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Candidato presidencial democrata, Bernie Sanders, discursa durante convenção do Partido Democrata, na Califórnia.
Candidato presidencial democrata, Bernie Sanders, discursa durante convenção do Partido Democrata, na Califórnia.| Foto: Josh Edelson/AFP

O socialismo é a ideologia zumbi da nossa época: apesar de ter falhado em todo lugar, continua voltando do túmulo. Mesmo com os fracassos constrangedores do socialismo na China, na Rússia, na Coreia do Norte, em Cuba e, agora, na Venezuela, os verdadeiros crentes continuam sua marcha. Afinal, boas intenções são inquestionáveis. A revolução precisa seguir em frente.

O senador Bernie Sanders tem feito mais que qualquer outro norte-americano vivo na divulgação do socialismo entre as próximas gerações. Com a deputada Alexandria Ocasio-Cortez na sua cola, tenha certeza de que ainda teremos de lidar com o socialismo por muitos anos.

Uma pesquisa recente do instituto Gallup mostra que a mensagem de Sanders e Ocasio-Cortez tem influenciado cada vez mais americanos. Enquanto 51% dizem que o socialismo seria ruim para os Estados Unidos, 43% acreditam que ele seria bom. Digno de nota é o fato de, entre os pesquisados de 18 a 34 anos, 58% aprovarem o socialismo enquanto 37% o desaprovam. Esses números são como uma nuvem negra sobre o futuro da América, mas eles só contam a história pela metade.

Curiosamente, segundo o Gallup, os americanos ainda preferem o livre mercado em vez do governo por uma larga margem em várias áreas, como inovação tecnológica, saúde e até mesmo itens básicos como salários, distribuição de riqueza, e a economia como um todo. Ao contrário, os americanos preferem o governo em vez do livre mercado quando se trata de proteger a privacidade dos consumidores na internet, ou da proteção do meio ambiente.

Os americanos definem “socialismo” de formas bem diferentes

Isso cria uma situação mista, até mesmo contraditória. A matemática mostra que precisa haver milhões de americanos que preferem alguma forma de socialismo, mas também preferem o livre mercado quando se trata de certos aspectos de suas vidas. Como isso é possível?

Acontece que os americanos definem “socialismo” de formas bem diferentes. Tradicionalmente, socialismo tem sido entendido como a propriedade governamental dos meios de produção – comércio, fábricas etc. Mas, hoje, apenas 17% dos americanos mantém essa definição, segundo o Gallup. Por outro lado, 23% equiparam socialismo a alguma noção vaga de igualdade social. Outros 23% não têm opinião sobre o tema. Então, o significado de “socialismo” entre o público atual é indeterminado, indicando que a opinião popular sobre o “socialismo” não nos diz muita coisa sobre as preferências políticas das pessoas. E, ainda que dissesse, a opinião pública não é exatamente um indicador confiável daquilo que será aprovado em Washington, até porque políticas de “governo grande” têm sido aprovadas frequentemente apesar da oposição popular.

Um caso é o do Obamacare. No auge do debate sobre o Obamacare, em 2010, 59% dos americanos discordavam da lei, contra 39% que a defendiam. Isso não impediu o Obamacare de ser aprovado no Senado com uma supermaioria. E também devemos recordar que políticas que aumentam o peso do governo normalmente são propostas em momentos de grande crise nacional, momentos que permitem ignorar os temas dominantes na opinião pública. Mesmo que as pesquisas mostrem uma tendência constante na direção do livre mercado, quando vem a crise, as pessoas normalmente toleram – e até mesmo pedem – ação imediata do governo. O que normalmente resulta na expansão do governo.

Isso ocorreu tanto na Grande Depressão quanto na Grande Recessão que se seguiu à crise financeira de 2007. Muitos novos programas foram criados sem ter relação alguma com a recuperação econômica imediata. Mesmo assim, tornaram-se parte vital do governo federal e continuam assim até hoje. E mais: os americanos acabaram se convencendo de que tais programas são finalidades legítimas do governo federal. O status quo nos treina para o que se torna aceito; quando uma política vira lei, é muito difícil se livrar dela – o que torna mais urgente nos livrarmos delas, antes de mais nada.

Leia também: O socialismo é uma ideologia rígida que sempre termina em tirania (artigo de Lee Edwards, publicado em 14 de março de 2019)

Leia também: O lado certo da história (artigo de Rodrigo Constantino, publicado em 11 de abril de 2019)

A briga atual sobre o socialismo é, em muitos aspectos, uma guerra de rótulos. A esquerda vive se reinventando semanticamente. No meio do século 20, ela decidiu adotar o termo “liberal”, pois “progressista” tinha perdido reputação. Como aconteceu a mesma coisa agora com “liberal”, eles voltaram a se autointitular “progressistas”.

O mesmo ocorre com o socialismo. Os autênticos socialistas sabem que a palavra “socialismo” é radioativa nos Estados Unidos, então eles defendem suas políticas usando termos como “justiça” e “equidade”, enquanto permitem que a ideologia socialista impregne esse palavreado. É o que Sanders faz com a proposta do “Medicare para todos”, que permitiria ao governo dominar a oferta de serviços de saúde, colocando-nos ao lado de Canadá e Reino Unido. A ideia tem apoio da população – 56% a aprovam – até que os pesquisados ficam sabendo que a proposta aboliria os planos de saúde privados. Então, o apoio cai para 37%.

É por isso que a luta pela verdade no debate público é tão importante – e por que os truques de marketing da esquerda são tão perniciosos.

Lá no fundo, os americanos ainda sabem o valor da liberdade e do livre mercado, como mostram os números detalhados do Gallup. Os conservadores deveriam usar isso em seu favor e desmontar os truques propagandísticos da esquerda. A verdade por trás de cada política pública tem de ser exposta claramente, porque é só quando esses projetos são aprovados que a América descobre o que há ali dentro. E, uma vez que isso tenha acontecido, o que parecia impensável ontem vira o normal hoje.

Daniel Davis é editor do The Daily Signal e coapresentador do The Daily Signal podcast. Tradução: Marcio Antonio Campos.

© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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