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Todo dia o mesmo ritual: o pai extenuado chega à noite em casa após o duro dia de trabalho. Seu filho, com os olhos cheios de admiração abraça-o, trocam algumas palavras sobre a escola e se despedem com beijos na face, o boa noite e o "durma com os anjos".

Certo dia, com a voz tímida, o garoto pergunta ao pai que acaba de chegar:

– Papai, quanto você ganha por hora?

O pai surpreso, desconversa. O filho insiste:

– Papai, quanto você ganha por hora?

O sempre ocupado pai promete uma resposta para o dia seguinte, mas se aflige com a pergunta. Passado algum tempo, dirige-se ao quarto do filho e o encontra deitado.

– Filho, você está dormindo?

– Não, papai! – responde o garoto.

– Querido, eu ganho doze reais por hora.

O filho levanta-se da cama, abre a gaveta e conta doze notas de um real. Abraça o pai com ternura e, com os olhos cheio de lágrimas, pergunta:

– Você pode me vender uma hora do seu tempo?

Esta conhecida, singela (e, para alguns, piegas) história, enseja a meditação sobre a disponibilidade de tempo para com os filhos.

Mais cedo do que se pensa, os filhos compreenderão a árdua luta dos pais pela sua sobrevivência profissional; o necessário cumprimento dos deveres no importante papel de provedores; e que a dedicação ao trabalho é fator de realização pessoal e é modelo de responsabilidade. Busca-se, evidentemente, a prevalência do bom senso, da medida, do equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar.

Neste contexto, importa mais a qualidade do afeto que a quantidade de tempo disponível aos filhos. O abraço afetuoso, o beijo estalado, a imposição de limites, o diálogo objetivo e adequado à idade, o acompanhamento do rendimento escolar, a presença nos momentos de lazer ou doença e a transmissão (pela palavra e pelo exemplo) de valores éticos e de cidadania, podem ser praticados diariamente – com ênfase nos finais de semana – por pais que trabalham cerca de oito, nove ou dez horas por dia.

Gutemberg B. Macedo (em seu excelente livro Fui Demitido: E agora?, Editora Maltese) dá seu depoimento:

"Conheço executivos bem sucedidos que mantêm uma vida balanceada. São bons profissionalmente e, até prova em contrário, bons maridos, bons pais, bons líderes e bons cidadãos. O segredo? Saber dividir, compartimentar esses diferentes papéis. É preciso parar para refletir com profundidade. A vida é uma bênção de Deus. Desequilibrá-la é destruí-la. E destruí-la é uma espécie de estupro da própria divindade. Se Ele descansou, quem afinal você pensa que é para querer ir além"?

Segurança do amor de seus pais. Este é o fulcro do relacionamento. A paternidade responsável é uma missão e um dever a que não se pode furtar. No entanto, vêem-se nas escolas filhos órfãos de pais vivos. E, na maioria das vezes, falta de tempo é apenas uma desculpa para a sua omissão. A vida profissional, apesar de suas elevadas exigências, pode muito bem ser ajustada a uma vida particular equilibrada. É uma questão de ênfase e dosagem de tempo.

Jacir J. Venturi é diretor de escola, foi professor do ensino médio, fundamental, pré-vestibular, da UFPR e da PUCPR. www.geometriaanalitica.com.br

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