Quando os políticos estão mais preocupados que os cientistas em coibir uma atividade de grande risco ao meio ambiente, apesar da potencial geração de empregos, lucros e, consequentemente, votos que tal empreendimento pode gerar, é hora de nos perguntarmos: o que está acontecendo?
Apesar da grande pressão pública, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) insiste em promover a exploração de gás de folhelho na região oeste do Paraná, abrigo de grande parte do Aquífero Guarani. No entanto, dadas as possíveis complicações ecológicas para a região, a Assembleia Legislativa do Paraná tem dado pareceres favoráveis à aprovação do Projeto de Lei 873/2015, que decreta uma moratória de dez anos sobre as atividades de fraturamento hidráulico (“fracking”) no estado.
O incentivo ao gás de folhelho apenas gerará concorrência com os investimentos em tecnologias de energias renováveis
Contrariamente à posição dos políticos, alguns setores da academia têm sugerido a retirada do projeto, alegando, por exemplo, que “o fraturamento hidráulico tem inconvenientes, como qualquer atividade. Se não precisássemos de petróleo e gás, não teríamos de arriscar. Como precisamos, devemos levar em conta todos os custos e benefícios”.
É notável observar que, diferentemente de alguns cientistas, os nossos legisladores optaram pela opção mais sã e segura para o meio ambiente, percebendo os riscos decorrentes de uma falta de regulamentação sobre as atividades de fracking e evitando tomar decisões que poderiam beneficiá-los no curto prazo.
Só podemos agradecer aos políticos pela inesperada decisão que, se não fosse tomada, poderia resultar em eventuais incidentes ambientais. Por outro lado, questionamos nossos cientistas se os casos em que a falta de regulamentação e supervisão, como o colapso da barragem mineira de Mariana, são meros “inconvenientes” das nossas necessidades.
A verdade é que o incentivo ao gás de folhelho apenas gerará concorrência com os investimentos em tecnologias de energias renováveis, retardando e distraindo os políticos e o público sobre a necessidade de uma política energética sustentável no longo prazo, como publicou a revista Nature em 2011. Não sejamos os responsáveis por tal distração.
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