cidadãos cansados de não se sentirem representados na política.

A eleição está tecnicamente empatada neste momento, mas Trump tem mostrado uma resiliência ao corredor polonês da imprensa que faz com que qualquer previsão de derrota seja, ao menos neste ponto da disputa, nada mais que torcida. Até o estatístico-celebridade Nate Silver tem errado uma previsão atrás da outra quando o assunto é Trump.

Da próxima vez que você ligar a tevê e for surpreendido com discursos rasos e meramente ideológicos contra a América e seu povo, lembre novamente de Noel Rosa: “Pra que ligar a quem não sabe aonde tem o seu nariz? Quem é você que não sabe o que diz?”

Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.
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