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| Foto: JULIETTE BORDA/NYT

Eu adoro a Associação Cristã de Moços (ACM) local por várias razões além da minha natação diária. No topo da lista estão as amizades e as conversas no vestiário, que com frequência se tornam fontes de informações valiosas, de conexões e de motivação. Recentemente, por exemplo, ouvi conversas sobre frequentadores e amigos deles que experimentaram ataques devastadores de herpes, incluindo uma mulher que quase perdeu um olho e outra que teve dores implacáveis em um nervo.

Esse foi o empurrão que precisava para acabar com a procrastinação que estava me fazendo adiar tomar a nova vacina contra o herpes, a Shingrix, aprovada pela Administração de Alimentos e Medicamentos no último outubro, depois que estudos com 16,6 mil pessoas mostraram que ela era muito mais efetiva para prevenir a doença do que a primeira vacina, a Zostavax, que tomei uma década atrás. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomenda que pessoas de 50 anos ou mais, incluindo os que já foram imunizados com a Zostavax, tomem a nova vacina.

O processo foi surpreendentemente simples e menos custoso do que previ (o preço é US$ 280 para a vacina de duas doses, sem o seguro). Tudo de que precisei foi uma receita do meu médico. Tomei a vacina na farmácia, administrada pelo farmacêutico. Vou receber a segunda dose da mesma maneira em maio. Meu plano de saúde, Medicare Part D, cobriu o custo com uma coparticipação de US$ 40 para cada parte (o preço pode ser maior se a vacina for administrada em um consultório médico, então é bom checar primeiro).

Muitos milhões de americanos, especialmente aqueles com mais de 40 anos, estão suscetíveis a um ataque de herpes, causado pelo mesmo vírus responsável pela catapora. Assim que o Varicella zoster infecta a pessoa, fica dormente por décadas nas raízes de nervos, pronto para atacar quando o sistema imunológico estiver enfraquecido, por exemplo, por estresse, medicamentos, traumas ou doenças. Um terço dos norte-americanos acaba tendo herpes, mas o risco aumenta com a idade e, aos 85 anos, metade dos adultos terá passado por pelo menos um surto de herpes.

Muitos milhões de americanos, especialmente aqueles com mais de 40 anos, estão suscetíveis a um ataque de herpes

Antes do lançamento da vacina de catapora nos Estados Unidos, em 1995, cerca de 4 milhões de casos da doença, a maioria em crianças, acontecia por ano. Apesar de você não se lembrar se teve catapora quando era criança, existe uma grande chance de que nunca tenha sido vacinado contra a doença (a vacina contra a catapora normalmente é dada em duas doses, com a primeira recomendada entre as idades de 12 e 15 meses e a segunda entre 4 e 6 anos. Aqueles que têm 13 anos ou mais, que nunca foram vacinados e não tiveram catapora devem tomar as duas doses da vacina, deixando um intervalo de pelo menos quatro semanas entre elas).

Estudos indicam que mais 99% dos americanos com 40 anos ou mais tiveram catapora apesar de não se recordarem, segundo a doutora Rosanne M. Leipzig, geriatra da Escola de Medicina Icahn, de Mount Sinai, em Nova York. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças recomenda que as pessoas com 50 anos ou mais tomem a nova vacina contra herpes independentemente de se lembrarem ou não de ter tido catapora na infância.

Aqueles que nunca tiveram catapora, mas tomaram a vacina para essa doença, podem estar suscetíveis ao herpes porque a vacina contém um vírus vivo enfraquecido. Mas o risco de passar por um surto de herpes para aqueles que tomaram a vacina de catapora é muito mais baixo do que para as pessoas que tiveram a infecção natural.

Se você não tem certeza sobre seu histórico de doença ou de vacinação, pode passar por um exame de sangue para checar sua imunidade à catapora, embora o resultado não faça distinção entre a proteção por meio da doença ou da vacina. Assim, se o resultado for positivo, Leipzig diz que seria sensato tomar a vacina contra o herpes porque você pode estar abrigando o vírus vivo.

Para que não restem dúvidas sobre o valor dessa vacina, considere os efeitos do herpes. A doença se caracteriza pela infecção dolorosa de um único nervo sensorial em um lado do corpo que pode acontecer quase em qualquer lugar, mas é mais comum no tronco ou na face. Os sintomas iniciais são um formigamento ou uma queimação que em dias se transforma em uma erupção irregular com bolhas muito dolorosas.

Leia também: Por que não vacinar contra a epidemia de dengue? (artigo de Luciano Ducci, publicado em 21/04/2016)

Da mesma autora: Um pouco mais de atenção à ciência pode resolver muitos problemas (24 de março de 2018)

As bolhas cicatrizam em uma ou duas semanas e formam crostas duras que acabam caindo. Para cerca de 15% das pessoas, porém, o surto de herpes não acaba aqui. Em vez disso, deixa-os com uma dor profunda e intensa no nervo – chamada pós-neuralgia herpética, ou PHN (na sigla em inglês para postherpetic neuralgia) – que pode durar meses ou anos e não tem tratamento ou cura. Mais da metade dos casos de PHN afetam pessoas com mais de 60 anos. Outras complicações possíveis do herpes incluem pneumonia, problemas de audição, cegueira e encefalite.

E isso não é tudo. Embora a maioria das pessoas passe por apenas um ataque de herpes na vida, ele pode acontecer de novo, especialmente se o paciente estiver com o sistema imunológico enfraquecido, algo muito comum na idade avançada.

Com sorte, a pessoa pode detectar o início do herpes antes que as erupções apareçam. Anos atrás, quando me deitei com o que parecia ser uma irritação que havia durado o dia inteiro em um lado das costas, acordei no meio da noite com o pensamento “estou com herpes”. A primeira coisa que fiz na manhã seguinte foi conseguir uma receita para o antiviral aciclovir, que interrompeu o progresso da doença.

Com sorte, a pessoa pode detectar o início do herpes antes que as erupções apareçam

Sem querer confiar na sorte uma segunda vez, tomei a nova vacina. Veja como ela pode ser comparada com sua predecessora, a Zostavax, que no geral reduz o risco de herpes em 51% e de PHN em 67%: segundo o CDC, o Shingrix é capaz de proteger 97% das pessoas com idades entre 50 e 69 anos, inclusive, e 91% daqueles com 70 a 89 anos, inclusive. Ela também reduz o risco de PHN em 86% e parece durar mais do que a Zostavax, que começa a perder a proteção depois de três anos.

O que torna a Shingrix muito melhor é a inclusão de uma substância chamada adjuvante que estimula a resposta imunológica do corpo à vacina. Outra diferença é que a Zostavax contém um vírus vivo enfraquecido, o que a torna inadequada para pessoas com imunidade baixa, enquanto a Shingrix tem uma partícula viral não viva e pode eventualmente ser aprovada para aqueles que estão com o sistema imunológico comprometido e que são especialmente suscetíveis a casos severos de herpes.

Eu devo dizer, porém, que a nova vacina não é exatamente um passeio no parque. A injeção em si é dolorosa e pode deixar o braço doído por um dia ou dois. Algumas pessoas desenvolvem efeitos colaterais relacionados ao sistema imunológico como dores de cabeça, febre ou dor de estômago que duram menos de três dias, segundo o fabricante, a GlaxoSmithKline. Minha única reação além de uma dor no local, porém, foi uma acidez no estômago que durou um ou dois dias.

Jane E. Brody é colunista de saúde pessoal do “The New York Times” desde 1976.
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