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O discurso vitorioso do desenvolvimento sustentável torna-o corriqueiro nos planos e nas políticas públicas. Há, contudo, pouca evidência prática de aderência entre o conceito e a ação pública. Um propósito do Estado é justamente criar condições para que uma determinada região consiga se desenvolver de forma contínua, mas isto é muito complexo.

Agir em prol do desenvolvimento sustentável seria comungar ações de forma sintonizada para otimizar os recursos. Por exemplo, o Estado poderia investir na educação profissional juvenil, promovendo a inserção do jovem no mercado de trabalho, resgatando aquele jovem que há tempos deixou os bancos escolares, e vinculando a um projeto de educação e formação sexual. Por meio da educação poderia minimizar a taxa de natalidade inesperada na adolescência, que aumenta a pressão por investimento em creches públicas. Essa ação, por exemplo, envolveria promoção econômica, pela inserção do jovem no mercado de trabalho, saúde e educação, e com reflexos de redução do investimento em capital.

Por que tais ações, que visariam o desenvolvimento sustentável, são raras? Alguns pontos para reflexão sobre essa questão:

1) Buscam-se resultados imediatos: ações de educação e formação são edificantes e importantes para todas nações, porém têm resultados a médio e longo prazo. O Estado precisa ter retorno para contar como reflexo da satisfação da sociedade nas urnas. O prazo é curto (três anos), já que no quarto ano os resultados já devem estar estabelecidos para se transformar em votos. A população tem demandas emergenciais e dá importância ao resultado quando a afeta direta e rapidamente. Em ambos lados, Estado e sociedade, vale o ditado: a pressa é inimiga da perfeição. Se Estado e sociedade fossem menos dependentes dos resultados imediatos, poder-se-ia obter mudanças concretas e transformadoras no Brasil.

2) Não se age de forma sistêmica: uma política pública para se implementada deveria ser composta por uma visão unificada e sistêmica em que o objetivo fosse único. Muitas ações do Estado teoricamente envolvem vários órgãos públicos e privados, mas a prática restringe a ação de cada um ao que lhe cabe, sem se preocupar com a harmonia e o alcance do objetivo comum. Seria como se escalássemos 11 jogadores; cada um fosse ótimo na sua posição e fizesse o melhor, mas se não vencerem o problema é do grupo e não deles individualmente. No país do futebol o exemplo é tão realista quanto a prática na ação pública. Uma resposta a isso seriam grupos por objetivos e não por setores. Por exemplo, cada ação integrada teria um grupo de trabalho específico, com formação multidisciplinar (áreas envolvidas), e um objetivo comum.

3) O canal de comunicação entre Estado e sociedade nem sempre está sintonizado: algumas ações e esforços do Estado visam melhorar indicadores, sem necessariamente ser a prioridade da própria sociedade. Para melhorar a compreensão das ações do Estado pela sociedade e o que esta espera daquele precisa haver um canal de comunicação amplo e rápido. Não se trata de divulgar as ações, mas de discuti-las. Os conselhos, por esfera de intervenção pública, têm esse papel e devem ser utilizados para traçar um projeto comum para aquela sociedade, que seja maior que o período eleitoral.

Mas a política pública é do público; ou seja, tem a co-responsabilidade da sociedade. A sociedade não deve responsabilizar somente o Estado, mas a ela própria pelas mazelas sociais, dada sua pouca inferência no processo. Não se trata de utopia. Exemplos em diversas cidades de diferentes países mostram que a relação entre Estado e sociedade em prol de uma política pública construtiva pode ser madura o suficiente para traçar um plano de desenvolvimento para a região que se sustente ao longo do tempo. Mas para isso é precisa usar o tempo a favor e não contra, o que nos remete a outro ditado: o apressado come cru! A escolha é nossa.

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